O conflito enfraqueceu, mas os efeitos permanecem: por que ainda devemos observar o embate entre Irã, Israel e EUA

Fonte: Redação

O recente confronto entre Irã, Israel e Estados Unidos, que ganhou destaque internacional no final de junho, já apresenta sinais de enfraquecimento nas frentes militares. No entanto, como ocorre em toda crise internacional dessa magnitude, os desdobramentos não se limitam ao cessar das hostilidades. Pelo contrário: os danos estruturais, os rearranjos diplomáticos e as incertezas econômicas permanecem como legados duradouros.

O ponto de inflexão do conflito ocorreu com o ataque direto dos Estados Unidos ao território iraniano, elevando significativamente o nível da disputa e ameaçando a estabilidade regional no Oriente Médio. Embora a possibilidade de uma escalada generalizada tenha diminuído, os riscos geopolíticos e econômicos seguem no radar das principais potências globais — especialmente em um mundo já marcado por tensões comerciais, desaceleração econômica e disputas por influência.

Entre as maiores preocupações internacionais está a possibilidade de um novo choque no mercado de petróleo. O Irã, ao ameaçar bloquear o estreito de Ormuz — por onde passa cerca de 20% da produção mundial de petróleo —, trouxe à tona o temor de uma nova onda inflacionária global. Ainda que especialistas avaliem essa medida como improvável, o simples fato de ela estar sobre a mesa já gera instabilidade nos mercados e incertezas nas cadeias logísticas.

A história ajuda a dimensionar o impacto de conflitos desse tipo. Os choques do petróleo de 1973 e 1979, causados por guerras no Oriente Médio, geraram inflação generalizada, crise econômica e mudanças profundas nas políticas econômicas mundiais. No Brasil, foram um dos fatores que levaram ao endividamento externo, cujas consequências se estenderam por décadas. Hoje, embora o cenário seja menos extremo, a possibilidade de efeitos inflacionários continua sendo uma preocupação real.

Outro aspecto que merece atenção é o papel dos Estados Unidos. A participação direta do país no conflito marca um redimensionamento na política externa norte-americana, especialmente sob a liderança de Donald Trump. Eleito com um discurso isolacionista, Trump tem enfrentado críticas internas por adotar posturas mais agressivas em política internacional — o que pode afetar sua base eleitoral e ampliar a polarização doméstica.

A situação também acende alertas sobre o equilíbrio de forças globais. Enquanto o Irã mantém alianças estratégicas com Rússia e China, a entrada desses países no conflito de forma direta é considerada improvável. A Rússia está imersa na guerra contra a Ucrânia e enfrenta limitações econômicas e militares. Já a China, embora mantenha laços com o Irã, evita confrontos diretos com os Estados Unidos, temendo retaliações que afetem seu papel no comércio global.

Ainda assim, a aproximação diplomática entre China, Rússia e países com histórico de atrito com o Ocidente aponta para uma reconfiguração da ordem global. O mundo caminha para uma realidade mais multipolar, em que diferentes potências disputam influência em cenários regionais, o que tende a aumentar a frequência de conflitos localizados, como o atual embate entre Irã e Israel.

Nesse contexto, os conflitos deixam de ser eventos isolados e passam a ser peças de um jogo maior de reposicionamento estratégico. A redução da hegemonia dos EUA em certas regiões e o avanço de novas potências criam lacunas de poder que tornam o ambiente geopolítico instável. , ainda que permaneça improvável um conflito em escala global.

Portanto, ainda que uma “Terceira Guerra Mundial” esteja fora do horizonte, não se pode considerar o episódio encerrado. Os danos institucionais, os abalos nas relações diplomáticas e a imprevisibilidade nos mercados exigem atenção constante. Em um mundo hiperconectado, mesmo tensões regionais têm o poder de gerar ondas de impacto internacional.

A relevância do conflito entre Irã, Israel e EUA não está apenas nos bombardeios ou nas movimentações militares, mas nas suas consequências sutis. Taxas de juros, inflação, preço dos combustíveis, decisões eleitorais e acordos comerciais são todos elementos influenciados por essa nova geopolítica em construção.

A experiência histórica indica que, mesmo quando os tiros cessam, as guerras continuam moldando o futuro. No caso do Oriente Médio, os traumas e os redimensionamentos causados por cada confronto ultrapassam fronteiras e décadas. E é por isso que, mesmo em aparente calmaria, o mundo segue em alerta.

Compartilhe:

WhatsApp
Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
Telegram
+ Relacionadas