Quem assina o Globoplay poderá, a partir de agora, acompanhar o reality BBB 2024 por meio de uma câmera controlada por inteligência artificial (IA), que seguirá o líder da casa o tempo todo. Paulo Rabello, diretor do hub de operações de conteúdo da Globo, afirmou recentemente que a emissora está trabalhando com muita tecnologia para essa edição do programa.
Rabello explicou que a cada edição do BBB toda essa infraestrutura tecnológica é revisitada, devido às inovações exigidas pelo formato e ao volume enorme de interação com o público.
Com a chegada da IA nos bastidores da produção do programa, a Globo avança no consumo de entretenimento por meio de novas tecnologias. Para Rabello, a chave do sucesso está na prototipação e testes. O importante, diz ele, é entregar aquilo que o consumidor está buscando e entender até que ponto se pode inovar sem comprometer a entrega final para o público.
IA na indústria do entretenimento
A IA generativa vem avançando em diversos setores e transformando a experiência do cliente. Na indústria do entretenimento ela vem sendo cada vez mais utilizada. A Warner Music foi uma das pioneiras a fazer um contrato uma companhia que usa algoritmos para criar playlists personalizadas de música ambiente – a Endel.
Uma famosa revista japonesa produzirá o primeiro HQ ao estilo de Osamu Tezuka (1928-1989), o mais famoso ilustrador de mangá do mundo (estilo de desenho japonês). O material foi autorizado pela família do artista e a IA terá como desafio emular a narrativa e a arte ao estilo de Tezuka.
Uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, Kiss, anunciou sua aposentadoria, mas, continuará realizando shows com imagens construídas por IA e projetadas em 3D em palcos mundo afora. Uma tendência para artistas ainda vivos, ou que já faleceram, terem a possibilidade de explorar comercialmente sua imagem e obra por tempo indeterminado.
Roteiros de séries, filmes, campanhas publicitárias e muito conteúdo já estão sendo criados por IA. São apenas alguns exemplos do universo enorme dessa tecnologia na produção de entretenimento. Sem falar nas inúmeras ferramentas e aplicativos disponíveis ao usuário comum para a criação de suas próprias músicas, artes gráficas etc.
Em um mercado de consumo cada vez mais orientado por algoritmos, é inevitável a integração cada vez maior da IA nessa indústria. Em todas as épocas, vivemos uma “era de transformações”. Essa revolução chegou novamente com a IA, mas não é de agora. Pesquisas e capacitação a fim de otimizar a aplicação de máquinas e robôs para a produção vem sendo praticados há anos. Pioneiros como Alan Turing, na década de 50, abriram múltiplas possibilidades para inteligência computacional ocupar o espaço que ela ocupa hoje.
IA estabelece dois grandes desafios
IA vai se tornar um termo tão conhecido e popular quanto é a Internet. Por outro lado, essa tecnologia gera conflitos sobre direitos autorias e embates no mercado de trabalho. Profissionais da indústria da comunicação e dubladores, por exemplo, já se preocupam com os avanços da IA. Na China, a apresentadora Ren Xiarong estreou no “People’s Daily” como a primeira âncora de telejornal criada por IA para a transmissão de notícias. Especialistas ressaltam que a IA claramente tomará alguns postos de trabalho, por outro lado, ela também criará novas funções.
Há dois grandes desafios aqui: aprendermos a utilizar a IA como uma ferramenta para produção mais eficiente e ágil e termos uma noção clara da necessidade de uma construção de apoio aos profissionais que terão parte (ou todo) seu trabalho automatizado. Pessoas necessitarão adquirir novos conhecimentos e habilidades para seguirem evoluindo dentro dessa nova realidade tecnológica da indústria.
Tudo muito novo e especulativo? Talvez. O fato é que a inteligência artificial tornará a produção humana um item “premium” para a indústria de entretenimento. A genialidade de alguns autores, artistas, designers, diretores etc dificilmente será copiada. Quando isso ocorrer – e já ocorre, sem concessão – veremos embates calorosos sobre direito autorais.
Entretanto, quando essa mesma IA for “alimentada” por esses criadores, sim, então poderemos ter um salto qualitativo da inteligência artificial na criação artística e na produção de entretenimento, e o mercado certamente vai se tornando mais competitivo com toda essa evolução.
Voltando ao uso de câmeras controladas por IA em reality shows, essa evolução é mais um exemplo deste processo de adoção e uso intenso da automação tecnológica na produção do entretenimento. Para o público e para o conceito do programa BBB pouco coisa muda, o seu artista ainda está lá, em carne e osso sendo o protagonista do show.