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Startup usa onda sonoras para “salvar” precioso líquido do tomate – NeoFeed

Fonte: Karina Pastore

“Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” Do final do século 18, a frase do químico francês Antoine-Laurent Lavoisier sobre o princípio da conservação da massa se encaixa com perfeição à urgência climática da contemporaneidade. Agora, porém, com uma nova roupagem – a da economia circular.

Para fazer valer a máxima da versão 4.0 de Lavoisier, o empreendedor inglês Matteo Turi recorre à tecnologia ultrassônica. Sua empresa, a Letoon Holding, fundada em junho de 2023, busca o aproveitamento dos restos da indústria alimentícia como fonte de produtos de alto valor.

Existem várias formas de extração de ingredientes bioativos de matrizes vegetais. “O ultrassom se destaca por ser uma técnica verde, com tempo reduzido, menor consumo de energia, maior rendimento de produção e com maior preservação da bioatividade dos compostos”, lê-se no artigo Atividade antioxidante e a extração por ultrassom: uma revisão, elaborado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O sistema funciona à base de ondas sonoras de alta frequência para provocar vibrações intensas em pastas de tecidos vegetais. Essas trepidações perturbam a estrutura celular do material, liberando os compostos bioativos.

Por enquanto, o foco da Letoon está na recuperação do licopeno dos resíduos de tomate. Responsável pela cor avermelhada da fruta, a substância tem propriedades antioxidantes. Ou seja, ajuda a impedir e reparar os danos às células, causados pelos radicais livres, as moléculas liberadas naturalmente durante a atividade metabólica do organismo, associadas ao envelhecimento celular e, portanto, ao aumento no risco de doenças degenerativas.

Na indústria alimentícia, globalmente, o tomate é tido como o principal e o mais versátil dos vegetais, com uma produção anual estimada em cerca de 187 milhões de toneladas. A fruta é utilizada na fabricação de diversos produtos, seja in natura ou processados, como enlatados, molhos, ketchup, pasta e suco, entre outros.

Com o aumento da consciência dos consumidores sobre a importância de dietas equilibradas, cresce também a demanda por alimentos de origem vegetal. A área de cultivo de tomate em todo o mundo aumentou de 4,8 milhões de hectares para cerca de 5,1 milhões, em apenas quatro anos, entre 2016 e 2020, informa a consultoria Mordor Intelligence.

Matteo Turi fundou a Letoon Holding em junho de 2023 (Foto: reprodução LinkedIn)

Outro fator de incremento na produção da fruta é o aperfeiçoamento tecnológico das fazendas indoor. O mercado global deve fechar 2023 em quase US$ 198 bilhões e crescer a uma taxa anual composta (CAGR) de 4,76% até 2028, quando está previsto atingir US$ 249,53 bilhões.

O aumento na produção e consumo resulta naturalmente na geração de quantidades cada vez maiores de resíduos sólidos. Um “lixo” valioso, rico em licopeno. Com aplicações nas indústrias de alimentos funcionais, farmacêutica e até cosmética, o nutriente deve movimentar US$ 187,3 milhões, até 2030, em todo o mundo.

Em 2020, foram US$ 107,2 milhões. Ou seja, o ritmo de avanço dos negócios em torno do licopeno, com um CAGR de 5,2%, supera o do próprio tomate, avaliam os analistas da Allied Market Research..

Não à toa, a Letoon, em menos de seis meses desde a sua fundação, fechou um acordo de growth equity de £ 20 milhões com a Nimbus Capital. O CEO Turi pretende fazer o IPO até setembro de 2024.

Em tempos de sufocamento do planeta, a gestão dos resíduos da indústria alimentícia faz-se urgente. Afinal, são 1,3 bilhão de toneladas de comida postas fora todos os anos, o equivalente a um terço da produção global. O impacto ambiental do desperdício é enorme, seja em emissões de gases de efeito estufa seja no consumo de recursos naturais.

Os tomates cereja são cultivado na planta Myochi
Os avanços da agricultura indoor ajudam a aumentar a produção global de tomates (Foto: fazenda vertical da Toyota)

A adoção dos princípios da circularidade é uma das saídas possíveis. E vários inovadores do ecossistema agroalimentar têm buscado soluções nessa área. A biotech americana Hyfé, por exemplo, transforma os efluentes açucarados da indústria alimentícia em matéria-prima para as empresas dedicadas à fermentação de precisão.

Outra estratégia que ganha espaço, inclusive na agenda dos capitalista de risco, é a do upcycling. Nos últimos cinco anos, segundo a consultoria Innova Market Research, as comidas e bebidas feitas a partir de alimentos reaproveitados cresceu 122%.

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