As ações da Sabesp (SBSP3) registram queda no Ibovespa nesta quinta-feira (2), véspera da votação da adesão ao projeto de privatização da companhia de saneamento na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo). O mercado financeiro não recebeu o marco regulatório da empresa, documento que define contratos de subsidiárias após a privatização, de braços abertos.
Em relatório, o Itaú BBA afirma que o marco regulatório da Sabesp trouxe “sentimentos mistos” sobre os próximos passos da privatização da companhia. Se, de um lado, o banco elogia o modelo de desconto de contratos de municípios com a Sabesp com limite de R$ 300 milhões nos primeiros quatro anos de contratos, do outro, a companhia adotou um modelo de retenção de ganhos de eficiência que decepcionou analistas.
Ainda assim, vale a pena investir nas ações da Sabesp (SBSP3)?
A ação da Sabesp (SBSP3), por enquanto, está caindo no Ibovespa. O papel da companhia de saneamento se recuperou de um tombo inicial de 2%, e atualmente tem perda de 0,68% no índice.
Ontem, a privatização da Sabesp avançou um passo com a aprovação do marco regulatório de contratos com municípios. O documento acrescentou 50% das sugestões recebidas, segundo o governo de São Paulo.
Para o Itaú BBA, contudo, a proposta final de marco regulatório trouxe “sentimento misto”. Em primeiro lugar, elenca o banco, porque traz pontos positivos no contrato da Sabesp com entes municipais.
Mas o ponto negativo, segundo analistas, foi no repasse de eficiência no reajuste das tarifas de saneamento.
O marco estabelece que, a cada cinco anos, a Sabesp entra em ciclos de reajustes tarifários. O valor deve sofrer reajuste atualizado pela inflação (IPCA) acumulada do ciclo anterior, menos o custo de investimento na operação (Opex). A partir de 2030, entra no cálculo o desconto do chamado “fator X”.
O “fator X” representa ganhos de eficiência de produção da Sabesp.
Em relatório, o time de analistas do Itaú BBA de Utillities, liderado por Marcelo de Sá, explica porque o mercado não recebeu tão bem o documento, refletindo em queda das ações da Sabesp (SBSP3).
Analistas afirmam que a proporção de repasse dos ganhos de eficiência da Sabesp a municípios ficou “para além da expectativa do mercado”.
No modelo do banco, era esperado um compartilhamento de 50% do ganho de custo operacional com clientes a partir de 2030, ou o segundo ciclo tarifário. O marco regulatório, contudo, prevê a retenção de 100% do valor pela Sabesp nos primeiros 5 anos, chegando a 90% no quarto ciclo.
“É uma proporção acima do esperado no compartilhamento de eficiência com consumidores”, diz o Itaú BBA.
Reajuste de tarifa também decepciona Itaú BBA
Uma das principais “surpresas negativas” para a Sabesp (SBSP3) e suas ações elencadas por analistas no marco regulatório envolve o chamado “fator X”.
O “fator X”, de acordo com o marco regulatório, define o repasse dos eficiência operacional da Sabesp a cada ciclo tarifário, a partir de “inovações tecnológicas”. A taxa fará parte do reajuste tarifário anual feito pela companhia, sendo um dos fatores que consumidores devem sentir nas contas de água a cada ano.
O percentual definido como “fator X” pela Sabesp (SBSP3) no primeiro ciclo será de 0,90%, ao contrário das expectativas dos analistas do Itaú BBA. O time de Marcelo Sá esperava uma taxa de 0,20%.
“Nos primeiros dois ciclos, o ‘fator X’ será aplicado ao custo operacional da Sabesp”, explica a equipe.
“A partir de 2035 (terceiro ciclo) o valor será descontado diretamente da tarifa. A magnitude da taxa no primeiro ciclo (0,90%) foi uma surpresa negativa”, conclui em relatório.
Vale a pena investir nas ações da Sabesp (SBSP3)?
Na visão de analistas, mesmo assim, as ações da companhia ainda apresentam uma oportunidade de compra para o investidor.
Em relatório, a XP Investimentos afirma “ver potencial em uma Sabesp privatizada”. Isso porque as regras de despesa operacional da empresa e a baixa inadimplência devem destravar valor ao negócio.
“Tudo isto significa uma operação privada tem um grande potencial de criação de valor”, dizem os analistas Vladmir Pinto e Maíra Maldonado, da corretora. “Mantemos nossa recomendação de compra na Sabesp”.
Já Victor Luiz, sócio da corretora Planner, diz que “mantém uma visão construtiva” para a Sabesp após a privatização, citando “ganhos de eficiência e maior rentabilidade”.
O valor que o investidor pode extrair da Sabesp pós-privatização, segundo o especialista, é de 15% considerando uma oferta subsequente de ações. Luiz prevê, assim, uma “competição pelo maior preço e valor mínimo”.
“Nesse sentido, recomendamos cautela aos investidores, reiterando que vemos valor da companhia e mantemos uma visão construtiva para os resultados pós-privatização”. O sócio da Planner faz o alerta de que as ações da Sabesp subiram 88% nos últimos 12 meses.
Por fim, segundo a XP, o principal desafio da Sabesp é atingir a meta de universalização de saneamento do setor estabelecida pelo marco regulatório. A companhia estadual afirma que vai antecipar o cumprimento do objetivo de 99% da população com acesso à água potável em encanada para 2029.