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Esta empresa cria recipientes biodegradáveis à base de resíduos da indústria cervejeira para semeadura

Fonte: Redação

Depois de trilhar uma carreira executiva na área de engenharia, Cláudio Rocha Bastos, 75 anos, decidiu que queria mudar de rumo para fazer algo de impacto positivo no mundo. A solução foi empreender com um negócio com propósitos sustentáveis. Criou então um recipiente biodegradável para substituir o tubete de germinação de sementes.

A ideia surgiu depois que Bastos, que já tinha trabalhado com a produção de bioembalagens à base de mandioca, foi questionado por uma empresa de celulose se os copos feitos com mandioca poderiam ser usados como substituto do tubete. Em formato cônico e geralmente feito de plástico, o tubete é um item usado para facilitar plantações em viveiros.

“Depois de ser apresentado ao tubete e ser questionado sobre alternativas ao plástico, fiquei com uma pulga atrás da orelha e decidi enfrentar o desafio de adequar o tempo de biodegradação da embalagem ao tempo de germinação da semente”, conta Bastos.

Assim, em 2018, o empreendedor fundou a TOCO, empresa destinada ao desenvolvimento de uma tecnologia capaz de transformar um passivo ambiental em um ativo financeiro. De início, Bastos testou recipientes de coco e mandioca, mas foi depois de conversar com empresas da indústria cervejeira que achou um resíduo que reunia qualidade, baixo custo e disponibilidade: o bagaço do malte.

Depois de pesquisar e experimentar o material, o empresário descobriu que o bagaço do malte é rico em nitrogênio e fósforo, o que leva as plantas a crescerem mais se comparadas às mesmas condições com o tubete de plástico.

O desenvolvimento do produto, nomeado de BioTOCO, durou seis anos. Ao longo do tempo, foram realizados pesquisas e testes dos recipientes em diversos viveiros do Brasil, como Vale, Suzano e SOS Mata Atlântica. Além da busca por adequar o tempo de biodegradação do material, a empresa também buscou desenvolver um produto que resolvesse outras potenciais dores dos clientes, como a semeadura direta como alternativa ao sistema em viveiro e a redução de mão de obra no plantio, ao permitir que o recipiente seja plantado junto com a muda.

Motivado a criar um produto sustentável em todas as faces, Bastos investiu em pesquisas para que o BioTOCO também atuasse no sequestro de carbono. “Quando enterrado no solo, esse material orgânico, o bagaço de malte, é qualificado como ‘carbono enterrado’, ou seja, um fato gerador de crédito de carbono. Assim, os recipientes podem contribuir para a redução da pegada de carbono”, aponta o empreendedor. De acordo com Bastos, os testes apontaram que, para cada área de 100 hectares plantada, evita-se a emissão de 2,8 toneladas de CO2.

Rumo à comercialização

Em 2023, já com a patente da solução e com o aval de uso da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e da Universidade Rural Federal do Rio de Janeiro, a empresa decidiu buscar um aporte a fim de conquistar capital suficiente para investir no maquinário para produção em maior escala. Até então, o negócio se dedicava apenas a PD&I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação).

“Eu decidi bancar a empresa como pessoa física por, pelo menos, mais dois anos. Porém, precisávamos de capital de giro suficiente para montar a máquina que produzirá o BioTOCO. Apesar de ter sido difícil conquistar o mercado, por ainda não termos número de vendas, conseguimos o capital de R$ 2 milhões, exatamente o mínimo necessário para montagem do maquinário”, explica Bastos.

De acordo com o empreendedor, a máquina tem um custo elevado por não ser encontrada pronta e, assim, depender de um conjunto de peças que devem ser compradas separadamente e montadas depois para permitir a produção. A projeção é que o primeiro maquinário esteja pronto já em abril deste ano, quando a produção já será iniciada.

Após o início da comercialização, a empresa vai apostar na terceirização da produção para um sistema de franquia industrial. “Nós visamos reduzir a pegada de carbono, então, não faria sentido apostar em transportes poluentes para buscar matéria prima e para depois distribuir os produtos a todas as regiões do Brasil. Como existem fábricas de cerveja em todas as regiões do País, franquearemos o negócio para que cada um escolha seu fornecedor”, explica Bastos.

Segundo o empresário, a produção de cerveja, independentemente da variação da bebida, gera o mesmo tipo de resíduo, já que o bagaço de malta é um material de baixa variação. Assim, o insumo fica acessível para os franqueados optarem pelos fornecedores de sua escolha.

Com o início da comercialização do BioTOCO em abril deste ano, a empresa projeta fechar 2024 já com o fluxo de caixa equilibrado. O plano para expansão das franquias industriais ainda está em desenvolvimento.

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