Atrair talentos é um dos fatores essenciais para construir um negócio de sucesso. Para isso, é importante pensar além da remuneração e dos benefícios obrigatórios. Oferecer atrativos adicionais pode ser uma estratégia eficaz para garantir uma boa gestão de pessoas — e eles não precisam pesar no orçamento do negócio.
Segundo especialistas, para um planejamento eficaz, o mais importante é olhar não para o que a empresa considera atrativo, mas sim para os verdadeiros interesses dos atuais e potenciais colaboradores.
Lupércio Aparecido Rizzo, coordenador do curso de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos do Centro Universitário Senac, explica, por exemplo, que pode haver diferenças nas demandas de cada geração. Por isso, é necessário entender o perfil dos colaboradores e adaptar a estratégia de acordo com cada público.
“Cabe às empresas, por meio das pesquisas de satisfação ou de clima organizacional, encontrar a melhor forma de implementar o seu programa de benefícios e alcançar os resultados desejados”, complementa Nayara Cardoso, professora de Recursos Humanos da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio.
Seguindo uma onda que vem desde o final da pandemia, os especialistas sugerem que, para 2024, a grande tendência será de benefícios corporativos voltados ao bem-estar. A seguir, saiba quais são as principais apostas para esse ano, como se planejar financeiramente para oferecê-los e como eles podem ajudar na gestão de pessoas.
Busca por bem-estar guia as tendências para 2024
De acordo com a 31ª Pesquisa de Benefícios Corporativos da Mercer Marsh, empresa global de gerenciamento de riscos, estratégias e pessoas, que analisou 850 empresas de diferentes regiões do Brasil, organizações brasileiras têm se movimentado para entregar benefícios que visem proporcionar cada vez mais bem-estar aos colaboradores.
Nesse contexto, Valéria Oliveira, especialista em educação corporativa da HSM, aponta que os benefícios corporativos que ajudam na promoção de mais qualidade de vida serão as principais tendências do ano e devem permanecer no radar dos empregadores.
De acordo com Rizzo, o modelo de trabalho é o primeiro aspecto que deve ser analisado pelas empresas em 2024. O coordenador do curso de RH do Senac ressalta que a demanda pelo trabalho remoto ou híbrido já vem se consolidando e, por isso, é um benefício com grande potencial de atrair e manter colaboradores.
Segundo o levantamento da Mercer Marsh, 84% das organizações que retomaram o trabalho presencial após a pandemia mantiveram o trabalho híbrido, com dois ou três dias à distância por semana. A adoção do modelo de trabalho híbrido seria uma resposta à demanda dos colaboradores, em um cenário em que 74% acreditam que as empresas serão mais bem sucedidas com o trabalho à distância.
Oliveira destaca que, para empresas de pequeno e médio porte, esses modelos podem ser ainda mais atrativos, uma vez que atraem talentos ao mesmo tempo que não trazem grandes impactos no planejamento financeiro do negócio.
Seguindo a busca por bem-estar, outra tendência para este ano é a oferta de horários de trabalho mais flexíveis. Para Rizzo, a flexibilidade de horário é um benefício que pode atrair diferentes perfis de profissionais e já é vista como um grande diferencial, sobretudo para as gerações mais novas.
A terceira aposta dos especialistas são os benefícios mais diretamente ligados à saúde física e mental. Benefícios como incentivos para academias, terapias, apoio psicológico, auxílio farmácia, educação alimentar com orientação de profissionais, consciência corporal e ergonomia são alguns exemplos sugeridos por Cardoso. Segundo a professora, a empresa pode pensar em diferentes opções que tenham como objetivo colaborar com o bem-estar geral dos funcionários.
Como incorporar os benefícios no planejamento financeiro
Assim como qualquer outra despesa, todos os benefícios corporativos devem entrar no planejamento financeiro da empresa. “As empresas precisam analisar sua realidade, entender as expectativas dos colaboradores e definir os benefícios desejados. Dessa forma, planejar o orçamento necessário para colocar as ações em prática”, aponta Oliveira.
De acordo com a especialista, para começar, é importante mensurar o total de benefícios que já são oferecidos pela empresa — obrigatórios ou não — e avaliar possíveis mudanças ou inclusões. “Depois, é importante avaliar a resposta das pessoas em relação aos benefícios para analisar se o valor investido está de acordo com o retorno”, ressalta.
Além disso, Rizzo avalia que, quanto mais antecipado for o planejamento, maiores são as chances de sucesso. “Não se planejar é se planejar para o fracasso”, afirma. Nesse sentido, os especialistas indicam que os benefícios corporativos devem entrar no orçamento da empresa já no início do ano. Assim, todos os gastos previstos eles já devem ser calculados e pensados como uma saída do caixa.
Segundo Cardoso, até mesmo os benefícios que a empresa planeja oferecer no final do ano, como cestas de natal e bonificações adicionais, já devem ser encarados como uma questão orçamentária desde janeiro. Os benefícios atrelados ao cumprimento de metas também devem entrar na conta. Nesse caso, a empresa deve traçar todos os cenários possíveis e manter um plano adequado para cada um deles.
Os especialistas ainda ressaltam que, neste contexto de busca por bem-estar, é possível optar por benefícios que não comprometam o orçamento das empresas, e PMEs podem — e devem — considerá-los em sua estratégia de gestão. A oferta de horários de trabalho flexíveis e regimes de trabalho à distância, que valorizam o capital humano, são alguns exemplos.
O papel dos benefícios na gestão de pessoas
“Cada vez mais os trabalhadores criam âncoras e não raízes, ou seja, estão aqui agora, mas facilmente vão embora para outros lugares”, afirma Rizzo. Nesse cenário, manter os talentos na empresa exige que os gestores considerem as demandas dos colaboradores e as atendam por meio dos benefícios. “Não se trata de reter [os talentos], como se diz comumente, afinal, reter parece algo limitador ou autoritário. Trata-se de criar condições atraentes para que os profissionais queiram ficar na empresa”, aponta.
Para Cardoso, um programa de benefícios aplicado de modo estratégico pode ser uma excelente forma de engajar os melhores profissionais do mercado. “A gestão de benefícios corporativos está diretamente relacionada à área de gestão de pessoas e impacta nos programas de atração e retenção de talentos, remuneração, qualidade de vida e qualidade de vida no trabalho”, conclui a professora.