A política de crédito e cobrança é um tema essencial tanto para consumidores quanto para empresas, especialmente em um cenário econômico de constante evolução. As recentes mudanças e regulamentações nesse setor impactam diretamente o acesso ao crédito e as condições de cobrança.
Para entender melhor esses aspectos, a Consumidor Moderno traz entrevistas exclusivas com Ronaldo Bach, advogado, consultor e professor de Direito da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília (FPMB), e Pedro Bispo, consultor em Governança Empresarial e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Os efeitos da política de crédito e cobrança nas relações de consumo
Ronaldo Bach explica que as recentes normas protetivas direcionadas à proteção de quem toma dinheiro emprestado têm um impacto significativo na concessão de crédito e nas práticas de cobrança. “Hoje, há um teto de juros do rotativo do cartão de crédito, que não pode superar o valor da dívida original”, destaca. “O Conselho Monetário Nacional (CMN) ainda regulamentou a portabilidade de dívidas de cartão de crédito para outras instituições, e prevê maior transparência e educação financeira para o consumidor”.
Para os consumidores, especialmente os superendividados, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) foi alterado em 2021 para incluir a prevenção e tratamento do superendividamento. “A educação financeira e a prevenção e tratamento do superendividamento são ressaltados como formas de evitar a exclusão social do consumidor nas relações de consumo”, completa o professor.
Pedro Bispo complementa essa visão, apontando que as mudanças nas políticas de concessão de crédito geram incertezas e elevam as taxas de juros. “Os bancos adotam diferentes estratégias para captação e aplicação de recursos, e a maior ou menor disponibilidade de recursos faz com que as taxas oscilem. Isso impacta diretamente os consumidores e pequenas empresas, dificultando o financiamento para o crescimento do negócio”, afirma.
Reflexos das mudanças na política de crédito e cobrança
Segundo Pedro Bispo, as alterações nas políticas de crédito resultam em elevação das taxas de juros, dificultando o acesso ao crédito para consumidores e pequenas empresas. Ele também menciona a incerteza decorrente das constantes mudanças nas políticas de concessão de crédito, que tornam o mercado mais volátil e inseguro.
Outro ponto trazido pelo especialista é o de que as instituições financeiras enfrentam o desafio de equilibrar a captação de recursos com a concessão de crédito, considerando o risco de inadimplência. Isso envolve oferecer taxas competitivas para captar recursos e, ao mesmo tempo, cobrar taxas que rentabilizam a intermediação financeira. A falta de uma política econômica e reguladora clara torna essa tarefa ainda mais desafiadora.
Bispo enfatiza a importância de os consumidores pesquisarem e compararem as condições oferecidas por diferentes instituições financeiras antes de contratar um empréstimo. Ele frisa a necessidade de os consumidores se protegerem contra práticas abusivas de cobrança, pesquisando as políticas de atendimento ao cliente de cada instituição.
Já Ronaldo Bach ressalta que a informação sobre direitos disponíveis e como implementá-los é essencial para os consumidores se protegerem contra práticas abusivas de cobrança. Ele também entende a importância da educação financeira e da conscientização sobre o superendividamento, oferecendo alternativas para os consumidores gerenciarem melhor suas finanças pessoais em um cenário de crédito em constante evolução.
Os desafios na gestão de crédito e cobrança
Volatilidade econômica e inadimplência
Para as instituições financeiras, o principal desafio na gestão de crédito e cobrança é minimizar a inadimplência enquanto oferecem taxas competitivas.
Ronaldo Bach aponta que a estrutura de análise de crédito, de cobrança e de pagamento são priorizadas e o grande obstáculo é a análise de diversas variáveis em tempo reduzido.
Pedro Bispo acrescenta que a falta de segurança em uma política econômica e reguladora robusta agrava esses desafios. “O maior desafio é oferecer a maior taxa possível para captar os recursos e cobrar a maior taxa possível para rentabilizar essa intermediação, considerando o risco de inadimplência crescente”, observa o consultor.
Crescimento sustentável e saúde financeira
Uma política de crédito consolidada é fundamental para o crescimento sustentável de uma empresa e a saúde financeira de seus clientes. “Com maior previsibilidade e educação financeira adequada, é possível o investimento em projetos elaborados, favorecendo todos os envolvidos”, explica Ronaldo Bach. Ele ressalta que políticas públicas de fomento ao crédito com educação financeira são essenciais para evitar o superendividamento.
Pedro Bispo também destaca a importância de uma política de crédito estável para o planejamento empresarial. “As constantes mudanças nessa política geram incertezas ainda maiores do que as inerentes ao próprio negócio”, reforça.
Inteligência Artificial e Big Data
O uso de tecnologias emergentes, como Inteligência Artificial (IA) e análise de Big Data, está transformando os processos de concessão de crédito e recuperação de dívidas.
Por isso, Ronaldo Bach coloca que informatizar os processos e utilizar ferramentas de IA e big data pode ajudar a racionalizar investimentos relativos à concessão de créditos e diminuir significativamente o tempo de espera necessário para a concessão racional de créditos.
Pedro Bispo concorda, dizendo que a concessão de crédito hoje é quase exclusivamente definida por tecnologia. “Os agentes financeiros se utilizam de scores para definir a concessão ou não do crédito, e a cobrança hoje é inteiramente eletrônica”, salienta.
Dicas aos consumidores
Para se proteger de práticas abusivas, entender a política de crédito e cobrança, e gerenciar melhor as finanças pessoais, é crucial que os consumidores se informem e pesquisem antes de tomar um empréstimo.
“A informação sobre direitos disponíveis e como implementá-los é essencial. A consciência da possibilidade de portabilidade de dívidas e antecipação de pagamentos evitando juros são aspectos importantes”, aconselha Ronaldo Bach.
Pedro Bispo reforça a importância da pesquisa e da escolha consciente das instituições financeiras. “Consultar as pesquisas de atendimento em relação à forma de cobrar de cada instituição pode evitar dissabores no caso de inadimplência”, sugere.
Ambos os especialistas concordam que a relação com instituições financeiras deve sempre ser precedida por pesquisa e verificação da regularidade dessas instituições junto ao Banco Central.
Além disso, é fundamental estar atento às políticas públicas e oportunidades de crédito subsidiado, que podem oferecer condições mais favoráveis para consumidores e empreendedores.