Em março, o número de beneficiários de planos de saúde apresentou um aumento de 1,9% em comparação com fevereiro de 2023. Agora, são quase 51 milhões de usuários de assistência médica e 32,2 milhões de clientes de planos exclusivamente odontológicos. Os dados são da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e estão na quarta edição do Boletim Panorama – Saúde Suplementar. A informação foi divulgada no dia 14 de maio e traz informações atualizadas sobre o setor de planos de saúde até o 4º trimestre de 2023.
O crescimento dos planos de saúde está ligado à geração de empregos. Vale ressaltar que o número de empregados no mercado formal de trabalho aumentou 3,5% no ano passado, de acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho.
O motivo do aumento dos planos de saúde
Segundo a ANS, o crescimento de 1,5% nos planos de assistência médica entre dezembro de 2022 e dezembro de 2023 deve-se principalmente aos planos coletivos empresariais, que cresceram 2,7%. Em contrapartida, os planos individuais e os coletivos por adesão apresentaram uma redução de 1,4% e 1,0%, respectivamente.
Anderson Mendes, presidente da União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (Unidas), comenta que o cenário de beneficiários não vem sofrendo muita alteração.
“Mas percebemos uma recuperação nos últimos três anos de beneficiários devido à pandemia da Covid-19, período atípico. É perceptível que as pessoas, por causa dessa época, julgam necessário ter um plano de saúde. Mas não é só: os consumidores almejam mais acesso ao serviço de saúde e à alta tecnologia, por conta da necessidade de Covid”, afirma Anderson.
Despesas em planos de saúde
No que diz respeito às despesas médias de eventos assistenciais, o Panorama – Saúde Suplementar mostra que as internações têm aumentado desde 2019. O procedimento registrou um aumento de cerca de 14% em 2023 em comparação com 2019. As despesas com consultas médicas e procedimentos especializados também apresentaram um acréscimo de 17% e 7%, respectivamente, em 2023.
Quanto à utilização do plano de saúde pelos beneficiários, observa-se que no quarto trimestre de 2023 o número de consultas médicas, internações e procedimentos odontológicos foi menor do que em 2019. As terapias ambulatoriais e outros atendimentos ambulatoriais mantiveram uma tendência de crescimento, porém ainda não ultrapassaram os índices observados antes da pandemia. Já os exames ambulatoriais continuaram aumentando em relação ao número de beneficiários, com um aumento de 11% no quarto trimestre de 2023 em comparação com 2019.
Utilização do SUS nos planos de saúde
Sobre a utilização da rede do Sistema Único de Saúde (SUS) pelos beneficiários de planos de saúde, nos últimos cinco anos cerca de 1,6% das internações anuais no SUS foram realizadas por pacientes cobertos por planos privados de saúde. Já os atendimentos ambulatoriais realizados no SUS totalizaram em média 26,2 milhões de procedimentos por ano, dos quais 4,3% foram identificados como sendo prestados a beneficiários de planos de saúde.
No cenário econômico-financeiro, observa-se que o setor de saúde suplementar tem apresentado resultados operacionais negativos desde o quarto trimestre de 2021, com um saldo negativo de R$ 5,9 bilhões em 2023. No entanto, os resultados financeiros influenciaram esses números, permitindo um resultado líquido positivo de R$ 1,9 bilhão.
Aumento de reclamações
No que diz respeito às demandas dos consumidores, houve um aumento constante das reclamações, sendo que 82,1% das demandas recebidas pela ANS em 2023 e 82% nos três primeiros meses de 2024 são relacionadas à assistência. Esse aumento de queixas motivou ações planejadas de fiscalização. Então, na quarta edição do Panorama, a ANS apresentou uma avaliação geral dessas ações, que foram iniciadas como projeto-piloto no segundo semestre de 2023.
No ano de 2023, foram selecionadas 11 operadoras e duas administradoras de benefícios para essas ações de fiscalização, sendo oito de grande porte (com mais de 100 mil beneficiários) e três de médio porte (com 20 mil e 100 mil beneficiários). De maneira geral, as operadoras selecionadas mostraram-se dispostas a dialogar e entenderam que essa era uma oportunidade para aprimorar como operam no mercado de saúde suplementar, apresentando planos de medidas para ajustes e melhorias visando a qualidade dos serviços prestados e a redução de reclamações junto à ANS.
Como é visto o crescimento?
Lucas Miglioli, sócio-fundador do escritório M3BS Advogados, enaltece que o crescimento é interessante por mostrar a confiança dos consumidores e dos beneficiários no sistema de saúde implementar. Ainda que haja um grande aumento da quantidade de reclamações, no fundo, há a população acredita no segmento de saúde suplementar.
Contudo, esse acréscimo de beneficiários, proveniente da geração de empregos, impõe alguns desafios às operadoras do plano de saúde. Em síntese, o principal obstáculo é o aumento da utilização dos serviços. Nas palavras de Lucas, ainda que não se tenha um adicionamento tão grande quanto existia antes da pandemia, a tendência é de aumento na utilização. “Com isso, as despesas assistenciais também terão adição, o que põe muita pressão no mercado em termos de sustentabilidade”.
Sistema mutualista
Ainda no parecer do advogado, membro da Comissão Permanente de Governança e Integridade da OAB/SP e da Comissão Especial de Compliance da OAB/SP, diante desse cenário, a gestão da operação em si, bem como a qualidade de atendimento, passam a ser cada vez mais relevantes. “O propósito é que os recursos, limitados, sejam usados de forma correta e assertiva, garantindo a saúde financeira do setor a longo prazo”.
Por fim, o especialista ressalta a importância dos próprios beneficiários entenderem não apenas os seus direitos, mas as suas responsabilidades dentro do setor. Principalmente diante de um elevado aumento de denúncias de fraudes que tem ocorrido. “É importante a consciência coletiva de que o plano de saúde nada mais é do que um sistema mutualista. Em outras palavras, os recursos de muitas pessoas acabam pagando a utilização daqueles que precisam”.
Planos odontológicos
O setor de planos odontológicos vem crescendo com vigor nos últimos anos. Só para ilustrar, nos últimos 12 meses, o aumento foi de 2,4 milhões de beneficiários. Ademais, em 3 estados, o número de beneficiários de planos odontológicos ultrapassou os de plano médico hospitalar.
Roberto Seme Cury, presidente da Associação Brasileira de Planos Odontológicos (Sinog), acredita que a taxa de expansão se dá graças ao ticket médio mensal. Hoje ela está em aproximadamente R$ 20,00. “Em síntese, é um valor que cabe no orçamento das empresas e de grande parte das famílias”.
Outro fator que contribui para a alavancagem do segmento é que as pessoas estão se preocupando mais com o bem-estar, qualidade de vida e prevenção. “Muitos países mantêm uma cultura forte de prevenção e alimentação saudável. Por consequência, o índice de cáries, tratamentos endodônticos (canal) e procedimentos de prótese tem caído drasticamente. E isso é ótimo já que os tratamentos preventivos são menos frequentes e menos custosos do que os tratamentos curativos”.