Empresas estatais, pelo menos as duas principais da Bolsa, têm motivos para comemorar o ano de 2023. As ações de Petrobras (PETR3;PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3) brilharam ao longo dos últimos 12 meses, sendo os destaques positivos em seus principais setores.
Enquanto o papel ordinário da petroleira avançou 73,9% no ano, o preferencial apontou salto de 94,3%. Já o bancão entregou ganhos de 73,8% e tomou o posto de maior alta no período entre nomes do setor financeiro.
Petrobras e Banco do Brasil conseguiram superar a volatilidade da Bolsa em um ano marcado por juros elevados ao redor do mundo, tensões geopolíticas e, principalmente, incertezas quanto ao rumo das conversas na esfera política em pleno início de mais um mandato de Lula.
Petrobras: Quando os fatos surpreendem as expectativas mais pessimistas
As ações da Petrobras enfrentaram uma onda de aversão com a vitória de Lula nas eleições presidenciais de 2022, visto que o presidente, ainda como candidato, já havia sinalizado intenção de realizar mudanças dentro da companhia.
As principais preocupações dos investidores estavam relacionadas a mudanças nas políticas de precificação de combustíveis e dividendos da Petrobras.
No fim, as mudanças vieram melhores que o impacto esperado pelo mercado, especialmente no que diz respeito à remuneração aos acionistas.
A política revisada da Petrobras passa a considerar distribuição de 45% do seu fluxo livre de caixa em dividendos, ante pagamento de 60%.
Analistas do Goldman Sachs e do Santander, por exemplo, estavam na expectativa por um pagamento de 40% da diferença entre o fluxo de caixa operacional e os investimentos.
Segundo o Goldman Sachs, em relatório de julho, os 40% de remuneração aos acionistas seriam equivalentes ao que os pares internacionais pagam atualmente.
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Além da revisão da porcentagem, a Petrobras manteve a distribuição trimestral de remuneração e considerou, em casos excecionais, a possibilidade de a companhia realizar a distribuição de remuneração extraordinária aos acionistas, superando o dividendo mínimo obrigatório e/ou os valores estabelecidos pela nova política.
Além das políticas de preços de combustíveis e dividendos, o mercado aguardou ansiosamente a divulgação do Plano Estratégico (PE) 2024-2028 da Petrobras, que veio com uma previsão de US$ 102 bilhões em investimentos nos próximos anos.
O capex previsto supera em 31% o valor estimado no plano passado devido a novos projetos, incluindo potenciais aquisições, e a ativos que estavam na fila de desinvestimentos e voltaram para a carteira de investimentos.
Em termos fundamentais, o PE não agradou, mas também não veio “nem de longe tão ruim quanto poderia ser”, de acordo com a Genial Investimentos.
Um ponto positivo mencionado pela corretora é a estimativa de distribuição de US$ 40-45 bilhões em dividendos regulares e US$ 5-10 bilhões extraordinários.
Segundo a Genial, considerando a faixa proposta, a empresa deve distribuir entre R$ 200-275 bilhões nos próximos cinco anos (41-57% do atual valor de mercado atual da empresa), o que é um “número interessante”.
Em relação à queda recente do petróleo, o Goldman Sachs avalia que o cenário esperado para 2024 é construtivo, sob expectativa de um mercado mais apertado devido a cortes estendidos pela Opep+ e um “sólido crescimento” da demanda, o que deve apoiar os papéis das empresas petroleiras.
As projeções do banco sugerem que o barril do Brent deve ficar em US$ 92 em 2024.
Banco do Brasil e seus resultados estelares; o fôlego acabou?
No caso do Banco do Brasil, a promessa de manutenção de resultados robustos levantou o ânimo de agentes financeiros ao longo dos últimos anos.
A companhia foi um grande destaque no ano passado pelos números divulgados, chegando a um lucro de R$ 31,8 bilhões, salto de 51,3% em relação a 2021.
Em 2023, considerando os primeiros nove meses do ano, o lucro líquido ajustado totalizou R$ 26,1 bilhões, crescimento de 14% em base anual, o que representa um ROE (retorno sobre patrimônio líquido) de 21,3%.
Porém, alguns agentes do mercado começaram a levantar recentemente a ideia de que o banco estatal alcançou o pico. Foi o caso do Safra, que, em relatório divulgado em novembro, considerou que, pelas perspectivas atuais, o banco entregará crescimento limitado dos lucros em comparação com anos anteriores.
Analistas da instituição esperam que o crescimento dos lucros do BB seja mais contido quando comparado aos seus pares privados, o que também deve se estender até 2025.
Não à toa, as ações do Banco do Brasil tombaram no pregão seguinte aos resultados, sinal de que os números não brilharam aos olhos dos investidores.
No entanto, a tese do BB não é um consenso.
Apesar da quebra de estimativas, a Genial avaliou que os resultados continuam sólidos. O último balanço coloca o Banco do Brasil em nível semelhante ao do Itaú (ITUB4) e consideravelmente à frente do Santander (SANB11) e Bradesco (BBDC4) em termos de rentabilidade, destacou a corretora.
“Para 2024, projetamos uma manutenção da rentabilidade robusta, embora com uma desaceleração no crescimento do lucro após um crescimento esperado de 11,4% ano a ano em 2023 e 51% ano a ano em 2022”, disse.
A corretora estima um novo recorde de lucro de R$ 38,4 bilhões e um ROE de 20% em 2024.
“Essa desaceleração será influenciada principalmente por um crescimento mais lento da margem financeira (NII), alinhado com um menor crescimento da carteira de crédito. Entretanto, nossa expectativa é de que as provisões não aumentem em comparação com 2023, beneficiadas por uma menor inadimplência”, destacou.
E as estatais estaduais?
O ano não foi bom apenas para Petrobras e Banco do Brasil. As companhias estaduais, como Sabesp (SBSP3) e Copasa (CSMG3), entregaram bons retornos aos acionistas, em meio a expectativas de privatização.
A Sabesp entregou ganhos de 35% em 2023, enquanto a Copasa avançou 50,6%. Ambas as empresas, sob os governos de Tarcísio Gomes de Freitas e Romeu Zema, ganharam com a perspectiva de privatização, ainda mais depois que Copel (CPLE6) foi desestatizada.
Outra estatal, Sanepar (SAPR11) avançou 75,2% em 2023. A Cemig (CMIG4) caminhou menos, machucada pela possibilidade do avanço do processo de federalização (o que também afeta a Copasa).