Faz duas semanas que o Brasil se comove com as enchentes no Rio Grande do Sul (RS), causadas por intensas chuvas que deixaram mais de 140 mortos. Com o lago do Guaíba voltando a ultrapassar os 5 metros de profundidade, as preocupações com desmoronamentos e tremores de terra percorrem o estado.
Os temporais no Rio Grande do Sul são agravados sob efeito do El Niño – fenômeno natural caracterizado pelo aquecimento anormal das águas no Oceano Pacífico. Além disso, a temperatura do Oceano Atlântico Sul bem mais elevada, próximo da faixa equatorial, também contribui para a umidade, intensificando as chuvas.
De acordo com o Instituto Nacional de Metereologia (Inmet), o transporte de umidade a partir da Amazônia e o contraste térmico com o ar mais aquecido ao norte da região Sul, além de ar mais frio ao sul do Rio Grande do Sul também ajudou a fortalecer as tempestades.
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E não é só o Brasil que sofre com isso. No último domingo (12), um temporal ocasionou um deslizamento de lava vulcânica fria na ilha de Sumatra, Indonésia. As equipes de emergência relataram mais de 40 pessoas mortas.
Além disso, as províncias de Badakhshan, Ghor, Baghlan e Herat, no Afeganistão, também sofreram fortes inundações. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o número de mortos já passa de 300.
Em 2023, a temperatura média de 77 países foi a maior registrada na história, com o Brasil entre eles. Segundo o Relatório Global da Água, da Universidade Nacional da Austrália, as altas temperaturas afetam “o ciclo da água de várias maneiras, desde a intensificação de ciclones e outros sistemas de precipitação, até à exacerbação da seca e incêndios”.
Como a economia mundial pode ser afetada pelas mudanças climáticas
Dessa forma, com as crises ambientais se agravando, a economia global deve ser afetada. De acordo com o analista econômico e professor da Link Business School, Rory Michael Dowling, as mudanças climáticas podem impactar positiva e negativamente a inflação e PIB dos países.
“Eu acredito que a forma como isso irá mais impactar o crescimento econômico global é a substituição da infraestrutura básica”, afirma, destacando que o principal será a substituição da produção de energia de combustíveis fósseis pela produção de energia renovável.
“O Brasil está bem nesta situação, mas, essencialmente, teremos que substituir as usinas de queima de gás e carvão por usinas de energia renovável”. O problema neste plano é o preço dessa substituição, que tende a ser alto e sem grandes benefícios aos consumidores.
Resultado: o preço da energia subiria por um longo período, podendo chegar a mais de 10 anos, segundo Dowling. Isso ocorre porque o valor não seria apenas pela eletricidade, mas também pelas novas fontes de energia renovável.
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Mudanças climáticas: Custo dos transportes sobe junto com a temperatura
A maior preocupação para as cadeias de abastecimento mundial é o aumento do nível do mar. Atualmente, grande parte do comércio global ocorre através de portos e navios de carga.
“No caso de elevação no nível do mar, os portos sofreriam com impactos negativos”, ressalta o economista. O motivo é claro: com as cidades litorâneas perdendo espaço para o oceano, toda a infraestrutura de transportes precisará passar por uma revisão – ou seja, mais custos para os governos e empresas.
E não é só do lado dos mares. O transporte ferroviário e rodoviário também está na mira das crises climáticas. De acordo com estudo realizado pelo Ministério dos Transportes, as rodovias sofrem um risco médio aos impactos com deslizamentos, erosões e queimadas, com os trechos no interior sob maior chance de impacto.
Já para as ferrovias, o estudo revela a necessidade de medidas preventivas de ajustes nas vias para reduzir os impactos da ameaça climática em algumas das linhas férreas brasileiras.
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O índice de Risco Climático (IRC) do setor ferroviário apresentou níveis “alto” e “muito alto” de deslizamentos em alguns trechos nas estradas de ferro e nível “alto” para erosões em outras.
Com isso, os custos de transporte das mercadorias e taxas de fretes subiriam até o setor se estabilizar novamente.
Além disso, Dowling destaca que outro setor que também está em risco é o de semicondutores. Em fevereiro de 2021, o Texas enfrentou um inverno tão forte que gerou queda de energia no estado.
Dessa forma, a empresa Austin Energy sofreu com paralisação de suas linhas de produção. Devido a isso, outras empresas sofreram o impacto, como a Samsung, NXP Semiconductors e Infineon Semiconductors.
Quais são os maiores emissores de gases do efeito estufa?
Até 2020, 39% da eletricidade global era gerada por fontes de baixo carbono, o que já é um avanço. Mas, ainda assim, a emissão de dióxido de carbono é uma preocupação.
De acordo com Dowling, os maiores emissores não são aqueles que necessariamente sentirão os impactos das crises climáticas, o que dificulta ainda mais a implementação de projetos de preservação do meio ambiente
As regiões que mais emitem gases do efeito estufa são, respectivamente, América do Norte, Europa e Ásia Central, de acordo com os dados do World Resources Institute.
Segundo o economista, o centro da União Europeia, China ou 90% da Índia, que são uns dos maiores emissores de dióxido de carbono em termos de produção de energia, não sofreriam diretamente com os impactos.
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“Vivemos numa época em que as empresas e a política têm mais prioridades de curto prazo do que qualquer ponto da nossa história. E estamos num momento em que precisamos de políticas de longo prazo, mais do que em qualquer momento da história humana”.
Por fim, Dowling acrescenta que os fundos de investimento e os bancos são muito importantes na preparação de soluções para estes problemas.
“Precisa haver mais pressão sobre os bancos e fundos de investimento para assumirem algum tipo de responsabilidade para a melhoria da infraestrutura energética. Um foco maior em fundos de investimento em energia verde seria benéfico para todos”, finaliza.