Os meses de março e abril foram marcados na economia mundial por uma dicotomia da atuação dos bancos centrais entre a escolha de manter taxas de juros altas para combater a inflação ou reduzi-las para estimular o crescimento. Na China, o cenário é diferente, com a inflação mais do que controlada o cerne é cumprir a ambiciosa meta de crescimento do PIB – 5% para 2024. E isso dependerá dos estímulos à economia verde para mais uma vez acontecer.
No anúncio da meta para este ano, feito no início de março pelo Primeiro-Ministro chinês, Li Qiang, as citações com referências a projetos verdes foram o dobro daquelas feitas pelo seu antecessor em 2023. Isso demonstra como os investimentos serão direcionados pelo governo.
E a estratégia verde vem dando certo por lá: a China produz 90% das placas fotovoltaicas do mundo e 50% dos carros elétricos, por exemplo.
Isso se deve em grande parte ao resultado de uma estratégia que nasceu em 2008, em meio à crise financeira mundial. A China passou a distribuir bilhões de dólares em incentivos, em grande parte direcionados a tecnologias e inovações verdes, considerada uma nova força produtiva.
Nesse sentido, a China possui uma vantagem competitiva enorme, cuja estratégia eles chamam de “3 novas”. A primeira “nova” estimula o desenvolvimento de tecnologias solares e eólicas. A segunda incentiva a produção de baterias de lítio. A terceira, o desenvolvimento de veículos elétricos. As 3 novas foram responsáveis por 4,5% do total da exportação chinesa em 2023, segundo a empresa de pesquisa Bloomberg NEF. Três anos antes, em 2020, eram apenas 1,5%.
A maior crítica contra a China, no entanto, é a seguinte: apesar de todo o investimento em produtos e tecnologias verdes, ela vem pecando do ponto de vista ambiental. Ela é a maior emissora de gases poluentes do mundo, responsável por quase um terço das das emissões de gases-estufa. Muito disso deve-se ao fato de que ela continua muito dependente de energia à base de carvão – o país é o maior produtor e utilizador desse combustível fóssil.
Existem alguns motivos para essa dependência. O mais forte é que a China não possui gás natural (também poluente, só que menos) – depende completamente de importações. Também há fatores político-econômicos. Desativar as minas de carvão custaria 2,5 milhões de empregos.
Mas a China vem tentando mudar isso. Só no ano passado foram acrescidos 293 GW de energia limpa solar e eólica – só para efeito de comparação: a Inglaterra possui menos de 100 GW de energia limpa no país inteiro. Porém, mesmo com esse enorme acréscimo, os órgãos internacionais não acreditam que a China alcance sua meta de se tornar neutra em carbono até 2040.
Os desafios para reduzir as emissões são enormes, mas a China está demonstrando para o resto do mundo que estimular a economia verde traz resultados robustos de crescimento. Não é à toa que 38% dos investimentos para o desenvolvimento de tecnologias verdes foram para lá em 2023, cerca de US$ 676 bilhões.
Vamos aguardar para ver se ela consegue atingir a meta de 5% de crescimento do PIB em 2024 com essa estratégia verde. No primeiro trimestre deu certo: ela cresceu 5,3% na base anual.
Alexandre Furtado é Sócio da Grant Thornton e Membro do Conselho do Centro de Pesquisa Aplicada em Contabilidade e Análise de Dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV)
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