A foodtech Typcal, que produz proteína com micélio de cogumelo, está dando o próximo passo para a sua expansão. A startup firmou uma parceria com a Allbiom, empresa especializada na produção de biorreatores, para construir uma fábrica de fermentação de micélio para alimentos. A planta fabril será em Curitiba (PR) e vai permitir que a foodtech produza até 5 toneladas por mês, possibilitando o início da operação comercial no B2B – a estimativa é faturar R$ 5 milhões no primeiro ano.
Com o movimento, a startup vai sair da planta piloto onde desenvolveu os primeiros testes de criação para a indústria alimentícia. A Allbiom, que já era fornecedora dos biorreatores utilizados pela Typcal, agora se torna sócia no negócio – a participação societária não foi divulgada. A foodtech investiu R$ 5 milhões na nova fábrica e prevê a inauguração para o terceiro trimestre de 2025.
“O galpão industrial que ocupamos hoje não comporta o crescimento. Precisamos de espaços altos, o novo biorreator tem 6 metros de altura. Queríamos um local que já contemplasse o próximo aumento de escala, em 2026. Já estamos mirando o próximo biorreator, com investimento quase três vezes maior”, afirma Paulo Ibri, fundador e CEO da Typcal, com exclusividade a PEGN.
A Typcal iniciou o desenvolvimento do produto em 2022. Diferentemente das foodtechs que fazem proteína à base de plantas, a startup investiu no micélio, parte dos cogumelos (fungos) que se ramifica em busca de nutrientes, como raízes. Com estrutura 100% própria e foco no B2B, a Typcal surgiu com a ideia de produzir proteínas alternativas que se aproximassem mais da experiência de consumo das proteínas animais, como carnes de frango, boi e peixe.

“A tecnologia do micélio tem diversos benefícios, em termos de escalabilidade e sustentabilidade, conseguimos produzir a mesma quantidade de proteína em poucos metros quadrados. O dificultador é o alto investimento em infraestrutura para poder crescer”, comenta.
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A tese era iniciar pelo peito de frango, com tecnologia patenteada, para o food service, além de vender a proteína pura, mas o mercado mostrou outro interesse. “Tivemos tanta procura da grande indústria pela proteína que entendemos que não valia a pena tirar o foco disso. Elas têm uma estrutura mais robusta para desenvolver seus produtos e distribuí-los, então o peito de frango saiu do nosso road map”, conta.
A startup foi acelerada pela Ambev e utiliza levedura da cerveja e açúcar simples, como amido de milho, para alimentar os fungos. A espécie de “sopa de nutrientes” é colocada no biorreator, que mantém as condições ideias para desenvolvimento dos organismos. Em 24 horas, os micélios se transformam em biomassa – a Neutra PRO, proteína da Typcal. Esse insumo pode ser transformado em alimentos como peito de frango, salsicha e hambúrguer pela indústria, ou em pó, para ser utilizado como farinha proteica.
Como o ciclo de vendas no B2B costuma ser mais longo, a Typcal aproveitou os últimos dois anos para fazer testes e desenvolver lançamentos com as marcas na planta piloto enquanto, paralelamente, dava entrada no processo de regulamentação com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Nosso fungo é considerado seguro, com um histórico de consumo de mais de 40 anos no Brasil, mas o nosso processo de produção é novo, então é visto como um novo ingrediente”, explica o fundador. Ele estima que a aprovação deve sair no início do segundo semestre deste ano.
Segundo ele, as primeiras categorias que devem receber itens à base de micélio no Brasil serão produtos cárneos e híbridos e snacks proteicos. “Enxergamos o micélio como plataforma de ingredientes. Hoje, tenho ele fresco e em pó, mas queremos aumentar o portfólio e vamos lançar em breve o micélio concentrado, com aporte maior de proteína, mirando o mercado de suplementação esportiva para competir com o whey”, revela.

Ibri acredita que, pelas conversas e testes avançados, a nova fábrica deve ser inaugurada com a capacidade de produção toda comprometida e, por isso, já vislumbra uma nova expansão no segundo semestre de 2026. Para isso, quer levantar uma rodada Série A de R$ 20 milhões e ainda está definindo se vai conduzir a captação apenas no Brasil ou se vai abrir para investidores de fora.
A Typcal também estuda a expansão para a Europa. Por lá, a startup já tem a aprovação regulatória para vender os produtos. A ideia é manter a fábrica no Brasil, onde há insumos de sobra e custos mais baixos para água e energia elétrica, mas aproveitar dos avanços em pesquisa e desenvolvimento na Europa.
“Algumas tecnologias que precisamos para analisar o micélio e criar os ingredientes que almejamos não existem no Brasil, principalmente os equipamentos. Já estamos pensando em lançamentos para daqui dois a três anos”, pontua o CEO. Ele acrescenta que a startup foi convidada por dois países europeus, Bélgica e Holanda, para incorporar um escritório nos países e está em fase de análise para fazer a escolha.