Portal BEI

Sustineri Piscis, que faz carne de peixe em laboratório, levanta R$ 9,39 milhões em equity crowdfunding

Fonte: Redação

A Sustineri Piscis, biotech que está desenvolvendo carne de peixes por cultivo celular em laboratório, anuncia nesta terça-feira (25/3) a conclusão de sua captação por equity crowdfunding. A startup recebeu um aporte de R$ 9,39 milhões e atraiu 520 investidores para a rodada na plataforma Eqseed. A Sustineri Piscis foi avaliada em R$ 57 milhões.

A startup produz carne de pescado marinho sem a necessidade de abater animais, sem espinha, e com a possibilidade de potencializar o alimento, enriquecendo-o com vitaminas e gorduras. A Sustineri Piscis se encaixa na categoria de proteína complementar, mais conhecida pelas vertentes plant-based (à base de plantas) e fermentação natural, quando bactérias criam as proteínas em laboratório.

Por trás da biotech está Marcelo Szpilman, biólogo marinho com mais de 30 anos de experiência na área ambiental, idealizador e fundador do AquaRio, aquário marinho do Rio de Janeiro – que ele define como uma “ousadia”. Na opinião dele, empreender com a atração foi mais difícil do que fundar uma startup. “Tinha muita coisa para dar errado, mas acabou dando certo. Depois que eu realizei o aquário, ficou mais fácil empreender com a Sustineri”, afirma.

A ideia para a biotech surgiu após 14 anos na diretoria do aquário. Em 2019, ele resolveu se afastar do cargo executivo e, inicialmente, pensou em criar peixes, mas percebeu os riscos e a desconexão com a pauta de sustentabilidade. A inspiração para a Sustineri Piscis veio de fora do país.

“Já havia iniciativas de cultivo celular para pescado marinho nos Estados Unidos. Comecei a estudar a possibilidade e fazia muito sentido pelo cenário de pesca excessiva e contaminação de peixes por metais pesados e microplásticos”, aponta. Segundo o Fórum Econômico Mundial, 90% das espécies comerciais de peixes estão no limite da exploração.

Os estudos norte-americanos ainda estavam embrionários, mas Szpilman apostou que seria possível fazer algo semelhante no Brasil. Ele buscou o Banco de Células do Rio de Janeiro, centro de referência criado em 1980 pelo Professor Radovan Borojevic, e apresentou a ideia. Dois pesquisadores especialistas em reprodução celular foram contratados para trabalhar no laboratório montado no Parque Tecnológico de Xerém (PTX), no Rio de Janeiro.

Startups:

Desde 2020, o fundador e alguns investidores-anjo aportaram cerca de R$ 3 milhões para fazer o cultivo celular de carne de pescados em laboratório. A tecnologia consiste em pegar o peixe vivo, extrair células musculares em biópsia e mantê-las vivas para multiplicação na bancada.

A equipe levou cerca de um ano para melhorar a linhagem celular para que ela se tornasse mais resistente e conseguisse se reproduzir mais rapidamente. Depois, um banco de células foi criado e colocado em um biorreator com líquido nutriente. O resultado após duas semanas é uma massa proteica parecida com carne moída que pode ser usada em bolinhos – a startup fez testes de experimentação com o público em 2023.

O fundador durante a experimentação dos bolinhos feitos com peixe desenvolvido por cultivo celular — Foto: Divulgação
O fundador durante a experimentação dos bolinhos feitos com peixe desenvolvido por cultivo celular — Foto: Divulgação

“Provamos que temos a capacidade de produzir carne de peixe e a próxima etapa é torná-lo comercial nos próximos dois anos, com mais pesquisa e desenvolvimento para baratear o custo e escalar a produção. A tecnologia permite fazer outros produtos com essa mesma massa proteica no futuro, do filé ao caviar”, afirma.

Por enquanto, por uma facilidade de acesso, a biotech trabalha com garoupa, cherne, linguado e robalo – na pesquisa, a Sustineri conseguiu imortalizar as células musculares da espécie e nenhum novo peixe precisará ser abatido para produzir toneladas de carne.

Szpilman afirma que procurou fundos de venture capital para conseguir o aporte para os próximos passos, mas não conseguiu investimento. Segundo ele, a maioria queria saber se a biotech já tinha tração e faturamento. “O venture capital desconfigurou a finalidade, virou private equity, e tivemos grande dificuldade de captar. Tenho credibilidade, mas não tenho números para mostrar. Ainda estamos em pesquisa e desenvolvimento. O equity crowdfunding foi interessante para pulverizar o investimento com pessoas físicas”, diz.

A Sustineri Piscis bateu o recorde de captação da Eqseed e foi a primeira nessa fase da jornada a levantar capital pela plataforma. “Sempre tivemos dificuldade para trazer empresas de biotecnologia para dentro porque o resultado era muito distante, são muitos anos para ter o produto. Mas a Sustineri já se mostrou tecnicamente viável, estão captando para se tornar economicamente viáveis”, afirma Igor Monteiro, CEO da Eqseed.

O aporte será usado para triplicar o tamanho do laboratório, com o objetivo de baratear os custos e escalar a produção. Em dois anos, a startup planeja conquistar as licenças regulatórias da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) para entrar no mercado fornecendo os peixes para restaurantes. A Frescatto, distribuidora de pescados com 15 mil clientes no Brasil, está no cap table da startup e vai auxiliar na venda dos peixes.

Compartilhe:

WhatsApp
Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
Telegram
+ Relacionadas
Últimas

Newsletter

Fique por dentro das últimas notícias do mundo dos negócios!