Cerca de quatro meses depois das enchentes que paralisaram o Rio Grande do Sul, deixando um prejuízo financeiro de R$ 12,2 bilhões no estado, o desastre virou tema de painel no Startup Summit 2024, evento realizado até sexta-feira (16/8) em Florianópolis (SC). O papel das startups de impacto na mitigação de desastres climáticos foi o assunto debatido por Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, secretário de inovação de Porto Alegre; Venicios Santos, diretor de vendas da Codex; e Renato Paes, CTO da Sipremo.
Na capital, as enchentes causadas por fortes chuvas que levaram ao transbordamento do Guaíba e impactaram 242 mil pessoas em Porto Alegre, com 70 mil desabrigados. A situação trouxe desafios para o poder público como resgate de vítimas, controle de abrigos para assisti-las, limpeza das residências e estabelecimentos comerciais, reconstrução de vias e saúde mental dos impactados. Startups atuaram desde o primeiro momento, em colaboração, adaptando soluções e criando novas plataformas para auxiliar na fase mais crítica.
“É importantíssimo que as startups estejam perto do poder público para aproveitar as oportunidades. Ela pode trazer backgrounds de estudos fantásticos, mas está distante da realidade do gestor público, que tem urgências grandes a resolver. Deve-se conversar, ouvir as dores antes de oferecer as soluções”, pontua Silva Filho.
Uma das startups que atuou em parceria com a prefeitura de Porto Alegre foi a Codex, que criou 17 aplicações em 30 dias para serem utilizadas nas fases pré, durante e depois do desastre, como simulações do avanço das águas para auxiliar na tomada de decisões, a partir do uso da tecnologia de digital twin e com imagens de satélite de alta resolução, e uma plataforma oficial para compartilhamento de dados, que recebeu 200 mil acessos no mês de lançamento.
“O clima é transversal. Ele para o CNPJ, ele traz queda na empregabilidade, as empresas deixam de faturar. Precisamos cruzar dados com o planejamento urbano, a Fazenda, para saber o impacto nas famílias”, afirma Santos.
A Sipremo utiliza dados para criar modelos preditivos para a gestão de riscos e preparação de desastres. Nascida para atender as demandas da Defesa Civil, a startup ampliou a área de atuação e utilizou o mesmo motor de tecnologia para oferecer desde a previsão de pragas em florestas até suporte para precificação para seguradoras.
Outra startup que auxiliou durante as enchentes foi a TideSat. Fundada em 2022, a empresa de sensores já estava desenvolvendo uma prova de conceito com a prefeitura de Porto Alegre quando as enchentes aconteceram. O hardware da startup auxiliou na medição do nível de água do Guaíba, em um momento que os sensores anteriormente utilizados deixaram de funcionar e a medição estava sendo feita com réguas.
“Startups de impacto têm grande possibilidade de trabalhar na área de prevenção. Os dados são o novo petróleo e os governos necessitam de startups para se aproximar do digital”, finaliza Silva Filho.
*A jornalista viajou a convite da organização do Startup Summit.