Nove anos após fundar a Troc, uma plataforma de venda de roupas usadas, a empreendedora Luanna Toniolo, 37 anos, decidiu sair do negócio. Ela já tinha vendido 75% da companhia em 2020 para a Arezzo, que se transformou em Azzas 2145 (resultado da fusão com a Soma), mas seguia no comando da marca. Agora, a empreendedora decidiu seguir um novo caminho: ajudar outras mulheres a escalar seus negócios.
O contrato de Toniolo com o conglomerado de modo estabelecia que a executiva ficasse no comando da Troc por três anos. Esse período foi postergado por mais um ano, mas, no final de 2024, após uma conversa com amigas, a empreendedora decidiu que era hora de ter novos desafios.
“São ciclos que têm que acontecer. Essa minha saída vem porque eu acho que é um novo momento. Eu quero aproveitar para auxiliar outras mulheres, e fazer com que elas vejam os seus negócios escalonarem”, destaca Toniolo.
A empreendedora ficará na Troc até dia 31 de janeiro e acredita que sairá no “melhor momento da companhia”, com um time estruturado e um faturamento de R$ 39 milhões em 2024 — um aumento de 35% se comparado ao ano anterior, e 800% desde a aquisição.
Em dezembro de 2024, o Azzas 2145 encerrou a operação de quatro marcas e divulgou que está avaliando também alternativas para outras, incluindo a Troc. Até o momento, o nome do novo CEO do brechó online ainda não foi divulgado pelo grupo.
Um novo ciclo
Após nove anos liderando um pequeno negócio, que se tornou uma grande empresa, Toniolo sentiu que era hora de dividir sua experiência com outras empreendedoras e auxiliá-las no momento de escala. Ao lado de Patrícia Lima, CEO da Simple Organic, e Manuela Bordasch, CEO da Steal the Look, a executiva está lançando o programa The3Percent — o nome foi inspirado no fato de que 3% das empresas globais fundadas por mulheres recebem investimento de venture capital (VC), conforme dados do Fórum Econômico Mundial (FMI).
A ideia nasceu durante uma viagem entre as três, que são amigas há muito tempo, e que têm pontos em comum tanto na vida pessoal, quanto na profissional — todas venderam seus negócios para grandes empresas: Bordasch para o Magazine Luiza e Lima para a Hypera Pharma.
“Nos víamos muito solitárias nesse mundo”, conta Toniolo, destacando a dificuldade de ser uma mulher no comando de uma empresa. “Nós queremos mudar essa realidade, devolver para o mercado o que recebemos. Queremos ser um veículo para que outras mulheres consigam realizar seus sonhos”, acrescenta.
O objetivo da The3Percent é impulsionar o empreendedorismo feminino, especialmente no nicho de beleza, moda, lifestyle e tecnologia, com viés ESG. As executivas lançaram a iniciativa em 19 de novembro de 2024, dia do empreendedorismo feminino, e agora estão em fase de seleção das participantes. De acordo com Toniolo, “centenas” de mulheres já se inscreveram, mas ela não revela o número. Ainda é possível se candidatar por meio do site oficial.
O objetivo do projeto é conectar empresas promissoras, criadas por mulheres, que tenham um faturamento anual entre R$ 1 milhão e R$ 10 milhões, com fundos de investimento. Além da possibilidade de investimento, as três empresárias vão promover mentorias, capital intelectual, social, cultural e networking para que as participantes possam escalar seus negócios.
As três fundadoras vão se complementar, de acordo com suas especialidades: Lima ficará responsável pelo desenvolvimento de produto, Bordasch terá um olhar mais voltado para as áreas de conteúdo, mídia, posicionamento e branding, e Toniolo cuidará da área de estruturação de negócios, escala, logística e apresentação de decks para investidores.

Mulheres empreendedoras:
A fundadora da Troc conta que ainda pretende continuar mentorando microempreendedoras, mas por meio de outra iniciativa, a “POMS: Educação por Inspiração”.
“Não somos criadas para ter ambição, para ir atrás ou sonhar. Somos criadas para ficar nos bastidores, e temos muitas mulheres fazendo muitas coisas nos bastidores, sem ganhar o devido mérito. Temos que investir em diversidade. Os números mostram que as empresas geridas por mulheres são mais sustentáveis e têm uma vida mais longa”, afirma.