Atual vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores, Gustavo Pimenta, foi escolhido, por unanimidade, pelo Conselho de Administração da Vale, como novo CEO da companhia. Ele vai substituir Eduardo Bartolomeo como diretor-presidente da gigante mineradora brasileira, encerrando um complicado processo de sucessão. Pimenta assumirá o cargo em 1º de janeiro de 2025, segundo um comunicado regulatório.
A definição do novo nome à frente da mineradora encerra um período de meses de indefinição a respeito da sucessão, marcado pela multiplicação de nomes potenciais para o cargo e pela tentativa do governo de emplacar um indicado ao comando do segundo maior fornecedor de minério de ferro do mundo.
Em comunicado ao mercado, a Vale ressalta que a definição foi o fim de um rigoroso processo de seleção suportado por empresa de padrão internacional, em conformidade com o Estatuto Social da Vale, políticas corporativas, regulamento interno do colegiado e legislações aplicáveis.
Em julho, a consultoria Russell Reynolds, contratada para auxiliar a companhia no processo de seleção dos nomes, entregou uma relação de 15 possíveis sucessores de Eduardo Bartolomeo, que foi o principal executivo da empresa por cinco anos, após assumir a função para ajudar a recuperar a reputação da Vale após o rompimento da barragem em Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019. Bartolomeo queria permanecer no cargo, mas não conseguiu reunir apoio suficiente.
Como informou em julho o colunista do GLOBO Lauro Jardim, o acerto era que o colegiado analisaria três nomes, sendo que um deles seria da própria Vale. Ainda de acordo com o colunista, a sucessão da Vale levou conselheiros a estado de guerra e afastou CEOs ”devido ao clima ‘tóxico”’.
O presidente do Conselho de Administração da Vale, Daniel Stieler, afirmou:
“Ele (Gustavo Pimenta) reúne as competências necessárias para que possamos aspirar um novo ciclo virtuoso para a companhia, orientado por nosso propósito, e com grande potencial de geração de valor a todos os nossos públicos de relacionamento. O processo sucessório evidenciou o alto nível de integridade, transparência e robustez da governança da Vale.”
Pimenta agradeceu ao colegiado:
“Vamos juntos nessa jornada, intensificando o diálogo com todos os nossos stakeholders e priorizando a segurança das pessoas, das operações e do meio ambiente”.
O atual presidente da Vale disse estar otimista com a escolha de Pimenta e afirmou que, com ele, a mineradora deve seguir firme “em sua jornada rumo à liderança na mineração sustentável e na criação de valor para os stakeholders”. Após o fim do mandato, em dezembro, a previsão é que Bartolomeo atue como consultor da empresa até o fim de 2025.
No início deste ano, o processo de sucessão foi tumultuado pela tentativa do governo de emplacar o nome do ex-ministro Guido Mantega, uma hipótese que foi alvo de críticas na empresa e no mercado.
O novo CEO será oficialmente apresentado aos investidores no dia anual de investidores da Vale, em 3 de dezembro. Bartolomeo apoiará o processo de transição do CEO a partir de 2025 e permanecerá como conselheiro da empresa até dezembro daquele ano.
Um critério chave para a escolha do próximo líder da Vale foi a capacidade de navegar nas relações institucionais.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem criticado a Vale por recompensar investidores com dividendos enquanto vende ativos, mantém direitos minerários e demora a compensar as vítimas dos desastres de mineração. Em entrevista, Lula chegou a dizer que a companhia “precisa prestar contas ao Brasil” e não pode agir como “dona” do país.
Embora a Vale tenha sido privatizada em 1997, o aval do governo é fundamental para superar a burocracia que impede suas ambições.
A incerteza em relação ao nome do novo CEO pesou sobre os investidores da Vale, cujas ações estão sendo negociadas com desconto em relação aos pares. A empresa, com sede no Rio de Janeiro, ainda lida com as repercussões do desastre da barragem de rejeitos de 2015 no sudeste do Brasil e uma disputa com o governo federal sobre a renovação da concessão de uma ferrovia em Carajás, onde a Vale possui suas operações mais valiosas.
20 anos de experiência
Pimenta, nascido em 1978, tem 20 anos de experiência nos setores financeiro, de energia e mineração. Ele ingressou na Vale como diretor financeiro em 2021. Antes de se juntar à empresa, passou mais de uma década na empresa de energia americana AES Corp. e foi anteriormente vice-presidente de estratégia e fusões e aquisições no Citibank em Nova York.
Como chefe financeiro da Vale, Pimenta supervisionou a agenda de produtividade da mineradora com foco em alocação de capital, eficiência de custos e definição de uma estratégia para reduzir as emissões de gases de efeito estufa em um terço até 2030.
O executivo também esteve à frente das negociações em andamento com o governo brasileiro — incluindo um acordo final para o desastre de 2015 — e uma disputa sobre a renovação da concessão da ferrovia de Carajás.