O Carnaval de Salvador é conhecido por arrastar uma multidão de pessoas para as ruas. Neste ano, a projeção da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult) é que cerca de 850 mil turistas compareçam aos principais circuitos da cidade, sem contar a população que reside no estado e também aproveita o período festivo. E uma parte considerável destes foliões costumam adquirir abadás para participarem de blocos carnavalescos e camarotes. Mas o que é feito com as camisas depois do fim da festa? A partir desse questionamento, as empresárias Aparecida Queiroz e Vanda Souza idealizaram o projeto Refoliar. A iniciativa, lançada neste ano, visa transformar as peças usadas em mochilas para estudantes da rede pública de ensino.
O projeto vai receber os abadás até o dia 10 de março em pontos estratégicos da capital baiana. As urnas personalizadas estão distribuídas nos circuitos da folia, camarotes, shopping centers e no aeroporto. Para a arquiteta Vanda Souza, que é especialista em Educação e Desenvolvimento de Recursos Humanos, a ação destaca a importância do descarte adequado de resíduos têxteis e promove a conscientização ambiental.
“O planeta está dando sinais para nós todo dia. A ideia é conscientizar nossos filhos, nossas famílias e crianças que tudo isso é uma questão importante. Precisamos discutir a sustentabilidade também no Carnaval”, declara.
Souza explica que o projeto conta com três etapas: o recebimento das peças usadas doadas pelos foliões; a capacitação dos costureiros para a produção das mochilas; e a entrega do material produzido para os estudantes da rede pública. “Esse é um projeto de força ambiental, onde temos os três pilares, que é a sustentabilidade, o econômico e o social”, diz ela, reforçando o compromisso da iniciativa com as práticas de ESG.
Por se tratar do primeiro ano, a equipe responsável pela iniciativa evitou abrir projeções de itens doados, mas há a expectativa de que a campanha consiga alcançar uma boa arrecadação das peças usadas, tendo em vista o alto volume de visitantes na capital baiana. “Estamos focadas na primeira fase do projeto, que é conscientizar os foliões, temos urnas espalhadas em vários pontos da cidade. Esse é o momento de coleta, que vai ser decisivo para as próximas fases”, relata.
Após o período de captação, as camisas serão recolhidas e encaminhadas para um depósito, onde costureiros previamente capacitados vão fazer as mochilas. De acordo com a administradora Aparecida Queiroz, que é especialista em Sustentabilidade, a ideia da capacitação tem a ver com o objetivo de geração de emprego e renda para profissionais da área de corte e costura.
“Quando promovemos a capacitação desses profissionais geramos trabalho e renda, além da dignidade humana. Com o aprendizado, eles vão ter a possibilidade de trabalhar após o Carnaval e aplicar a técnica em diversos produtos, que passam a ter um valor emocional, não só econômico”, pontua.
A fase de capacitação contará com aulas práticas de costura criativa promovidas pelos parceiros da iniciativa. Anteriormente, Souza relata que já havia testado diversas possibilidades para a construção das peças. Ela ainda diz que é possível criar uma peça usando entre quatro e cinco abadás. Com isso, os costureiros vão fazer mochilas nos tamanhos pequeno, médio e grande, considerando as doações para as crianças e os adolescentes.

Para desenvolver as etapas de produção, Souza explica que o projeto conta com o apoio de parceiros que se juntaram à causa, entre eles artistas e empresas baianas de diversos segmentos, como Sotero Ambiental, Salvador Bahia Airport, TV Bahia e Quero Abadá. Contudo, a equipe ainda segue em busca de novas parcerias para contemplar as próximas etapas do Refoliar, como o pagamento dos costureiros e compras de forro e aviamentos para as mochilas.
“Estamos em um trabalho muito voltado para captação de patrocinadores. Quem são as empresas que podem ter interesse em patrocinar esse projeto? Para produzir a mochila, vamos precisar comprar aviamentos, pagar as costureiras, por exemplo. A entrega das mochilas para as escolas também terá um custo”, reitera.