Em um espaço de 750 metros quadrados, na sede da Oracle em São Paulo, visitantes serão recebidos por robôs simpáticos que atuam como atendentes e poderão ter o cafezinho servido por um braço também robótico. Será possível, ainda, explorar uma loja sem caixa de pagamento, onde basta pegar o produto da prateleira e sair.
As demonstrações de aplicações de tecnologias imersivas, inteligência artificial, robótica e realidade aumentada estarão no Oracle Innovation Center, centro de inovação lançado pela empresa americana nesta terça-feira na capital paulista. Com investimento de R$ 40 milhões, o espaço é o primeiro desse tipo aberto pela companhia na América Latina — os outros três estão nos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália.
Apresentado como um “laboratório vivo” de inovação, o centro reúne mais de 60 soluções desenvolvidas com startups parcerias da Oracle. O objetivo é demonstrar como tecnologias emergentes podem ser aplicadas em diferentes setores da economia, como indústria e serviços, em áreas como como hotelaria, construção, saúde, manufatura, logística, finanças e varejo, entre outras.
O anúncio do centro de inovação aconteceu no Oracle CloudWorld Tour São Paulo, evento anual da empresa voltado à apresentação de soluções e tendências em nuvem e inteligência artificial.
Segundo Alexandre Maioral, CEO da Oracle no Brasil, o centro reforça o compromisso da empresa com o país, onde já mantém quatro regiões de nuvem ativas, ou seja, estruturas físicas de data centers que armazenam e processam dados localmente. Ele citou que o local será integrado a programas de formação da companhia no país.
O projeto, formulado por Marcelo Pivovar, diretor de tecnologia da Oracle Brasil, levou nove meses para ser construído. A proposta, segundo ele, é permitir que empresas brasileiras experimentem soluções de tecnologia de forma concreta.
— Os clientes querem ver funcionando. Por isso, tudo aqui está integrado, rodando como se fosse um ambiente produtivo — afirma Pivovar, que lidera o grupo responsável pela criação do centro.
A proposta do centro é fomentar a inovação aberta — ou seja, o desenvolvimento de soluções que envolvam a parceria com empresas, universidades ou startups.
O centro tem 15 profissionais dedicados exclusivamente à operação do espaço e envolve, ao todo, cerca de 200 pessoas trabalhando nos bastidores, distribuídas em mais de 30 grupos de trabalho. Ao todo, o espaço reúne cerca de 60 soluções, a maior parte delas foram desenvolvidas nacionalmente.
— A gente quer mostrar que tem muita tecnologia boa sendo desenvolvida aqui — diz Pivovar, citando como exemplo a solução de loja sem caixas criada em parceria com a Zebra, que utiliza câmeras, sensores de peso e etiquetas inteligentes para automatizar a experiência de compra no varejo.
O centro de uma inovação é uma expansão da loja-conceito lançada pela Oracle em 2022, focada inicialmente no setor de varejo. Em dois anos, o espaço movimentou US$ 100 milhões — 20% desse valor foi convertido em contratos com a Oracle.
As experiências são divididas por setor e incluem também um restaurante sem cardápio físico, onde o menu é projetado na mesa e um quarto de hotel com robôs concierge que interagem com os hóspedes. Há também ambientes simulando bancos, hospitais, armazéns e canteiros de obras.
Barreiras a data centers no Brasil
Conhecida pelos sistemas de banco de dados e softwares corporativos, a Oracle tem buscado ampliar sua fatia no disputado mercado de computação em nuvem e inteligência artificial, concorrendo com gigantes como Amazon, Microsoft e Google.
A empresa é uma das integrantes do projeto Stargate, iniciativa liderada pelo governo de Donald Trump com investimento de até US$ 500 bilhões voltada para construção de infraestrutura para IA nos Estados Unidos, em parceria com empresas como OpenAI, SoftBank e MGX.
Perguntado sobre a atração, para o Brasil, de data centers e infraestrutura global para IA, Alexandre Maioral afirmou que o país tem potencial para se tornar uma “potência”, mas ainda enfrenta entraves, especialmente na carga tributária para construção e operação dos centros de dados.
— O Brasil tem um superpotencial, mas os custos e impostos ainda dificultam a expansão — afirmou, citando que o tema tem sido discutido com o governo federal, que trabalha em um plano para atração de infraestrutura de tecnologia. — Já tivemos reuniões com o governo e sentimos um interesse genuíno em rever essas barreiras para tornar o país mais competitivo.
Segundo ele, há conversas em andamento com o Ministério da Fazenda e outras instâncias sobre formas de reduzir tributos e antecipar efeitos da reforma tributária para o setor.
— O fato de o governo querer entender as nossas necessidades já é um sinal positivo. Se conseguirmos avançar nesse ponto, o Brasil pode se tornar um polo atrativo para o setor de tecnologia — acrescentou ele.