Dani Alkmin faz parte da 5ª geração de sua família a trabalhar no setor cafeeiro. “Sou filha de produtor e cresci em meio à fazenda”, diz a empreendedora de 41 anos. Ela é CEO e fundadora da Agrorigem, empresa exportadora que revende cafés especiais de diversos produtores, com sede em Santa Rita do Sapucaí (MG).
Trabalhando no setor cafeeiro, a empreendedora passou a frequentar mais eventos do setor — e percebeu como era importante estimular a presença feminina nesses espaços e no mercado em geral. A ideia se tornou realidade por meio da Mulheres Empreendedoras do Café, associação fundada em 2019 com o objetivo de aproximar empresárias locais que trabalham com cafeicultura. Hoje, o grupo reúne 154 mulheres que trabalham em diferentes partes da cadeia — incluindo produção, torrefação, redes de cafeterias e até mulheres que ensinam como trabalhar com café.
Segundo Alkmin, o objetivo da associação é impulsionar as carreiras das mulheres. Uma das maneiras é realizar parcerias com empresas de educação. “Em breve teremos cursos on-line de um patrocinador, e faremos aulas em temas como gestão de inovação, treinamento em vendas e sucessão familiar”, explica.
As empreendedoras também realizam eventos na região da Serra da Mantiqueira, com a ajuda de empresas patrocinadoras. “É uma forma de nos posicionar no mercado, chamando atenção para Santa Rita do Sapucaí como um polo cafeicultor, além de um polo tecnológico”, afirma. “Também nos organizamos para ter estandes em eventos, para que as empreendedoras possam vender os produtos de seus próprios negócios, incluindo artesanato e doce com café.”
A associação não tem fins lucrativos. O único produto vendido é um chapéu personalizado, oferecido em eventos esporadicamente — todo o dinheiro das vendas é investido na própria organização.
“Nosso trabalho é muito sério no que nos propomos a fazer. Não é apenas sentar e conversar sobre café. Somos empreendedoras e temos resultados”, afirma Alkmin, que enumera alguns frutos decorrentes da união. “Nosso espaço de fala cresceu bastante. É um ambiente muito machista, e estamos trabalhando para conseguir mais autoridade. Antes, eu era a filha do Carlos Enrique. Hoje, sou a Dani Alkmin do café.”
A empreendedora é a presidente da associação, e conta com o apoio de outras mulheres na diretoria: Carolina Alkmin, Marina Barbosa, Marta Ferreira, Anna Cláudia Domingues, Aline Kielblock, Hellen Carneiro e Maria Carolina Savioli. O conselho é formado por Maria Doroteia Moreira, Irys Lopes, Helena Teles, Izabelle Carli, Maria Alckmin e Andréia Moreira.
A empresária começou a trabalhar com o pai, que é produtor de café, em 2016. Então, identificou dificuldades de comercialização. “Os produtores trabalham com diversos tipos de café na fazenda, alguns com maior valor agregado. Estamos em um território fantástico para produzir cafés especiais. Mas vi que, como produtores, não conseguíamos identificar quais itens tinham potencial de ter um preço melhor no mercado”, diz a empreendedora, que realizou uma especialização para buscar entender mais sobre o produto e poder comercializá-lo com mais assertividade. “Consigo vender os cafés porque entendo as características dos produtos e posso indicar a melhor opção para o que os clientes desejam.”
Frequentando mais eventos do setor, Alkmin fez um grupo no WhatsApp com poucas empreendedoras para combinarem de irem juntas. “Se alguém soubesse de um evento legal, chamava as outras”, conta. Em agosto de 2018, ela e a amiga Marta Ferreira (atual vice-presidente financeira da associação) viajaram para conhecer uma fábrica de fertilizantes em Poços de Caldas, também em Minas Gerais.
“Vimos um grupo de cerca de 15 mulheres usando uma camiseta rosa. Achamos muito legal essa união, e pensamos que poderíamos encontrar mais mulheres em Santa Rita de Sapucaí que trabalham com café”, diz. De volta, as empreendedoras começaram a procurar empreendedoras do setor cafeeireiro, tanto donas de negócios quanto mulheres que estavam trabalhando em empresas familiares, em processo de sucessão.
Em março de 2019, elas realizaram o primeiro encontro das empreendedoras do café, de maneira informal — já com 30 mulheres. “Foi um marco e começamos a chamar atenção de mais gente”, diz.
Segundo Alkmin, Marina De Castro Barbosa, que foi extensionista da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG) por mais de 30 anos, conheceu a associação e convidou mais de 100 empreendedoras a paticipar. “Ela conhecia muitas mulheres porque tinha contato próximo com pequenos produtores.”
Em 2023, a associação realizou o Summit Empreendedoras do Café 2023. “Foi um evento muito importante para marcar a nossa posição na cidade, em que trouxemos muitos temas relevantes para os produtores, como comercialização, produtividade, planejamento tributário e ESG na prática. Recebemos 1,2 mil pessoas para acompanhar palestras por um dia, de maneira gratuita”, afirma. O evento foi realizado com o patrocínio de empresas.
As mulheres também viram a necessidade de estimular a cultura do café na região. Hoje, também oferecem palestras em escolas para explicar a importância do setor. “Precisamos atrair a atenção de crianças e adolescentes para eles também pensarem em se especializarem, identificando maneiras de trazer inovação para o agro”, diz Alkmin.