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Mulheres empreendem com soluções B2B para promoção de equidade de gênero nas empresas

Fonte: Redação

Crescer no mundo dos negócios, historicamente liderado por homens, ainda é um desafio para muitas mulheres no Brasil. Dados divulgados pelo Sebrae em 2023 apontam que elas somam 10,3 milhões entre as pessoas que são donas do próprio negócio no país, mas perdem para uma hegemonia masculina, que domina 65,6% do mercado. Mesmo em minoria numérica, parte dessas empreendedoras percebeu que não só poderia engrossar o número de lideranças femininas como também poderia contribuir para promover políticas de equidade de gênero em diversos níveis dentro de grandes e pequenas empresas.

Neste sentido, empreendedoras brasileiras têm liderado uma série de ações no formato B2B (business to business, de empresa para empresa, em português) para sanar diversos gaps ainda presentes dentro do ambiente corporativo. As soluções tem o objetivo de minimizar barreiras que impedem a aceleração de carreira das mulheres, a sua estabilidade no trabalho e até mesmo a motivação para que possam abrir os próprios negócios.

O cenário encontrado por essas empreendedoras é desafiador. Um mapeamento da plataforma Vagas.com publicado nesta sexta-feira (8/3), Dia Internacional da Mulher, mostra que mulheres são maioria em cargos operacionais (77%), mesmo as que têm maior grau de formação acadêmica. Nas funções de liderança, em que são minoria, há uma grande disparidade salarial (51%). A média de remuneração para mulheres líderes é de R$ 7,3 mil, enquanto os homens recebem em média R$ 11 mil nos mesmos postos.

Além disso, as mulheres têm dificuldade de manter a estabilidade no trabalho após se tornarem mães. O diagnóstico de um estudo publicado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) em 2022 é de que os efeitos do nascimento de um filho são diferentes para homens e mulheres dentro das empresas. Mulheres com filhos têm participação no mercado de trabalho 33,05% menor do que os homens na mesma condição.

Um dos motivos para isso é que existem culturas corporativas que impedem que a equidade de gênero avance, explica Margareth Goldenberg, gestora executiva do Movimento Mulher 360, organização empresarial pelo empoderamento feminino. Para ela, as organizações ainda precisam avançar em políticas de promoção de oportunidades equitativas como mentorias para aceleração de carreiras femininas, soluções de trabalho flexíveis e pró-família, retenção de talentos femininos e banimento de microagressões de gênero.

Por isso, diz a consultora, a atuação de empreendedoras mulheres para intervir nessa realidade é fundamental, uma vez que conhecem de perto esses desafios. “A maioria das mulheres fundadoras destas organizações veio do mercado, eram executivas. Além de conhecerem o cenário, vivenciaram os desafios da carreira feminina no segmento corporativo, e desenharam as soluções focadas nos desafios já existentes”, avalia.

Conheça seis empreendimentos liderados por mulheres com soluções voltadas para o público feminino nas empresas:

1. B2Mamy

Dani Junco é CEO da B2Mamy — Foto: B2Mamy
Dani Junco é CEO da B2Mamy — Foto: B2Mamy

Criada em 2016, em São Paulo, a socialtech B2Mamy foi idealizada pela empreendedora Dani Junco depois de engravidar e ouvir que precisava escolher entre ser mãe ou ser CEO. Desde então, o negócio se tornou um hub de aceleração para formação de mães líderes e já impactou mais de 100 mil pessoas.

Para empresas, a startup criou o programa B2Mamy Lover Corporate, um benefício corporativo com foco na saúde mental de mães e mulheres no ambiente de trabalho. Com planos que podem ser acessados por valores mensais a partir de R$ 139,99 por funcionária, a B2Mamy oferece desde consultas médicas até formação em finanças pessoais.

“O programa promete oferecer um refúgio tanto online quanto offline para mulheres e mães, permitindo trocas de experiências, mentorias e conteúdo específico relacionado ao bem-estar parental”, diz Junco.

2. Plure

Jheny Coutinho fundou startup Plure durante o primeiro ano de pandemia de Covid-19 — Foto: Plure
Jheny Coutinho fundou startup Plure durante o primeiro ano de pandemia de Covid-19 — Foto: Plure

Em 2020, a empreendedora Jheny Coutinho fundou a Se Candidate, Mulher! durante a onda de demissões ocorrida no primeiro ano da pandemia de covid-19. No início, o negócio funcionou como uma plataforma de capacitação para mulheres sobre currículo, entrevistas e outros temas relacionados à recolocação no mercado de trabalho.

Com o tempo, começou a chamar a atenção de grandes empresas preocupadas com a diversidade e retenção feminina. Foi então que Coutinho idealizou a Plure, uma HRtech com foco em B2B. Para conectar empresas a mulheres plurais, a startup oferece soluções corporativas voltadas a atração, employer branding e outplacement que conectam o RH a mulheres negras, PcD, LGBTI+, +50, mães e outros recortes similares.

De acordo com a Plure, as iniciativas já foram utilizadas por mais de 50 grandes companhias, incluindo nomes como Heineken, Tigre, Renault e Samarco, com uma média de 5 mulheres empregadas por dia.

3. Mãe-Estar

Aline e Thais são fundadoras da Mãe-Estar — Foto: Arquivo pessoal
Aline e Thais são fundadoras da Mãe-Estar — Foto: Arquivo pessoal

Mãe e executiva, a empreendedora Aline Pedrazzi viveu na pele as dificuldades de manter a saúde mental ao conciliar maternidade e trabalho. Em 2020, ela pediu demissão do cargo de gerência em um grande hospital de São Paulo e decidiu empreender naquilo que se tornou o seu propósito de vida desde 2017, quando sua primeira filha nasceu: contribuir para melhorar a saúde mental das mães do país.

Foi com esse propósito que Pedrazzi criou a healthtech Mãe-Estar, que tem seu principal mercado no B2B, com empresas comprometidas com a agenda ESG. Para as companhias, a startup oferece um programa de assistência integral às mulheres na jornada da maternidade, com canal de apoio emocional, rastreio para questões de saúde mental, educação perinatal, e programa de atividades físicas e nutrição, entre outros. Mais 600 mulheres já passaram pelo serviço.

O foco da startup são as colaboradoras gestantes e mães até 2 anos após o parto ou com perda gestacional. “Sabemos hoje que a mulher vive uma carga mental invisível, mas extremamente adoecedora. É humanamente impossível dar conta de todas as responsabilidades que historicamente vêm sendo depositadas sobre nós mulheres sem adoecer”, diz Thais Vieira, cofundadora e CFO da Mãe-Estar. “Temos certeza de que em alguns anos teremos orgulho de dizer que contribuímos para mudar este cenário.”

4. UX para Minas Pretas

Karen Santos e Germanna Rosa são fundadoras da UX para Minas Pretas — Foto: UX para Minas Pretas
Karen Santos e Germanna Rosa são fundadoras da UX para Minas Pretas — Foto: UX para Minas Pretas

Cofundada em 2021 pelas empreendedoras Karen Santos e Germanna Rosa, a edtech UX para Minas Pretas nasceu com o propósito de redefinir o acesso das mulheres negras ao setor de tecnologia e design de experiência do usuário (UX). Segundo dados da startup, o negócio já registrou alcance orgânico de mais de 100 mil pessoas e mantém uma plataforma de capacitação técnica de profissionais negras em habilidades digitais.

Os serviços B2B da startup envolvem formações em UX e capacitações complementares em carreiras digitais, consultoria em Diversidade e Inclusão para orientar empresas na criação de um ambiente de trabalho orientado à inserção de mulheres negras no ecossistema tecnológico, e recrutamento especializado focado na seleção de talentos femininos negros.

“Com seu papel pioneiro na formação de mulheres negras em tecnologia e design UX, a UX para Minas Pretas não apenas altera a composição do setor tecnológico, mas também oferece às empresas uma via concreta para alcançar seus objetivos ESG, destacando-se como um parceiro essencial na construção de um futuro tecnológico mais inclusivo, diversificado e responsável”, comentam as gestoras.

5. Filhos no Currículo

Camila e Michelle são fundadoras da Filhos no Currículo — Foto: Patrícia Canola | Filhos no Currículo
Camila e Michelle são fundadoras da Filhos no Currículo — Foto: Patrícia Canola | Filhos no Currículo

Mãe de dois filhos, a empreendedora Michelle Terni tentou conciliar a maternidade e o trabalho, mas entrou para as estatísticas do mercado ao deixar o emprego para cuidar da família. A situação motivou a criação em 2019 da consultoria Filhos no Currículo, que fundou em parceria com a sócia, Camila Antunes. O negócio é focado em serviços B2B voltados para transformação cultural, com consultorias e palestras, além de programas de parentalidade corporativos.

“O foco é construir uma cultura de bem-estar parental nas empresas por meio de lideranças mais bem preparadas, times empáticos e políticas internas que sejam acolhedoras e inclusivas para quem concilia filhos e carreira”, explica. “A Filhos no Currículo atua a partir dos pilares de sensibilização, consultoria e engajamento em temas como inteligência emocional, equidade de gênero e parentalidade.”

De acordo com a empresa, a consultoria já atuou com grandes companhias, como Pepsico, B3, Ambev, Gerdau, Cielo, Nubank, Ambev e Grupo Raia Drogasil. Entre os resultados, estão a diminuição de uma média de 33% da rotatividade de mulheres após a licença-maternidade.

6. Todas Group

Dhafyni Mendes é cofundadora do Todas Group — Foto: Todas Group
Dhafyni Mendes é cofundadora do Todas Group — Foto: Todas Group

O ecossistema Todas Group foi criado em 2020 com foco na aceleração de carreiras femininas e formação de mulheres líderes. As mentorias contratadas são oferecidas às colaboradoras em uma plataforma online e um aplicativo. O programa oferece cursos com mentoras de referência na América Latina e soluções para diferentes estágios de carreiras.

“O Todas foi criado unindo neurociência e modelagem de líderes referências de mercado na execução de habilidades e metodologias para o desenvolvimento contínuo dos agentes de transformações para liderança feminina”, diz Dhafyni Mendes, cofundadora da empresa. “Desenvolvemos na prática, com resultados reais, um passo de cada vez para cada estágio de carreira até a alta liderança.”

Segundo a empreendedora, o negócio já impactou o crescimento profissional de mais de 30 mil mulheres em empresas de mais de 10 segmentos diferentes.

Empresas precisam se abrir à mudança

Para que as soluções apresentadas pelas empreendedoras gerem frutos concretos, as empresas precisam estar verdadeiramente abertas à transformação. Conforme Bruna Simoni, Head de Pessoas, Estratégia e Cultura na HRTech Dialog, as estratégias de comunicação interna e de mudanças de cultura corporativa são as principais aliadas das companhias para isso.

“A comunicação interna desempenha um papel crucial na promoção da equidade de gênero dentro das empresas, pois fornece uma estrutura para disseminar informações, promover a conscientização e criar uma cultura organizacional viva. No entanto, tudo isso só é possível se as lideranças estiverem dispostas a fomentar essa transformação no ambiente de trabalho”, adverte a especialista.

Como grandes mudanças estruturais não acontecem da noite para o dia, Simoni acrescenta que é necessário haver um compromisso contínuo da empresa e a implementação de políticas inclusivas, com metas claras e indicadores mensuráveis, que repensem a cultura organizacional e conquistem o engajamento das lideranças. “Estar ciente desses problemas e mostrar disposição para solucioná-los é o que coloca as empresas à frente na corrida para promover ambientes de trabalho equitativos, respeitosos e inclusivos”, complementa a analista.

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