Em busca de novos caminhos para crescimento, empresas têm buscado, cada vez mais, a rota de fusões e aquisições. No trimestre de 2024, por exemplo, foram realizadas 426 transações de M&A, segundo a KPMG, um crescimento de quase 17% em relação ao mesmo período de 2023. Muitas dessas movimentações envolveram empresas franquedoras. Recentemente, por exemplo, a Zamp, máster-franqueada do Burger King e Popeyes no Brasil, fechou o acordo para representar a marca Subway. Em agosto, a Arezzo e Soma fecharam um acordo de fusão e formaram a Azzas 2154.
O tema foi destaque da 2° Edição do Praxis Summit, evento promovido pela consultoria de negócios Praxis Business, que aconteceu em São Paulo, nesta terça-feira (12/11). O seminário trouxe visões sobre M&A em redes de franquias, tanto das empresas franqueadoras quanto de fundos de investimentos.
“Hoje estamos vendo holdings de marcas franqueadoras, grandes aquisições e integrações, o que mostra uma grande evolução no sistema. Em 2012 eram sete empresas do setor com capital aberto na Bolsa de Valores brasileira, hoje temos mais de 45, isso mostra uma geração de valor”, afirma Adir Ribeiro, CEO e fundador da Praxis Business.
Renata Vichi, CEO do Grupo CRM, dono das marcas Kopenhagen e Brasil Cacau, contou sobre o processo de aquisição da sua companhia pela Nestlé – finalizado em fevereiro deste ano. Segundo ela a sinergia entre os negócios não foi afetada, isso porque a multinacional soube “reconhecer o valor que existe na CRM”.
“Hoje, eu vejo a cultura dos fundadores sendo levada para uma grande multinacional quando estamos em uma sala de reunião e todos eles sabem qual é a força motriz, o direcionamento da nossa marca, e que isso não pode ser alterado”, destacou a CEO.
De acordo com Vichi, a aquisição trouxe benefícios para a marca, pois permite que todo o grupo possa usufruir de um “ecossistema que o coloca em uma posição diferenciada”, utilizando o suporte da Nestlé, mas sem perder as suas especificidades.
“Logo após fechar o negócio, o [Marcelo] Melchior [CEO da Nestlé no Brasil] falou: ‘não entendo de franquia, a Renata está com a caneta na mão e ela vai tocar esse negócio com a mesma autonomia que tocou até aqui’. E essa nossa cultura que vem nos diferenciando, não existe outro grupo franqueador com esse suporte”, diz.
Franquias:
Quando uma empresa é comprada, é essencial que ela não perca sua essência, segundo Carlos Sadaki, conselheiro do Grupo Trigo e fundador do Gendai — a rede de restaurantes foi adquirida pelo Grupo Trigo em 2021, junto com o China in Box — e Décio Pecin, CEO do CNA+. Os empresários participaram do painel “Sell Side – Visão Vendedor”, que contou com a moderação de Bruno Semenzato, CEO do fundo de investimentos com foco em franquias SMZTO, e participação de Felipe Toja, sócio do IGC Partners, assessoria focada em M&A.
“Nós sempre tivemos um cuidado de manter núcleos essenciais para o DNA das marcas como consultoria, produtos e operações. O franqueado é um elo muito importante no nosso negócio e nós sempre o escutamos, o que foi essencial na criação do ecossistema”, destacou Sadaki.
O fundo de privaty equity Actis comprou uma participação do CNA em 2012, por R$ 135 milhões. Em 2024, a rede de idiomas adquiriu a marca de escolas de robótica e programação Ctrl+Play, e se tornou uma holding. “Nós tivemos um crescimento sustentável nos últimos 20 anos e isso trouxe a marca para a liderança no mercado de idiomas. Sempre conversamos com o franqueado, temos uma gestão muita aberta”, comentou Pecin.
O evento contou também com a presença de Adriana Auriemo, vice-presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF) e sócia-diretora da Nutty Bavarian, e Carla Sarni, CEO do Grupo Salus, dono de marcas como Sorridents e Giolaser.
Fundos buscam modelos validados e franqueáveis
Já na visão dos fundos investidores, no painel “Buy Side – Visão Investidor”, fundos e companhias que fizeram aquisições contaram como funciona o processo, os desafios e o que levam em consideração no momento da seleção das marcas. O painel contou com os executivos Peter Lohken (L Catterton) e Pedro Alves (SMZTO), Rogério Gabriel (MoveEdu) e Ricardo José Alves (Halipar).
Segundo Lohken, o fundo L Catterton, que tem em seu portfólio companhias como Petlove e Espaçolaser, busca essencialmente que a marca tenha um modelo de negócio comprovado, uma marca ou produto bem-posicionado e diferenciado, com um plano de crescimento ambicioso e crível e boas perspectivas de saída.
“É essencial que seja um modelo de negócios franqueável e que a gente consiga capturar essas sinergias na integração”, diz.
Já o SMZTO, que investe em marcas como Oakberry e L’Entrecôte de Paris, afirma que o fundo busca por modelos que tenham uma validação do mercado, com um empreendedor que tenha uma “obsessão pela linha de frente da operação”. Além disso, Alves diz que é importante que a companhia tenha potencial de liderar sua categoria e sustentar preço.
“Queremos ir muito além do capital. Somos altamente especializados, só investimos em um tipo de ativo. É importante que a marca tenha o modelo de franquia como uma das principais avenidas de crescimento. Entramos em empresas em estágio inicial, pós-validação, ou seja, redes de 30 a 200 unidades”, destacou Alves.
Rogério Gabriel, fundador do Grupo o MovEdu, responsável pelas escolas Microlins e Prepara Cursos, disse que sempre optou por ter um crescimento inorgânico, ou seja, aquele que envolve aquisição de outras empresas. O empreendedor vê essa como uma estratégia essencial para acompanhar o desenvolvimento da carreira do seu público-alvo – que abrange desde a infância até o MBA.
“Ainda podemos atingir um mercado maior. Vimos que podemos dobrar de tamanho e ainda sermos relevantes, acompanhando a carreira do jovem, por isso buscamos comprar empresas que saibam fazer isso (educação) e que tenham uma governança e gestão madura para ‘engolir’ a compra”, comentou o executivo.
Por fim, Ricardo José Alves, da Halipar, grupo que possui um portfólio com marcas como Montana Grill e Griletto, afirma que os fundadores são partes essenciais dos negócios. Dessa forma, o grupo olha os valores daquela companhia e do empreendedor à frente da operação.
“Se é uma empresa que partiu de bons valores, ela tem como crescer sustentavelmente. Além disso, na hora de integração, com o modelo certo, será muito mais fácil de capturar as sinergias. Porque eu acho que tem que ser um negócio somado”, acrescenta Alves.