Ser de uma família de empreendedores sempre inspirou Geórgia Tessari Pegoraro a querer ter seu próprio negócio. “Minha família tem uma distribuidora há quase 47 anos, mas sempre quis algo que saísse das minhas mãos”, diz a jovem de 22 anos. Para manter a ligação com a família, chamou sua mãe, Daniane Tessari Pegoraro, 49, para ser sua sócia.
Juntas, fundaram a Ara Bleu, e-commerce de moda feminina que tem o objetivo de contar a histórias do Brasil por meio de suas roupas. Com sede em Joaçaba (SC), o negócio bateu o faturamento de R$ 1 milhão em fevereiro deste ano, com vendas via site e WhatsApp.
A mãe, que é formada em moda, fica responsável pela parte criativa, enquanto a filha atua ao lado da gestão — mas também opina nos produtos. Desde setembro de 2021, seis coleções foram lançadas: Cores do Brasil, Anita Garibaldi, Brasileira, Vitória Régia, Fernando de Noronha e Café.
O nome da empresa é inspirado nas araras azuis, que são uma paixão da jovem. “Elas representam muito o Brasil e são aves incríveis”, afirma. A empreendedora adota um ninho por ano por meio do Instituto Arara Azul.
Expandir conhecimento sobre o Brasil
Geórgia estava em intercâmbio para cursar o primeiro ano do ensino médio em Nova York, nos Estados Unidos, quando passou por situações que a inspiraram a criar o conceito da Ara Bleu. “Morando lá, em 2017, percebi que o Brasil era muito desvalorizado por falta de conhecimento. Aprendendo sobre o governo de outros países e ouvindo pessoas do mundo inteiro contando seus problemas e vi que nem os próprios brasileiros entendiam que o nosso país é uma potência. Temos uma síndrome do vira-lata que faz com que não valorizemos o que está aqui dentro”, diz.
Após concluir o ensino médio no Brasil, no final de 2019, ela decidiu que queria empreender. “Durante o almoço, olhei para minha mãe e perguntei se ela teria interesse em começar uma marca juntas”, diz a jovem. A partir deste momento, começou a estudar sobre o mercado de moda. “Minha mãe tinha experiência com artes e costura, mas eu não entendia o suficiente”, afirma a jovem, que leu livros e relatórios a respeito do setor.
“Ao mesmo tempo, estava iniciando minha faculdade de ciências contábeis. Joaçaba não é um polo têxtil, então eu não tinha informações sobre tecidos e costura nas proximidades. Eu e minha mãe moramos alguns meses na casa da minha avó, em Balneário Camboriú, porque era mais próximo para ir até Itajaí e Florianópolis, onde eu tinha mais contato com esse mundo”, afirma. “Aprendi muito conversado com modelistas, costureiras e fornecedores.”
A previsão era lançar a primeira coleção em 2020, mas os produtos não ficaram prontos a tempo. O lançamento oficial ocorreu no ano seguinte. “Nossa ideia era fazer toda a produção com pequenas costureiras de bairro porque eu queria valorizar os profissionais locais. Mas o processo se tornou insustentável, porque o resultado não ficava padronizado em questão de qualidade. Eu não tinha controle do que estava acontecendo, e se as peças seriam entregues. Tudo gerou muita insegurança e vi que não conseguiria ter duas coleções por ano”, afirma.
A primeira coleção foi lançada em setembro de 2021, com o nome “Cores do Brasil”. Para isso, as empreendedoras mapearam as cores que fariam sentido de acordo com cada região, baseando-se em cultura, clima, comidas típicas e festividades.
A empresa apostou em parceria com influenciadoras digitais para divulgar seus produtos. “Mandamos press kit com aquarela para que elas pintassem as cores do Brasil. Era uma caixa muito bonita, com flores, chocolate e algumas peças da marca”, afirma. “Também tive apoio de pessoas próximas, como amigas e familiares, para fazer a divulgação.”
Na segunda coleção, a empreendedora decidiu não trabalhar mais com as costureiras de bairro. “Apesar de não ser o que eu queria no início, tive que procurar uma fábrica maior para produzir as peças”, afirma. “Também mudei o fornecedor de tecido que melhorou muito a qualidade. Aprendi muito com ele, e hoje consigo tocar em um tecido e saber sua composição.”
Anita Garibaldi foi a personagem escolhida para a segunda linha de peças. “Foi um sucesso absoluto e a grande virada de chave do negócio”, diz.
O crescimento da empresa se deu por divulgação das próprias clientes, diz a empreendedora. “Além do produto, nossa embalagem chama atenção porque é muito bonita. Também tem um cheiro próprio da marca. As consumidoras publicam imagens nas redes sociais, e chamam outras pessoas para conhecer”, diz.
Vendas internacionais estão nos planos da Ara Bleu. “Queremos vender para pessoas de outros países para cumprir o propósito de espalhar conhecimento sobre o Brasil, então, em breve planejamos ter um e-commerce internacional”, afirma. No Brasil, a empreendedora deve expandir os canais de venda para mais multimarcas — atualmente, vende em uma loja em Florianópolis. “Não temos loja física, então será possível ter um contato mais próximo com as clientes, mesmo que de forma indireta.”