No vibrante cenário culinário da Vila Mariana, e criada a partir de uma necessidade pessoal — a descoberta de uma alergia ao glúten — a Les Ammies, primeira pizzaria napolitana sem glúten do Brasil em São Paulo, não apenas oferece pizzas inclusivas, mas também se tornou um símbolo de inovação em um setor em expansão. “Embora pareça loucura, adotar uma estratégia inovadora foi essencial para competir em um mercado dominado por grandes investidores. Estou provando que é possível criar algo único, com baixo investimento, muito esforço e uma visão clara”, conta a idealizadora do projeto, Ammie Graves.
A intolerância ao glúten ou doença celíaca, uma condição autoimune em que o sistema imunológico reage ao glúten, é um problema para cerca de 2 milhões de brasileiros, segundo a Associação dos Celíacos do Brasil (ACELBRA). O mercado global de alimentos sem glúten foi avaliado em mais de US$ 6 bilhões em 2023, e a Les Ammies se posiciona como referência ao atender tanto pessoas com restrições alimentares quanto consumidores em busca de uma alimentação mais saudável e consciente.
A trajetória de Ammie Graves, também reflete o crescimento do empreendedorismo feminino no Brasil. Segundo o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), as mulheres já representam cerca de 50% dos novos negócios no país. “A criação da Les Ammies foi minha resposta a um desafio pessoal, mas também uma forma de mostrar que é possível empreender com propósito e inclusão. Tive a oportunidade de acompanhar a abertura de restaurantes milionários e decidi seguir um caminho mais orgânico, sem grandes investidores, mas com muito planejamento”, ressalta Ammie.
A empresária, desenvolveu um mix de farinhas exclusivo que reproduz a textura e o sabor das massas napolitanas tradicionais, fruto de sete anos de pesquisas e muitos testes. A escolha de não utilizar a tradicional farinha italiana sem glúten, que é produzida a partir da extração do amido de trigo desglutenizado, reflete uma decisão estratégica e fundamentada em segurança alimentar. Embora o processo de desglutenização tenha como objetivo remover o glúten, essa farinha ainda pode conter traços dessa proteína, o que representa um risco significativo para pessoas com alta sensibilidade.
Esse ingrediente, mesmo após o processamento, pode conter até 20 partes por milhão (ppm) de glúten, o que ultrapassa o limite considerado seguro para muitas pessoas celíacas ou com sensibilidade ao glúten. De acordo com a legislação brasileira, um alimento é considerado “isento de glúten” se contiver, no máximo, 10 ppm dessa proteína. “Não terceirizamos a farinha e temos controle absoluto do processo de produção, desde a compra das farinhas base diretamente do produtor até a elaboração das proporções do mix, sem aditivos químicos como goma xantana ou processos industriais. Diferente da famosa farinha italiana sem glúten, que utiliza extração da proteína do glúten e ainda contém amido de trigo, desenvolvemos um produto puro, preservando a qualidade artesanal”, explica a empresária.
A influenciadora, que partiu do zero e começou esse sonho com a venda de um carro, conta sobre a sua participação nos negócios. “Assumo múltiplos papéis: sou a responsável pelo cardápio, fichas técnicas e toda a operação na cozinha. Essa abordagem multitarefa tem sido essencial para manter custos baixos e garantir qualidade”, diz ela.
A pizzaria, localizada em São Paulo, se tornou referência em inclusão, com opções veganas e ambiente pet friendly. Ela destaca que, “Não é apenas uma pizzaria, é uma experiência. Nosso objetivo é garantir que todos possam desfrutar de uma boa pizza, independentemente de suas restrições alimentares”.
Com casas cheias todos os finais de semana e a expectativa de recuperar o investimento em apenas três meses — um feito raro no setor de restaurantes —, a Les Ammies planeja expandir suas operações em 2025. “Apesar dos desafios iniciais, estamos provando que nosso modelo não convencional funciona, e a expansão está em nossos planos”, conclui Ammie.
Ao transformar desafios em oportunidades, Ammie Graves e a Les Ammies demonstram como inovação, propósito e empreendedorismo feminino são os ingredientes para o sucesso sustentável.
