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Inovação além da bancada: conheça 6 deep techs que integram o Pit, em São José dos Campos

Fonte: Redação

Como costumam surgir a partir de pesquisas realizadas nas universidades, é comum que deep techs se integrem a ambientes e ecossistemas de inovação para irem além da técnica, recebendo mentorias sobre negócios e conectando-se a potenciais clientes. Foi o caso das startups Café Nosso Grão, Id-Subsea e Autaza, integrantes do Parque de Inovação Tecnológica (Pit), em São José dos Campos (SP).

“Hoje temos 64 parques tecnológicos no Brasil e mais umas duas dezenas em processo de implantação. Esses ambientes oferecem uma plataforma de serviços e de espaço físico subsidiado para apoiar o surgimento e o crescimento das empresas. A pesquisa na universidade atinge um grau de maturidade e, depois, a startup precisa de uma empresa para validar o potencial. Parques e incubadoras são importantes para ajudar o cientista nisso”, explica Adriana Ferreira de Faria, presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec).

O Pit foi o anfitrião da 34ª Conferência da Anprotec. Fundado há 18 anos, o ambiente de inovação tem 260 empresas associadas e 196 residentes, com mais de 90% de ocupação em 2023. Segundo o relatório de atividades do ano passado, 60% dos clientes são instituições públicas federais.

A Nestlé é uma das empresas que integram o Pit. No escritório, oito pessoas – sendo seis pesquisadores do Instituto Euvaldo Lodi – trabalham em ideias para melhorar os processos fabris da companhia. A escolha pelo ambiente de São José dos Campos se deu pela maturidade do parque tecnológico e pela proximidade com a fábrica produtora de KitKat, referência em transformação digital da Nestlé, localizada a 11 quilômetros, em Caçapava (SP).

Desde outubro de 2020, quando inaugurou o espaço no Pit, a companhia já fez mais de 30 chamados de inovação aberta para encontrar startups de todo o Brasil que possam solucionar seus desafios. Segundo Pedro Silva, gerente de transformação digital e inovação aberta da Nestlé, 12 projetos passaram pelas fases de testes na bancada do escritório e prova de conceito e agora estão em desenvolvimento nas fábricas.

Espaço do Centro de Inovação Tecnológica da Nestlé no Pit — Foto: PEGN
Espaço do Centro de Inovação Tecnológica da Nestlé no Pit — Foto: PEGN

O gerente afirmou que o intuito de estar em um parque tecnológico era conseguir acesso a startups para trabalhar em parceria. “Se a gente não tivesse esse escritório, não teria muito acesso para modelar tecnologias que estão surgindo a partir das nossas necessidades nas fábricas. Soluções de prateleira exigem adequação, é mais oneroso e leva tempo. Aqui temos acesso à tecnologia de ponta, ao que é mais novo no mercado e às pessoas que pensam diferente de nós”, opina.

As startups podem entrar no Pit pelo Nexus, o hub de inovação do parque tecnológico que atende as empresas desde a ideação até a escala. Cerca de 150 startups fazem parte do ecossistema fundado em 2016 para oferecer programas de aceleração, mentorias de negócios e incubação. A taxa associativa básica é de R$ 200 por mês. As integrantes já receberam mais de R$ 200 milhões em financiamentos públicos e R$ 37 milhões de investidores privados.

Conheça seis startups integrantes do Pit, em São José dos Campos (SP):

Thalita Naressi, fundadora da Café Nosso Grão — Foto: PEGN
Thalita Naressi, fundadora da Café Nosso Grão — Foto: PEGN

A foodtech fundada por Thalita Naressi trabalha com o enriquecimento do café para reposição de proteína e outros nutrientes. A nutricionista teve a ideia para o negócio em 2021, quando supervisionava estágios de futuros colegas de profissão e se deparou com a dificuldade da população em ter acesso a alimentos que promovem o emagrecimento de forma saudável. “A cesta básica só tem arroz, feijão e, no máximo, sardinha com riqueza alimentar. A bebida mais consumida do mundo é o café. Me inspirei em políticas públicas de enriquecimento alimentar para suprir as necessidades e transformar a vida das pessoas sem inventar a roda”, conta, citando como exemplo o enriquecimento da farinha com ácido fólico e ferro.

Startups:

Ela iniciou o mestrado em engenharia mecânica na Universidade de Taubaté em 2022 para estudar a ideia em laboratório. Conectada ao ambiente de inovação desde 2019, quando criou outra startup conectada ao trabalho que desenvolvia em clínicas, ela sempre soube que transformaria a pesquisa em produto.

“Eu quis trazer a inovação para a nutrição, a parte acadêmica normalmente fica dentro da universidade, mas como empreendedora, eu acho que se a academia não estiver ligada a um CNPJ a gente não ganha como sociedade. O papel aceita muita coisa, mas a prática não”, declara.

O enriquecimento é feito a partir de uma fórmula desenvolvida por Naressi, a partir de substratos proteicos, fibras, vitaminas e micronutrientes como ferro, zinco, magnésio, que acaba de ser depositada para patente. Enquanto não conquista o registro, a startup faz as vendas pelas redes sociais – o pacote de 250g é vendido a R$ 41,90. Para chegar a um maior número de pessoas, a fundadora aposta no B2B, como empresas de cesta básica, e no B2G.

Rande Alonso (IVIC), João Castro (Id-Subsea) e Vitor Fortes (MISSIM) — Foto: PEGN
Rande Alonso (IVIC), João Castro (Id-Subsea) e Vitor Fortes (MISSIM) — Foto: PEGN

A Id-Subsea surgiu em 2016, quando Renan Ocampo e João Castro trabalhavam no setor de óleo e gás em Macaé (RJ). A experiência mostrou que existiam dores da indústria em relação a suporte e manutenção de equipamentos para aplicação subaquática em plataformas. Eles resolveram empreender e criaram a startup, inicialmente incubada pela Escola Técnica Francisco Moreira da Costa, em Santa Rita do Sapucaí (MG).

Um ano depois, eles sentiram a necessidade de participar de um ecossistema mais robusto e receber mentorias de negócios, então ingressaram no Pit. “Desde então, além de continuar atendendo clientes do mercado de óleo e gás com a prestação de serviços, surgiu o desejo de nos tornar uma fornecedora de produtos. O parque nos abriu portas, mostrou vertentes, apresentou outros segmentos e leads”, conta Castro, COO da Id. Com essa nova abordagem focada em produtos, a Id espera dobrar o faturamento bruto.

O primeiro spin-off é a MISSIM, que desenvolve soluções de simulação para treinamento de profissionais. A startup nasceu com a prestação de serviços dentro da Id, mas se tornou outra empresa pela necessidade de segmentação de negócios – enquanto a startup mãe segue focada em óleo e gás, a filha foi idealizada para atender outros setores. Vitor Fortes assumiu o comando da startup.

Além de dois softwares de ‘prateleira’ para robôs autônomos e serviços portuários, a deep tech também atende demandas específicas de empresas, replicando equipamentos ou plantas dos clientes no ambiente virtual. “Além da segmentação dos negócios, sentimos a necessidade de regularizar as atividades de forma fiscal porque as empresas têm CNAEs diferentes, roupagens diferentes”, pontua Castro.

A outra spin-off é a IVIC, que também nasceu dentro da Id, a partir de um projeto desenvolvido para uma multinacional alimentícia. A ideia era usar os robôs para inspecionar e fazer a limpeza de ambientes que apresentam riscos para humanos. A prova de conceito ainda não foi adotada oficialmente nas fábricas, mas a startup percebeu que havia mercado para a automação além do setor de óleo e gás.

A nova startup foi constituída em março de 2024 e também integra o ambiente do Pit. Desde então, iniciou negociações com algumas empresas e fechou um contrato. “Trabalhamos com robótica sob demanda, visando trabalhos em espaços confinados, em altura, para retirar o risco do operador. Isso ganha força ao apresentar o projeto, no convencimento, mas por não ser de algo prateleira, as diretorias ficam receosas e leva mais tempo para provar que funciona”, afirma Rande Alonso, CEO da IVIC.

Castro conta que a ID recebeu uma sondagem de uma grande empresa do setor de óleo e gás recentemente. “Estamos trabalhando na estruturação de muitos documentos contábeis, fiscais, para caminhar para due diligence. Eles querem ser investidores ou proprietários. Já recebemos propostas antes, mas nenhum smart money igual a esse”, revela.

Bianca Leal, da Autaza e da Colorize — Foto: PEGN
Bianca Leal, da Autaza e da Colorize — Foto: PEGN

A tecnologia utilizada para inspeção e detecção de defeitos em peças foi criada por Renan Padovani e Enivaldo Amaral em 2016, no Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA). A partir da demanda da General Motors, eles direcionaram o estudo para a indústria automotiva. No mesmo ano, a startup foi incubada no Pit para desenvolver o modelo de negócios. A entrada no parque trouxe o próximo cliente: Embraer. Os sócios viram que a mesma técnica podia ser aplicada em outras indústrias.

“A gente foi se especializando em visão computacional e inteligência artificial para indústrias. Desenvolvemos softwares e hardwares para instalar na linha de produção para um olhar de inspeção automatizado, sem depender de um processo subjetivo. Geramos relatórios e sinalizamos quando há necessidade de interromper a produção”, explica Bianca Leal, diretora de negócios da Autaza.

A deep tech opera com a venda e o aluguel de equipamentos, como robôs, câmeras e monitores, e com o licenciamento do software. A Autaza também realiza o acompanhamento para eventuais atendimentos. Em média, um projeto robusto custa R$ 500 mil. Desde 2019, a startup também tem um escritório nos Estados Unidos, onde atende empresas como General Motors e Toyota.

“Recebemos muitas visitas de empresas que vêm ao parque e acabam conhecendo a nossa tecnologia. Assim surgem oportunidades de negócio, além dos projetos que fazemos com empresas integrantes do Pit”, comenta Leal.

A Colorize surgiu inicialmente com o atendimento de uma demanda da BASF para análise de cores. Depois, outra indústria procurou a startup para desenvolver uma solução para a mesma dor, com foco na funilaria de automóveis. O interesse acendeu um alerta dentro da Autaza: existe um mercado a explorar.

A unidade de negócios foi estruturada em agosto de 2024 para atender novos projetos no segmento de saúde e beleza. “A gente queria entrar em outros mercados e se posicionar para o varejo para ter uma recorrência. Nossos projetos da Autaza são muito robustos, com tíquetes mais altos, as negociações demoram. Queríamos algo mais rápido, com escalabilidade maior”, afirma.

Por enquanto, a Colorize ainda não criou o seu próprio CNPJ. Segundo Leal, foi uma decisão estratégica dos sócios da Autaza, que optaram apenas pela distinção no nome, identidade visual e comunicação.

*A jornalista viajou a convite da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec).

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