O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta sexta-feira (10/1) que a inflação oficial do Brasil em 2024 atingiu 4,83%, ultrapassando o limite estabelecido pela meta do governo. O resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) impacta diretamente os empreendedores, pois afeta custos de insumos, consumo e taxa básica de juros.
“Setores como alimentação e transporte, que dependem de commodities, sentiram maior pressão ao longo do ano. Houve aumentos expressivos em produtos como cacau, café, azeite, abacate e outros alimentos. Empresas que utilizam esses insumos em seus produtos sofreram uma elevada pressão nos custos”, diz Marcos Piellusch, professor da FIA Business School.
Em dezembro, o IPCA registrou alta de 0,52%. A meta de inflação definida para o ano era de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual (p.p.) para mais ou para menos, o que permitia variação entre 1,5% e 4,5%. No entanto, o IPCA de 2024 fechou 0,33 p.p. acima do teto da meta. Esse resultado representa o índice mais elevado desde 2022, quando a inflação foi de 5,79%.
A inflação também impacta a taxa básica de juros, já que uma das ações para controlá-la é aumentar a Selic — o que aumenta o custo do crédito para empreendedores, especialmente pequenos e médios negócios que dependem de financiamentos, diz Piellusch. “Para 2025, a expectativa de alta na Selic torna o crédito mais caro e reduz o apetite dos consumidores por financiamentos, o que pode impactar as vendas.”
Para Emerson Rabelo, consultor de negócios do Sebrae-SP e economista, o momento exige que o empreendedor pare de “dirigir no piloto automático”. “Será um ano de grande desafio para os donos de empresas, que precisam analisar custos e despesas, revisar seus preços e realizar uma gestão financeira bastante eficiente. É preciso fazer um estudo do negócio e entender quais são os gargalos em que é possível reduzir custos”, afirma. Em sua visão, o reajuste de preço deve ser em último caso:
“Os consumidores podem acabar trocando os produtos que estão acostumados, e isso reduz o faturamento das empresas. Consequentemente, o lucro é afetado e, em casos mais graves, a organização pode ser encerrada.”
Apesar de concordar que o ano será desafiador para empreendedores, André Sacconato, economista da FecomercioSP, diz que a boa notícia é que o mercado de trabalho continua aquecido — tornando a população mais propensa a ter dinheiro para fazer compras. “Até a Páscoa, pelo menos, podemos esperar um cenário de boas vendas. Porém, depois disso será mais difícil.”
Dicas de gestão para empreendedores em um cenário de alta inflação
Os empreendedores podem adotar algumas estratégias para adaptar os seus negócios neste cenário. Confira:
- Negociação com fornecedores. O economista da FecomercioSP sugere que os empreendedores busquem formas de baratear sua produção, especialmente na busca por insumos. “Essa dificuldade que o empreendedor enfrentará na ponta chegará ao longo da cadeia. Com o tempo, ele começará a ganhar poder de barganha e deverá ampliar seu leque de fornecedores, buscando melhores condições e oportunidades de negociação”.
- Otimizar processos. Esta é uma forma de aumentar a eficiência e reduzir desperdícios, diz Piellusch. “Para a indústria, atualizar as máquinas e os processos é fundamental para melhorar a eficiência da produção”, exemplifica Sacconato.
- Fundo para emergências. O professor da FIA Business School sugere “reservar capital para lidar com oscilações no nível de atividade e priorizar investimentos que gerem retorno direto”.
- Diferenciação e relacionamento com clientes. Busque diferenciar seu produto ou serviço de forma a encantar o consumidor, fazendo com que ele perceba valor e esteja disposto a pagar um pouco mais para acessar o seu negócio, sugere o economista da FecomercioSP. Também vale a pena melhorar o relacionamento com consumidores, criando “campanhas de fidelização para manter a base de clientes ativa, mesmo em períodos de queda no consumo”, diz Piellusch.
- Dica extra: atenção a indicadores econômicos. Melhor do que se adaptar a cenários é se planejar, diz Sacconato, que sugere que os pequenos empreendedores acompanhem indicadores econômicos com frequência. “Ficar atento ao cenário macroeconômico não é coisa de grande empresa, é para todas. Por exemplo, se o negócio sabe que os juros vão aumentar, já pode antecipar seus processos para se antecipar nas medidas.
Reajuste de preço, a última escolha
Os especialistas consultados por PEGN concordam que aumentar o preço para o consumidor final deve ser a última medida. Porém, caso seja necessária, é importante tomar certos cuidados. O primeiro passo é realizar um cálculo detalhado de custos — produção, logística e outros itens impactam o preço final.
“Um aumento de 10% no custo de insumos, por exemplo, não implica necessariamente no mesmo aumento no preço final, dependendo da composição do produto”, afirma o professor da FIA Business School. Ele também sugere que o empreendedor realize testes com pequenos reajustes em alguns produtos para avaliar o impacto que o aumento pode ter na decisão de compra dos consumidores.
Por fim, é fundamental realizar uma comunicação transparente. “Caso o reajuste seja necessário, comunicar de forma clara e honesta aos clientes é essencial para minimizar impactos negativos”, afirma o professor da FIA Business School. “Uma empresa de serviços pode anunciar um aumento de preço atrelado a melhorias na entrega ou na qualidade, mostrando ao cliente que o valor extra será convertido em benefícios reais.”