O franchising tem se tornado mais atrativo para o empreendedorismo feminino nos últimos anos. Em diversas redes, elas já são maioria entre os franqueados. A razão para isso, na visã de Cristina Franco, presidente do conselho da Associação Brasileira de Franchising (ABF), é o auxílio de redes de apoio, programas de mentoria e maior acesso a recursos tecnológicos, como formações à distância.
Contudo, apesar das conquistas, ainda existem barreiras como o preconceito, a sobrecarga de funções e a dificuldade no acesso a crédito. Franco ainda cita desafios como a necessidade de provar a competência boa parte do tempo.
“Notamos também uma maior dificuldade de acesso a crédito e financiamentos. Além da sobrecarga e do acúmulo de funções ainda comuns que dificultam conciliar vida profissional, pessoal e familiar”, diz Franco.
Para ela, a saída está em programas de diversidade e no apoio entre as mulheres que contam com uma liderança com componentes mais emocionais e buscam uma maior cooperação e inclusão. “Elas demonstram maior solidariedade e empatia, fatores muito importantes para manter a coesão e motivação das equipes, ainda mais no franchising que se caracteriza por um trabalho em rede”, destaca.
Mulheres empreendedoras:
Esse apoio descrito por Franco foi essencial para a trajetória de empreendedorismo da paulista Vanessa Fernandes, 42 anos. Ela começou sua jornada profissional aos 14 anos, trabalhando em uma agência de publicidade. Após passar por uma imobiliária e um hospital, se casou e dedicou 12 anos à vida familiar.
Em 2018, Fernandes decidiu empreender e, com o apoio do marido, investiu R$ 270 mil e se tornou a primeira franqueada da rede de estética Royal Face com a loja na Vila Carrão, na Zona Leste de São Paulo.

“Eu queria algo que me permitisse impactar a vida de outras mulheres, para que elas pudessem se cuidar”, diz. “Decidi apostar no franchising pela segurança e suporte que temos e isso me deu força para empreender”, acrescenta.
Desde que virou empreendedora, Fernandes afirma que se sentiu muito mais confiante e passou a acreditar mais em si. Para ela, a organização e o amor pelo que faz são essenciais para conciliar a vida de mãe, esposa e empreendedora. “A mulher pode se cuidar, pode cuidar dos filhos, do marido e ainda ser empreendedora. É desafiador, mas quando sonhamos e fazemos tudo com vontade, conseguimos”, destaca.
Em 2024, ela faturou R$ 2 milhões e abriu a sua segunda unidade, localizada em Tatuapé, bairro também na Zona Leste da capital paulista. A empreendedora pretende abrir mais três franquias no próximo ano. Para ela, isso só é possível com um bom suporte familiar, principalmente de seu marido que cuida da parte financeira da empresa.
Foi o apoio dos familiares que levou a paulistana Sedy Novais, 48 anos, para o franchising. A paixão pelo inglês, despertada durante seus estudos na rede CNA, a impulsionou a sonhar com a própria escola, mas a jovem de 24 anos não sabia como conseguiria o dinheiro.

A resposta estava em casa: 11 pessoas da família Novais se uniram, fizeram uma sociedade e investiram R$ 150 mil na primeira franquia em 2001. Hoje, o clã possui 19 unidades do CNA, sendo que a empreendedora comanda seis escolas e tem participação societária em outras duas. Somando só as unidades de Sedy, ela faturou R$ 6 milhões em 2024.
A empreendedora afirma que mesmo depois de tanto tempo como empreendedora, ainda sente uma diferença no trato com mulheres no mundo empresarial. Segundo ela, para que seja ouvida da mesma forma que seus sócios homens, ela precisar ter uma voz mais forte e assertiva com seus 115 funcionários.
A maternidade também fez parte da jornada de Sedy, que conciliou a criação de suas duas filhas com a construção da rede de escolas. Para ela, o equilíbrio entre a mulher empreendedora e mãe é uma utopia.
“Não temos como equilibrar tudo, sempre terá algo pendente. Eu investi muito na minha carreira e acabei deixando a família, às vezes, em segundo plano. Mas isso foi necessário para que eu pudesse proporcionar a vida que minhas filhas têm hoje”, afirma Novais. “Agora venho me dedicando mais a minha vida pessoal, porém, eu percebo que meus negócios não são tão prósperos quanto eram antes”, acrescenta.
Quando a gestão de uma franquia é compartilhada, a carga fica mais leve. Pelo menos é o que acredita Wilce Maciel, 73 anos, franqueada da Casa do Construtor há 16 anos. Mesmo após a aposentadoria, Wilce decidiu entrar no mundo do empreendedorismo, ao lado de seu esposo Francisco Maciel, 74 anos, com um investimento inicial de R$ 500 mil.
“A idade não é um impedimento para realizar sonhos. A qualquer momento da vida, as pessoas podem mudar de rota e aprender sobre coisas novas”, conta Wilce.

Os dois nunca tinham sido empreendedores, mas, de acordo com Wilce, a decisão de investir em uma franquia, e não em um negócio próprio, veio da busca por segurança e estabilidade. O casal queria um modelo consolidado e a paixão de Francisco por ferramentas e construção civil foi o principal motivador para a escolha da marca.
Apesar de ter enfrentado o desafio de ser uma mulher em um ramo predominantemente masculino, Wilce não se deixou intimidar. Ela afirma que se dedicou e aprendeu sobre os produtos e serviços da Casa do Construtor. Hoje, se tornou uma especialista no assunto.
“As mulheres devem se amar e se empoderar. Elas precisam acreditar na força interior e se superar. O maior inimigo muitas vezes somos nós”, diz Wilce.
Hoje, a empreendedora gerencia três unidades na Zona Norte de São Paulo e fatura anualmente cerca de R$ 4 milhões.

Sueli Souza, 54 anos, também decidiu mudar sua carreira e investir no mundo das franquias. A empreendedora atuava como diretora regional de uma empresa varejista e afirma que não tinha pretensão de administrar um negócio. Porém, ao conhecer a atual sócia, Angela Esteves, em um curso de MBA na cidade de Ribeirão Preto (SP), ela decidiu investir na franquia da Água Doce Sabores do Brasil há 14 anos, aliando o negócio ao trabalho CLT.
Mas logo Souza pediu demissão e passou a se dedicar 100% à franquia que teve um investimento inicial de R$ 90 mil.
“Entendi que o franchising era um segmento seguro e com negócios testados, aumentando as possibilidades de sucesso”, afirma a empreendedora que hoje conta com duas unidades, uma em Limeira e outra em Jaú.
Souza afirma que desde que investiu na rede, se sentiu motivada, com vontade de aprender cada vez mais. A empreendedora não compartilha seu faturamento anual, mas afirma que suas duas unidades cresceram 20% em 2024, se comparado a 2023.
“É muito prazeroso liderar um local, onde os consumidores frequentam em busca de lazer, saber quem é meu cliente, inventar e reinventar. Enfim, com fé e aprofundamento no que está fazendo, é certeza que o negócio será prospero. Eu sou apaixonada pelo que faço”, diz.