O capixaba Miguel Carvalho, 31 anos, começou a trabalhar como garçom aos 14 anos para ajudar a família a pagar a escola técnica em que estudava e continuou exercendo a profissão enquanto cursava engenharia civil. Nos salões, atendendo os clientes, percebeu quanto o setor poderia se modernizar e se digitalizar. Ele deixou o emprego na área de formação e fundou a Takeat, plataforma que concilia atendimento físico e digital e facilita a gestão de restaurantes.
A tese do negócio atraiu um aporte de R$ 2 milhões dos investidores-anjo Marcel Malczewski, fundador da Bematech, Gustavo Fehlberg, ex-diretor executivo do Burger King, Andries Oudshoorn, ex-CEO da OLX, e do Fundo Soberano do Estado do Espírito Santo (FUNSES1).
A história da empresa começou quando Carvalho estava na universidade. Ele desenvolveu uma tese de conclusão de curso que se debruçava sobre a digitalização de restaurantes, mas percebeu na prática que a situação era mais difícil do que parecia e envolvia muitas ferramentas. Ele trabalhou como engenheiro por apenas oito meses e decidiu empreender aprimorando a ideia do TCC. “Eram vários sistemas, e eu decidi fazer tudo em um lugar só. Começamos com um CRM e soluções para atendimento nas mesas com tablet e QR Code”, relembra.
O negócio saiu do papel com um aporte inicial de R$ 160 mil. Foram R$ 30 mil que Carvalho juntou quando trabalhava como garçom e engenheiro recém-formado, R$ 70 mil de um investidor-anjo que ele conheceu pela internet e que vinha de uma família de donos de restaurantes, e R$ 60 mil de um prêmio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes).
Startups:
O ano era 2020 e os restaurantes precisaram fechar as portas por causa da pandemia de Covid-19. Em período de adaptação, os estabelecimentos não demonstraram interesse pela tecnologia, e o fundador decidiu focar no desenvolvimento. As vendas só começaram após três meses, sendo o primeiro cliente a hamburgueria onde ele trabalhou.
A Takeat desenvolve soluções de atendimento (como QR Code, tablet, totem de autoatendimento e robô para pedidos de delivery pelo WhatsApp), de backoffice (como gestão financeira, contábil e fiscal) e CRM, com cashback para fidelização. Neste mês, a startup lançou uma ferramenta de cotação inteligente para driblar a inflação, com precificação instantânea.

Os empreendedores adquirem os módulos que fazem sentido para a sua operação, com pagamento mensal. Segundo o fundador, os preços variam de R$ 150 a R$ 1,5 mil, com tíquete médio de R$ 450. Atualmente, 2 mil estabelecimentos utilizam a plataforma, com maior concentração no Sul e no Sudeste.
De acordo com Carvalho, o foco está nessas regiões por causa da maior digitalização. “Quando falamos de tecnologia, só dois tipos de restaurante não gostam: os que quebram ou aqueles em que o dono se torna refém do negócio e precisa estar lá o tempo todo”, opina o fundador.
A empresa tem 55 colaboradores – ex-garçons representam a metade e atuam na frente comercial. “Eles se conectam facilmente com a dor do restaurante e alguns já usaram o sistema onde trabalhavam. Para nós, isso gera mais valor e podemos transformar a vida deles, que passam a trabalhar em horário comercial, com melhor remuneração”, afirma Carvalho.

Com o objetivo de chegar a 6 mil clientes até o fim de 2026, a Takeat vai direcionar o capital recebido com o aporte para a expansão comercial, com a possibilidade de ter representantes nas principais cidades, e participações em eventos do setor. “O mercado de restaurantes tem mortalidade alta. Falta profissionalização, um olhar com carinho para a tecnologia. A indústria e o varejo se digitalizaram, mas os restaurantes seguem igual há décadas. O baixo viés de inovação é uma barreira de entrada que tentamos derrubar”, declara.
A startup também estuda eventuais fusões. “Estamos começando a mapear o mercado para ampliar o nosso ecossistema com novas tecnologias para entregar tudo o que um restaurante precisa”, diz. O fundador estima que o investimento recebido impulsionará um crescimento de 300% no negócio em 2025, com o faturamento batendo R$ 18 milhões.