Abraçar a agenda ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança) já é parte essencial das estratégias de negócios — e não se limita às grandes corporações. De acordo com a pesquisa O Engajamento dos Pequenos Negócios Brasileiros às Práticas ESG, divulgada pelo Sebrae, 70% das pequenas empresas brasileiras adotam alguma prática relacionada a essa agenda.
Segundo especialistas, incorporar boas práticas é um combustível para conquistar investimentos, crédito, credibilidade e mais espaço no mercado. Contudo, demonstrar as práticas da empresa apenas por meio do discurso pode não ser suficiente para aproveitar as vantagens que a agenda pode dar aos negócios realmente engajados.
Nesse cenário, surge um novo desafio: a mensuração. Segundo o Panorama ESG no Brasil 2023, realizado pela Amcham Brasil, 38% das empresas têm dificuldade de monitorar indicadores relacionados a essas práticas. Para Karoline Marques, analista de negócios do Sebrae-SP, avaliar a agenda dentro dos negócios é essencial para demonstrar para os steakholders o comprometimento da empresa.
De acordo com Fabrício Stocker, professor da FGV Embape, mostrar como as práticas ESG estão presentes no negócio tem sido cada vez mais importante para pequenas empresas. Para ele, isso acontece em razão de preocupação que diferentes públicos estão tendo com a agenda.
Segundo Stocker, os pequenos negócios estão sendo pressionados principalmente por conta de seus compradores, sejam eles empresas privadas, sejam pessoas físicas. “Muitos dos grandes negócios já compraram essa ideia, então, na hora de fechar um negócio ou uma parceria com um pequeno empreendimento, eles exigem que eles também sigam essa agenda. Quanto aos consumidores independentes, eles também estão cada vez mais conscientes sobre a procedência dos produtos que compram”, explica.
Além disso, o professor aponta a importância do ESG para conseguir novos investimentos. Para ele, conseguir indicar de forma prática como a agenda está inserida na empresa é necessário tanto para disputar financiamentos voltados para os negócios engajados com a pauta quanto para conseguir o apoio de investidores e associações de crédito que estão exigindo o comprometimento com boas práticas.
Como mensurar as práticas ESG
De acordo com Marques, do Sebrae, não há um método único para realizar a mensuração. Apesar de alguns indicadores mais complexos serem indicados, principalmente para grandes empresas, ferramentas de autodiagnóstico, relatórios de sustentabilidade e a adoção de parâmetros globais são algumas das estratégias que podem ser usadas pelos pequenos e médios negócios.
Os indicadores Ethos Sebrae
Os indicadores ETHOS-SEBRAE para negócios sustentáveis e responsáveis são uma ferramenta de autodiagnóstico estruturada especialmente para micro e pequenas empresas. Segundo Marques, a ideia é que o empresário possa compreender como anda a sustentabilidade e a gestão responsável dentro do negócio.
“Ao usar os indicadores, a empresa poderá reconhecer de que forma a responsabilidade está incorporada no seu dia a dia e, com os resultados em mãos, poderá decidir o que pode ser feito para otimizar sua atuação”, explica a analista do Sebrae. Para ela, ao traçar um plano de melhoria a partir dos resultados do diagnóstico, a empresa é capaz de demonstrar para seus clientes, parceiros comerciais e investidores seu comprometimento com a agenda.
Com a ferramenta, o autodiagnóstico é realizado a partir de perguntas-chave, perguntas binárias e perguntas quantitativas. Assim, o levantamento considera quatro dimensões: visão e estratégia; governança e gestão; social; e ambiental.
Os indicadores ETHOS-SEBRAE podem ser acessados em uma versão ilimitada, que conta com comparações adicionais e o apoio remoto do Instituto, e outra limitada, destinada às organizações não associadas ao Instituto Ethos. Essa última versão dá acesso apenas ao sistema online, com a funcionalidade de autodiagnóstico e com a emissão de notas de desempenho individuais.
Relatórios de sustentabilidade e padrões internacionais
Segundo Marques, lançar relatórios de sustentabilidade periódicos pode ser uma boa estratégia para PMEs demonstrarem para diferentes públicos os avanços que estão fazendo na agenda. De acordo com Stocker, não existe um padrão específico a ser seguido, mas vale ficar de olho nos padrões internacionais.
Um desses padrões são as normas desenvolvidas pelo SASB (sigla em inglês para Conselho de Padrões Contábeis de Sustentabilidade), que é parte da Fundação IFRS, uma organização sem fins lucrativos que supervisiona a definição de padrões de relatórios financeiros. O objetivo do SABS é satisfazer as necessidades do mercado financeiro acerca de informações sobre o grau de sustentabilidade de empresas.
Em outubro deste ano, o Ministério da Fazenda anunciou que os padrões de sustentabilidade da IFRS serão incorporados à legislação brasileira. A transição será gradual e, até 2026, empresas com capital aberto já serão obrigadas a seguir os padrões. Um dos diferenciais do SASB é que as normas estabelecidas são diferentes de acordo com o setor de atuação da empresa.
Em nota enviada para PEGN, a IFRS aponta que, ainda que os padrões sejam pensados sobretudo para as grandes corporações, muitas PMEs são parte essencial da cadeia de empresas de grande porte e, por isso, é provável que sejam cobradas a comunicar seu desempenho em sustentabilidade.
Outro padrão relevante é o GRI, entidade pioneira na promoção de relatórios de sustentabilidade. “Seu grande diferencial é o uso da matriz de materialidade, na qual, após ouvir os steakholders sobre os itens elencados no GRI, são definidos quais temas serão priorizados na estratégia do negócio”, aponta Marques.
De acordo com a analista de negócios, guiar os relatórios de sustentabilidade do negócio por padrões internacionais pode auxiliar a medir as práticas de ESG da empresa de acordo com aspectos comumente exigidos, além de funcionar como um guia para quem ainda não sabe o que mensurar.
“Existe uma expectativa de que os pequenos negócios também tenham que seguir alguns relatórios de sustentabilidade no futuro. Então, é importante que os empreendedores tenham isso em mente e já comecem a se preparar agora. Conhecer as diretrizes internacionais pode ser um bom começo para isso”, afirma Stocker.