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Empreendedorismo digital: como as mulheres buscam na internet o sucesso nos negócios

Fonte: Redação

Não é de agora que as mulheres têm usado mais as ferramentas digitais nos seus negócios do que homens. De acordo com dados da quinta edição da Pesquisa Pulso dos Pequenos Negócios, realizada pelo Sebrae em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 78% das empreendedoras realizam vendas por meio de ferramentas digitais. No caso dos homens, o percentual é de 68%. Um levantamento da Nuvemshop com sua base de usuários reafirma a tendência: 58% das pequenas e médias empresas do varejo online são administradas por mulheres.

As razões para a adoção da conectividade podem ser várias — como ter mais flexibilidade e alcançar mais clientes—, mas, segundo o estudo NuvemCommerce, 57% delas começaram seu negócio pelo desejo de empreender.

No Dia Internacional da Mulher, falamos sobre os desafios e as oportunidades de ter o próprio negócio na internet e damos dicas para quem quer se aventurar nesse universo.

Internet feminina

Renata Malheiros, coordenadora nacional de empreendedorismo feminino do Sebrae, diz que alguns fatores ajudam a explicar a maior aderência feminina às ferramentas digitais. “Ainda em 2024, mulheres enfrentam desafios culturais para empreender. Já vi empreendedoras dizendo que preferem vender pela internet porque não sofrem preconceito por serem mulheres”, afirma. “Pesquisas do Sebrae comprovaram que mulheres gastam o dobro de tempo em trabalhos de cuidado do que os homens. Então, trabalhar por meio da internet ajuda a economizar tempo porque é mais ágil. Também oferece flexibilidade para que elas trabalhem perto dos filhos que, em muitos casos, não têm com quem ficar.”

No caso de Deise Dória, 44 anos, ter uma loja no marketplace da Shopee a ajudou a expandir seu comércio e faz com que consiga manter, ao mesmo tempo, o trabalho como professora em Barra dos Coqueiros, município da região metropolitana de Aracaju (SE). Dória é dona da Palha Decor, que comercializa nacionalmente itens artesanais desenvolvidos por cerca de 100 famílias de comunidades quilombolas locais. “Já tive vários comércios físicos, mas nada funciona tão bem como o online. Morando em uma cidade pequena, eu não conseguiria os resultados que alcancei vendendo digitalmente”, conta ela, que começou há dois anos vendendo oito peças por mês — feitos por uma artesã — e hoje atende em média 400 pedidos mensais que vêm de profissionais de seis cidades diferentes do entorno.

Deise Dória, 44 anos, é dona da Palha Decor — Foto: Divulgação
Deise Dória, 44 anos, é dona da Palha Decor — Foto: Divulgação

Os menores custos de investimento no negócio e o alcance de um público mais amplo são vantagens do empreendedorismo online, segundo Marcela Orlandi, gerente sênior de sucesso do cliente na Nuvemshop. De acordo com ela, não há faixa etária que se destaque nas vendas digitais. A pesquisa feita pela plataforma registrou que 17% das respondentes têm entre 35 e 39 anos; 16% entre 25 e 29 anos; 15% entre 30 e 34 anos; e 15% entre 18 e 24 anos. “Não há idade para começar a empreender e, sim, uma vontade que pode surgir a qualquer momento para aquelas que desejam mudar de vida e começar uma rotina autônoma.”

A internet, porém, pode ter suas pegadinhas. “O fato de uma mulher trabalhar de casa não significa que ela trabalha menos ou que tem tranquilidade para trabalhar. Isso ficou muito evidente na pandemia, quando as mulheres falaram que não conseguem focar no negócio porque precisavam dar atenção aos filhos”, diz Ana Fontes, CEO da Rede Mulher Empreendedora (RME). Para ela, o que se ganha em flexibilidade, pode ser perdido em concentração.

“O nosso imaginário diz que estar em casa não é trabalhar. Até familiares, como pais e mães, começam a interromper as mulheres para pedir favores ou apenas conversar”, diz Fontes. Para que funcione, ela sugere manter uma rotina regrada e bem estruturada.

Dinheiro

Em qualquer que seja o ambiente, as empreendedoras têm dificuldade de acessar crédito, diz a CEO da RME. “É um desafio para todas, mas especialmente mulheres negras e da periferia”, afirma. Segundo a pesquisa Empreendedoras e seus Negócios 2023, realizada pela RME, apenas 25% das mulheres empreendedoras já solicitaram crédito/empréstimo para o seu negócio atual, sendo 19% como pessoa física e 6% como pessoa jurídica

Algumas iniciativas buscam ir na contramão dessa realidade. A CloudWalk, dona da plataforma de serviços financeiros InfinitePay, concedeu 13,5% mais acesso a crédito para mulheres do que para homens nos últimos 18 meses. Os dados são do relatório Empreendedorismo Feminino: InfinitePay e as mulheres que prosperam. Segundo o unicórnio, a motivação é baseada na adimplência delas — que pagam mais suas dívidas do que os homens.

Conta a favor da internet o fato de ser um ambiente democrático para quem deseja começar seu próprio negócio sem fazer grandes investimentos. Foi o caso de Olga Milena, que investiu R$ 28 e pegou uma máquina de costura emprestada da madrinha para começar a Hibisco Beach, marca de roupas com sede em Eunápolis, no interior da Bahia. “Gastei R$ 20 em tecidos e R$ 8 para impulsionar a marca no Instagram.”

Olga Milena, fundadora da Hibisco Beach — Foto: Divulgação
Olga Milena, fundadora da Hibisco Beach — Foto: Divulgação

O objetivo da empreendedora sempre foi atingir consumidores de todo o Brasil. “Utilizamos tráfego pago, marketing de influência e indicação boca a boca de clientes fiéis para alcançar mais pessoas”, afirma a jovem de 22 anos. Em 2023, o negócio vendeu mais de 6 mil peças. Quando começou, Milena não tinha planos de abrir uma loja física, mas hoje considera a possibilidade. “Estamos com uma demanda de clientes que desejam ver os produtos pessoalmente. Não é minha prioridade, mas está nos meus planos para os próximos anos.”

Thaís Ramos, 39 anos, fundadora do De Benguela, que vende alongamentos e apliques feitos de cabelo crespo natural, diz confiar na força da omnicanalidade. A empresa é nativa digital, mas se prepara para ter sua terceira loja física. “Quando abri meu empreendimento, em 2016, entendi que ser digital era o melhor caminho, porque quem tinha aquela dor para a qual eu estava oferecendo uma solução poderia não estar perto de mim. E com a internet você atende a todos. Mas acho que é importante o cliente ter a opção de escolha. Essa junção de digital e físico é o futuro”, diz. Atualmente, a De Benguela tem unidades em Curitiba (PR) e São Paulo (SP). A ideia é inaugurar outra no Rio de Janeiro ainda neste ano. A empresa faturou R$ 10 milhões em 2023.

Thaís Ramos, fundadora e CEO da De Benguela — Foto: Divulgação
Thaís Ramos, fundadora e CEO da De Benguela — Foto: Divulgação

Redes sociais

Instagram, TikTok, Facebook, WhatsAapp. As plataformas digitais de interação social desempenham um papel significativo para negócios online. No caso da Hibisco Beach, é vital. “Por meio delas eu consegui criar uma comunidade de clientes que compram e indicam a marca. Tenho um grupo de WhatsApp com cerca de mil pessoas, e utilizo como um canal direto para fazer campanhas e oferecer descontos exclusivos”, diz. “Nestas ações, já chegamos a faturar R$ 7 mil em um dia vendendo apenas para participantes.”

A empreendedora Juliana Stephani, 35 anos, faz coro. “Usamos muito o Instagram e o Google. Faço lives, mostro minha rotina e respondo stories ao vivo. Com nosso blog, buscamos ter conteúdo relevantes para o nosso público e que se posicionem bem na ferramenta de busca”, diz. Ela é fundadora da PetFriendly Turismo, empresa que vende digitalmente seus pacotes de transporte de cães. “No caso de famílias multiespécies, você não vai acreditar em qualquer pessoa. Então, eu apareço e tiro dúvidas. Mulheres gostam de interação e nós nos conectamos, porque as dores são as mesmas”, afirma ela, que é veterinária de formação. O negócio que ela começou sozinha hoje tem 30 colaboradores e faturamento anual de R$ 3 milhões.

Juliana Stephani, 35 anos, é fundadora da PetFriendly Turismo — Foto: Divulgação
Juliana Stephani, 35 anos, é fundadora da PetFriendly Turismo — Foto: Divulgação

Ter presença em mídias sociais é fundamental para que um produto seja conhecido e recomendado. “Mas vai além: é sobre despertar o interesse e conversar com clientes para criar uma relação mais próxima e receber feedbacks diretos”, diz Patricia Artoni, professora da FIA Business School. “As redes são uma fonte valiosa de dados e insights que podem ser cruciais no desenvolvimento de estratégias de marketing, ao ajudar as empresas a entenderem melhor as necessidades e preferências do seu público.”

Na opinião da professora, essa proximidade faz com que os consumidores se tornem representantes da marca — e a divulguem para novos clientes.

7 segredos para inserir as ferramentas digitais no seu negócio com sucesso

  • Supere o medo de aparecer: Não tenha vergonha de dar as caras e mostrar a sua marca, seu produto e como ele é feito, sugere Malheiros. “Algumas pessoas podem ter preconceitos com mulheres, mas em vários casos mostrar a pessoa por trás da empresa traz resultados positivos. Marcas humanizadas tendem a vender mais.”
  • Clareza do público-alvo: A internet é um local em que todos estão, mas a empreendedora deve saber bem quem é a persona de sua marca. “Com base neste perfil, ela pode desenha uma estratégia de comunicação para despertar interesse das pessoas”, diz Patricia Artoni, professora da FIA Business School. Isso envolve publicações das redes sociais e técnicas de SEO — saiba mais aqui como melhorar o Search Engine Optimization do seu negócio.
  • Ouça os clientes: As redes sociais são ótimas para ouvir os clientes e entender o que eles querem. “Uma tática é usar a caixinha de perguntas do Instagram para perguntar do que eles mais gostam no negócio e o que eles desejam consumir”, afirma a coordenadora do Sebrae. “Empreendedoras que escutam seus seguidores têm mais chances de inovar.”
  • Proximidade com outras mulheres: Utilize as ferramentas digitais para se aproximar de outras empreendedoras, tanto para apoio no dia a dia quanto para parcerias. “Por exemplo, uma personal stylist pode encontrar fotógrafos para que ofereçam seus trabalhos juntas.”
  • Verifique os resultados: Acompanhe métricas do site e das redes sociais para analisar se as estratégias estão dando certo. “Caso não estejam, é necessário rever as táticas”, diz Artoni.
  • Comunidade de clientes: A empreendedora deve construir a sua comunidade, que será engajada com a sua história e suas experiências. “Ela pode promover encontros online, discutir temas e explorar assuntos que desenvolvam a empatia pela marca”, diz Roberta Cesarino Iahn, professora no curso de Publicidade e Propaganda e supervisora de Práticas de Comunicação na ESPM. “Mulheres são muito habilidosas com a comunicação e relacionamento com pessoas. É uma vantagem para fidelizar clientes e sempre renovar o negócio.”
  • Atenção ao conteúdo e à imagem. “Não preparar posts amadores ou baseados em gostos pessoais pode fazer muita diferença na imagem e na credibilidade do negócio”, acrescenta a professora. Ela também recomenda uma identidade visual simples, clara e de fácil identificação.

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