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Empreendedores imigrantes resgatam suas raízes com negócios de alimentação

Fonte: Redação

Nascida e criada na cidade de Yaoundê, capital de Camarões, Melanito Biyouha chegou ao Brasil em 2003, e foi recebida na casa de seus tios, que trabalhavam na embaixada de Camarões, em Brasília (DF). Em terras brasileiras, não pôde atuar como bancária, profissão exercida em seu país de origem — e investiu no empreendedorismo. Hoje, ela é a fundadora do Biyou’Z, restaurante localizado no bairro Campos Elíseos, na região central de São Paulo (SP).

O negócio nasceu, sobretudo, com a missão de expressar a autêntica culinária camaronesa, apresentando ao público os mais diversos pratos típicos do país. Porém, meses após a abertura da casa, a empreendedora decidiu ampliar o cardápio e incluir refeições popularmente consumidas em outros países africanos: Senegal, Congo, Angola, Nigéria, Tanzânia, Moçambique, Marrocos, Costa do Marfim, Benin e Gana. Um exemplo é o Podu, prato feito com folha de mandioca, fufu de milho e peixe frito.

“A nossa missão é trazer o melhor conhecimento do continente africano e fazer [o público] entender como ele é importante na evolução do mundo, de forma geral. Também é fazer com que o povo negro, seja africano ou brasileiro, saiba reconhecer o potencial que ele carrega”, diz.

Biyouha é uma das muitas imigrantes que, distantes da terra natal, encontram na construção do próprio negócio um caminho para trilhar a vida no Brasil. Segundo levantamento feito pelo Sebrae, com dados do Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) e o Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) da Receita Federal, dos mais de 12 milhões de microempreendedores Individuais (MEIs) ativos no país, 76,8 mil são estrangeiros. O número representa um crescimento de quase 80% nos últimos cinco anos. Restaurantes e outros estabelecimentos de serviços de alimentação e bebidas correspondem a 4,39% da escolha de negócios.

Antes de abrir o restaurante, a empreendedora trabalhou como cabeleireira em domicílio, para que pudesse morar sozinha e se manter financeiramente. Em 2007, Biyouha fez uma visita à cidade de São Paulo (SP) e notou que a capital paulista era mais receptiva aos imigrantes e às atividades comerciais, de modo geral.

“Eu também sempre estive na cozinha, afinal, a cozinha sempre fez parte da nossa cultura. Eu cresci vendo [familiares fazendo] receitas caseiras, tudo de uma forma bem natural”, afirma. “Descobri que São Paulo era uma cidade que tinha vários restaurantes de outros países. Porém, ainda não tinha um restaurante camaronês ou africano. Senti que esse era o meu propósito”, explica Melanito, que abriu a primeira unidade do Biyou’Z em 2008.

Em 2019, com grande apelo por parte dos clientes, Melanito abriu uma nova unidade no bairro da Consolação, próximo à região da Avenida Paulista. Atualmente, o faturamento do Biyou’Z Gastronomia Africana, somando os dois endereços, gira em torno de R$ 250 mil.

Gastronomia síria em SP

Quando deixou a cidade de Al Qamishli, situada no noroeste da Síria, na fronteira com a Turquia, em 1988, Moris Azar teve seu visto liberado apenas no Brasil. Em busca de uma nova ocupação profissional, passou a vender pratos típicos do Oriente Médio para disseminar a gastronomia síria. Em 2006, fundou o Empório Samir Amis, no bairro de Moema, também na cidade de São Paulo (SP). Hoje, o negócio é comandado por seu filho mais velho, Joseph Moris, que assumiu a operação em 2016, após a morte do pai. Na época, o primogênito tinha apenas 16 anos.

Moris Azar fundou o Empório Samir Amis em 2006 — Foto: Arquivo pessoal/Joseph Moris
Moris Azar fundou o Empório Samir Amis em 2006 — Foto: Arquivo pessoal/Joseph Moris

“Não terminei o ensino médio porque não temos família no Brasil, então tive de assumir a frente do negócio. Na época do falecimento do meu pai, o meu irmão mais novo tinha 12 anos. Minha mãe queria ir embora e fechar o Empório, mas eu não deixei, pois já vendia bem e tinha clientes fixos”, afirma Moris.

Entre os pratos mais pedidos da casa estão as esfihas, o trio de pastas (hommus, babaganoush e coalhada), charutinhos de folha de uva, tabule e arroz marroquino. No momento, o restaurante conta com uma produção manual, com cerca de 20 pessoas na cozinha.

Julian Moris, Joseph Moris e Rula Hanno; mãe de Julian e Joseph — Foto: Divulgação
Julian Moris, Joseph Moris e Rula Hanno; mãe de Julian e Joseph — Foto: Divulgação

“Meu pai chegou aqui e não tinha nada. Ele foi juntando dinheiro e conseguiu abrir um pequeno negócio. Então se hoje a loja ‘bomba’ é porque tem uma história por trás” diz Moris. “Eu acho o Brasil um país acolhedor, principalmente aos imigrantes árabes. Toda a nossa cultura é muito grande aqui no Brasil, é um país muito bom para [estrangeiros] que, de alguma forma, querem tentar trabalhar.”

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