Auxiliar pessoas trans a expressar sua identidade de gênero com mais confiança e conforto é o objetivo da Transguys, marca de produtos fundada por Adrian Oliver, 28 anos. A empresa começou vendendo cintas para packers (prótese peniana usada para criar volume), e hoje tem como carro-chefe os binders, faixas que pressionam o busto.
Segundo o empreendedor, a Tranguys surgiu da união de três fatores: sua veia criativa, traumas pessoais e a vontade de ajudar a comunidade. “Primeiro, sempre gostei de fazer trabalhos manuais. Também tive alguns traumas ao exercer minha identidade de gênero no mercado de trabalho. Em um dos meus empregos, precisei acionar a Justiça. E tinha vontade de impactar positivamente a vida das pessoas trans.”
Ele conta que, na época em que se descobriu como homem trans, o acesso à informação e a produtos eram muito escassos. Era o caso do packer, uma prótese peniana diferente das vendidas em sex shops. “Ele desempenha funções diferentes para homens trans, como urinar em pé e criar volume. Quando eu consegui o packer, surgiu outra necessidade: uma cinta para segurá-lo. Mas as disponíveis no mercado brasileiro eram bem ruins”, afirma.
Dentro de casa, ele encontrou elásticos que poderiam ser usados em uma produção experimental. “Em 2017, eu trabalhava em uma fábrica que descartava elásticos usados em cós de cuecas”, diz Adrian, que tinha um cargo na área de atendimento ao cliente. Ele costumava levar os elásticos para casa, pensando que um dia poderia usá-los em algum tipo de artesanato.
“A cinta ficou tão boa que eu decidi compartilhar em um grupo de homens trans no WhatsApp. Começaram a me fazer pedidos e eu abri os olhos para uma oportunidade de fazer renda extra e de ajudar meus semelhantes”, afirma. “Eu já tinha a matéria-prima em casa, então era só fazer e enviar para os clientes.”
A produção de cada peça levava cerca de 30 minutos. “Era tudo manual, então passava a noite produzindo os itens”, recorda.
O empreendedor percebeu o potencial do negócio conforme recebia feedbacks dos clientes. “Eram mensagens que iam além de dizer que os produtos eram bons. Diziam que eu estava solucionando um problema profundo, de dores ocultas”, afirma.
Cerca de dois meses após o início da produção, Adrian foi demitido — e perdeu acesso aos elásticos que utilizava para fabricar as cintas. Foi quando abriu um CNPJ com o intuito de comprar a matéria-prima e profissionalizar o empreendimento. “Eles passaram de empregadores a principais fornecedores.”
Segundo o empreendedor, a demissão também serviu para mudar sua mentalidade. “Fui demitido em mais um episódio de discriminação, e vi que não queria mais trabalhar para outras pessoas e ficar a mercê dessas humilhações”, afirma. Como ainda não tinha como se sustentar apenas com o negócio, passou a trabalhar como garçom. Em um ano, conseguiu fazer com que a Transguys fosse sua única fonte de renda.
“Foi um período em que me desenvolvi profissionalmente para evoluir o negócio. Sempre fui muito autodidata, e até o site eu fiz sozinho”, diz. “Quando precisei aumentar a produção e não consegui dar conta, comprei uma máquina de costura e aprendi a manusear assistindo vídeos no YouTube.”
O negócio cresceu durante a pandemia. “Tínhamos uma forte presença nas redes sociais, e as pessoas estavam comprando online durante o isolamento social. Conseguimos impulsionar nossas vendas”, afirma o empreendedor. Um dos segredos do sucesso, ele diz, é contar com a participação dos clientes no desenvolvimento dos produtos. “Os consumidores apontavam o que poderia ser aprimorado, e eu fui implementando. Às vezes, me mandavam até desenhos de como eles idealizavam, e eu desenvolvia cintas diferentes”, afirma.
Também foi nesse momento que passou a expandir a linha de produtos — o primeiro item era um packer feito de pelúcia. Em 2023, lançou o binder, a faixa que comprime o busto. “É um produto muito utilizado por homens trans para dar aparência visual de um tórax mais masculino”, explica. Hoje, o binder é o carro-chefe da Transguys. Recentemente, a Transguy lançou um packer feito de silicone, que tem feito sucesso.
O plano do empreendedor é tornar a Tranguys referência no segmento para homens trans, com mais variações dos produtos que já são oferecidos. “Por exemplo, o packer que vendemos hoje é voltado ao volume, e eles precisam de um que também seja usado para urinar em pé e para as relações sexuais”, afirma ele, que conta com a parceria da namorada, Bruna Ferreira, na gestão do negócio.
“Nosso propósito é ser reconhecido globalmente como uma marca que impacta positivamente a vida das pessoas trans, especialmente homens trans que são o nosso público”, finaliza.