Miriam Koga tem 25 anos, mas já é a terceira vez que tira um projeto do papel. O desejo de empreender veio do período em que trabalhou na Tractian, startup de manutenção industrial avaliada de R$ 4 bilhões, da qual foi uma das primeiras funcionárias. Agora, ela capitaneia a Harumi, startup que usa inteligência artificial e matemática para otimizar processos de médias e grandes empresas.
Koga estudava engenharia de materiais na Georgia Institute of Technology quando começou a trabalhar na Tractian. Inspirada pelo fundador Igor Marinelli, ela decidiu empreender e fundou a Dupla, plataforma de vagas para mulheres na área de tecnologia, em 2021. Apesar de conseguir investimento e ter clientes, a empreendedora encontrou limitações para escalar o negócio.
Sua segunda experiência empreendedora foi com a voidr, que usa inteligência artificial para realizar testes de software, auxiliando o trabalho dos desenvolvedores, ao lado de dois sócios. A startup atingiu o breakeven, mas Koga não se sentia motivada pela divisão da propriedade da empresa e decidiu sair para tocar algo próprio.
A ideia para a Harumi surgiu durante aulas de pesquisa operacional com um professor do Instituto de Tecnologia e Aeronáutica (ITA), recomendadas por um investidor-anjo da voidr. Ao conhecer a rotina do professor como consultor na área, ela percebeu que muitos processos eram manuais e, como avanço da IA, poderiam ser automatizados. Marcel Nicolay, 37, ex-diretor de produto na Wellhub, cofounder e CTO na Malga, startup de pagamentos acelerada pela Y Combinator, entrou no projeto como sócio.
Startups:
O esboço da Harumi foi apresentado para potenciais investidores e a startup garantiu um investimento inicial de R$ 600 mil de nomes como Michael Lehmann, ex-CAO da Volkswagen e investidor da Tractian, Weber Porto, ex-presidente da Evonik, e Ernée Filho, do time de otimização de entregas do Mercado Livre.
A Harumi desenvolve agentes de IA que auxiliam em modelagens matemáticas e geração de código em Python para permitir que empresas tomem decisões para reduzir custos de operação, em uma interface simplificada, semelhante ao Notion.
“A gente quer usar a IA de forma aprimorada para a matemática. O ChatGPT é mais conversacional, para uso genérico. Queremos uma assertividade maior para atacar problemas de indústrias, empresas de grande porte, para lidar com a grande quantidade de dados e tomar decisões otimizadas”, explica Koga.
A fundadora afirma que o uso da plataforma é infinito, mas alguns exemplos práticos incluem traçar melhores rotas para a área de logística, otimizar a estratégia de distribuição de dinheiro por caixas eletrônicos ou determinar preços em marketplaces.
“O usuário precisa ter um background mais técnico, trabalhar com pesquisa operacional, otimização, ciência de dados. Neste momento, se encaixa mais com empresas do setor de manufatura ou indústrias, mas a modelagem é agnóstica. É preciso ter uma quantidade razoável de dados e um contexto”, acrescenta.
Após um período de testes com pesquisadores de universidades – um deles realizou um trabalho que levaria um mês em apenas três horas pela plataforma –, a Harumi foi lançada. Serão dois planos pagos: um para uso pessoal, com preço de lançamento de US$ 15 (R$ 86) mensais, e outro para empresas, com custo variável e de onde deve vir a maior receita da startup. Um plano acadêmico, mais barato, está sendo estudado. A cobrança deve girar em torno de US$ 5 (R$ 28), valor para cobrir o gasto com a infraestrutura da plataforma.
Um estudo feito por um consultor especialista em pesquisa operacional indicou que a tecnologia da Harumi permite a redução de 5% a 15% nos custos com otimizações. Duas empresas já mostraram interesse pelo serviço da startup, um banco e uma indústria química, mas os contratos ainda não foram assinados.
“O nosso desafio hoje é garantir assertividade maior do que as ferramentas de IA que já operam. Estamos fazendo isso por meio dos agentes, cada um tem sua função e eles interagem entre si”, destaca Koga. A Harumi foi construída em cima de modelos já existentes, mas com o ganho de tração, o objetivo é criar um modelo proprietário e deixar de depender de outras empresas.
Para isso, a startup almeja levantar uma rodada de investimentos fora do Brasil neste ano e abriu sua sede em Delaware, nos EUA, para facilitar o processo. Algumas conversas com potenciais clientes norte-americanos também se iniciaram. “Se nos restringirmos ao Brasil, os recursos serão escassos para o que estamos fazendo, lá fora não. Queremos nos aproximar do ecossistema dos EUA para ter espaço para fazer esse movimento [do modelo proprietário]”, conclui.