Antes de fundar a fintech Friday, Pedro Gomes e Felipe Castro estiveram juntos na M4U, empresa de soluções de pagamentos digitais, como recargas para celular, e na Bemobi, de desenvolvimento de plataformas de engajamento e pagamentos digitais. Anos se passaram, M&As aconteceram, e os sócios sentiram que ainda podiam fazer mais.
“A gente queria continuar no mercado financeiro. Tínhamos expertise e contatos, ativos muito relevantes para startups. Achávamos que a parte transacional, de pagamento de contas, era um mundo abandonado. Os novos bancos digitais não entregavam experiências diferentes dos grandes bancos”, afirma Pedro Gomes, cofundador e co-CEO da Friday.
Em um mercado de fintechs desbravando formas de incentivar o investimento financeiro e de ofertar crédito, os sócios decidiram focar em um processo mais simples e frequente. “Você não investe todo dia, não toma crédito toda hora, mas paga contas com muita recorrência, infelizmente”, brinca.
A ideia da Friday é operar acima dos bancos, para não brigar pela custódia do dinheiro. A fintech atua na camada de conveniência, conectando-se a qualquer instituição para facilitar o pagamento de contas pelos usuários. Para tirar a ideia do papel, os fundadores recrutaram um time afiado com quem haviam trabalhado anteriormente, e investiram R$ 12 milhões.
“A gente decidiu fazer bootstrap porque achamos que a autonomia seria importante, crescer de maneira saudável, pagando a operação”, aponta o executivo. Segundo Gomes, a startup atingiu o ponto de equilíbrio três anos após a fundação, em 2022. Em novembro do ano passado, a Bemobi adquiriu 49% da fintech.
Com o Open Finance, a Friday consegue automatizar o processo de pagamentos de contas. A fintech se conecta a uma conta bancária do usuário e rastreia as contas recorrentes, como débitos automáticos e boletos emitidos para aquele CPF. Os clientes recebem uma mensagem de WhatsApp avisando sobre a pendência e, ao responder sim, a tecnologia da startup faz o pagamento automaticamente, sem a necessidade de abrir o aplicativo do banco.
Startups:
“Queríamos que o processo fosse o mais sutil e suave possível. Não vimos com bons olhos usar outro canal de comunicação ou disparar pushes e concorrer com outros apps, correndo o risco da notificação se perder e a pessoa não pagar a conta”, pontua. O time da Friday trabalha na possibilidade de conexão com múltiplas contas de mesma titularidade, funcionalidade que deve ser lançada ainda neste trimestre. Para utilizar os serviços da startup, é necessário se tornar assinante – o plano mensal custa R$ 14,90 e o anual, R$ 118,80.
A inteligência artificial da fintech também pode fazer pagamentos avulsos, a partir de mensagens enviadas pelo WhatsApp. Outras startups e instituições financeiras estão apostando neste caminho, como a Magie e o C6 Bank. Além de operar no B2C, a Friday trabalha no formato white label, fornecendo a sua tecnologia para outras empresas. Segundo Gomes, essa é a principal fonte de receita da startup.

“O Brasil tem dimensões continentais, uma população enorme. Acho positivo que apareçam outros players que compartilhem da nossa visão. Acreditamos que a forma de implementar essa visão é por meio de parcerias, com o empoderamento de outros players do mercado”, opina.
Segundo o relatório LatAm Tech Report 2024, da Latitud, o uso do WhatsApp é uma tendência para as fintechs. O aplicativo é apontado como um forte aliado para a digitalização financeira da América Latina porque os pagamentos instantâneos podem ser integrados a ele.
Até o momento, a fintech transacionou R$ 300 milhões e, em 2025, almeja superar a marca de R$ 500 milhões. Gomes não divulgou a quantidade de usuários do serviço, mas declara que a base é incremental e que os indicadores de retenção de clientes estão acima dos benchmarks. Os próximos passos para a Friday são a ampliação do portfólio, com o lançamento de investimentos pelo WhatsApp e, com o amadurecimento da solução, a oferta de crédito.