A trajetória de Rafael Bagolin na advocacia começou de forma tradicional. Formado em Direito, o gaúcho passou 16 anos atuando na área bancária, sem imaginar que, um dia, criaria sua própria startup, investindo em soluções tecnológicas. Aos 37 anos, Bagolin lidera a Jusfy, uma plataforma que nasceu para resolver dores comuns entre advogados, como cálculos jurídicos e acesso a dados para realizar petições. Hoje, a startup fatura R$ 2,2 milhões mensalmente e mira oferecer crédito como fintech.
A ideia do negócio surgiu a partir de uma necessidade do dia a dia. Em 2014, muitos clientes procuravam Bagolin para ações de revisão de contratos bancários. Para questionar judicialmente os juros abusivos, era necessário recalcular os contratos com base na taxa média do Banco Central. O problema era a complexidade dessas contas.
Sem ferramentas específicas, Bagolin precisava contratar contadores, o que custava caro – entre R$ 500 e R$ 1,5 mil por cálculo – e demorava semanas. “Eu cheguei a gastar R$ 30 mil em um mês só com cálculos para clientes que não podiam pagar. Foi aí que percebi que precisava encontrar uma solução,” conta.
Foi nesse contexto que ele conheceu Juliano Lima, um engenheiro de computação. Os dois criaram, inicialmente, uma ferramenta simples para uso interno no escritório de Bagolin. “Era básica, nada bonita, mas fazia o trabalho. Algo que demorava semanas passou a levar minutos,” lembra. Com o tempo, os dois perceberam que a ferramenta tinha potencial para ser ampliada e ajudar outros advogados.
Em junho de 2021, a Jusfy foi lançada como uma solução voltada para cálculos jurídicos. No início, oferecia soluções específicas para áreas como direito cível, bancário e trabalhista. Mesmo com uma estrutura enxuta – apenas os dois fundadores à frente da operação –, a startup atingiu o equilíbrio financeiro em outubro do mesmo ano, com mil clientes.
Desde então, Bangolin vem expandido o escopo da Jusfy. Hoje, a plataforma reúne 18 funcionalidades, incluindo controle de prazos, assinatura digital e um assistente de inteligência artificial para redação de petições. A ferramenta SaaS também funciona como um marktplace, conectando advogados a novos clientes.
Recentemente, a Jusfy passou a oferecer um banco de dados atualizado com informações de órgãos como Detrans e juntas comerciais, otimizando processos que antes eram manuais e demorados. “Nosso objetivo sempre foi resolver as dores diárias do advogado. 50% do tempo de um profissional é gasto com atividades como calcular valores ou buscar informações,” comenta Bangolin. Em 2022, a startup recebeu um investimento seed de R$ 7 milhões, liderado pelo fundo SaaSholic, o que facilitou o processo de desenvolvimento das novas soluções.
Com um preço mais acessível visando conquistar market share – o tíquete médio é de R$ 75 por mês –, a Jusfy alcançou 27 mil clientes. Segundo Bangolin, o plano é transformar a startup também em uma fintech voltada para advogados, oferecendo serviços como crédito baseado na carteira processual dos escritórios. “Os advogados enfrentam muitas barreiras no sistema bancário tradicional. Queremos oferecer uma alternativa que realmente atenda às necessidades deles.”
Apesar do crescimento rápido, Rafael acredita que o mercado jurídico brasileiro ainda tem um longo caminho a percorrer em termos de digitalização. “O advogado não vai desaparecer, mas a forma como ele trabalha está mudando. Nosso papel é oferecer as ferramentas que ele precisa para se adaptar e ganhar eficiência.”