A norte-americana Erin Wade se autointitula “a maior especialista do mundo em macarrão com queijo” — e os números apontam que ela pode ter razão. Ao longo de sua carreira, ela cozinhou mais de 10 mil pratos da receita, ralou mais de uma tonelada de queijo e preparou tanto molho que chegou a desenvolver uma lesão no pulso.
Essa jornada, no entanto, não começou em uma cozinha. Antes de fundar seu restaurante, o Homeroom, em Oakland, Wade era uma advogada bem-sucedida em São Francisco, nos Estados Unidos. Porém, a sensação de falta de propósito a fez dar uma guinada na carreira.
Formada em instituições de ponta e com um emprego prestigiado, Wade parecia ter atingido o sucesso. Era respeitada, usava ternos elegantes e representava grandes empresas. No entanto, ela conta que estava infeliz. “Eu havia vencido um jogo que não gostava”, afirma à Fortune.
“Eu buscava algo mais significativo e encontrei isso no ato de preparar comida e compartilhá-la com as pessoas. Foi nesse desejo por propósito que decidi seguir uma paixão: abrir um restaurante especializado no meu prato favorito, macarrão com queijo”, acrescenta.
Em 2011, ela fundou o Homeroom, um restaurante que rapidamente virou cult, se tornando um sucesso. Seu macarrão com queijo chamou a atenção da mídia, sendo destaque em veículos como The Wall Street Journal e Cooking Channel.
O sucesso financeiro do restaurante o colocou entre os 1% melhores do país. Na época, a empreendedora estimava ganhar um salário anual de US$ 40 mil, mas surpreendeu-se ao descobrir que no primeiro ano seu rendimento já superava o que ganhava como advogada. Segundo Wade, um dos maiores diferenciais foi a cultura de trabalho, que ela aponta como fator de sucesso do estabelecimento.
Desde o início, ela projetou o Homeroom como um espaço com “dedicação à conexão em todos os níveis”, onde os funcionários encontravam propósito e pertencimento. Wade estava presente em todos os aspectos da operação: trabalhava arduamente, ouvia sua equipe, repreendia clientes que se comportavam mal, e compartilhava os resultados financeiros da empresa abertamente com todos.
Juntos, ela e seus funcionários criaram métricas de sucesso que iam além do lucro, incluindo a felicidade da equipe como um fator central. De acordo com a Fortune, um dos destaques de sua gestão foi a criação de um ‘Código de Conduta de Cores Antiassédio’, desenvolvido após um incidente em que uma funcionária se sentiu assediada por um cliente e o gerente não soube como reagir.
O sistema de codificação de cores (amarelo, laranja, vermelho) permitia que os funcionários classificassem interações negativas com os clientes, e os gerentes seguiam um conjunto de regras para resolver a situação. Clientes classificados como “vermelhos” eram convidados a se retirar. O lema “o cliente sempre tem razão” não tinha lugar no Homeroom quando o bem-estar da equipe estava em jogo.
“O sistema que criamos praticamente erradicou o assédio em nosso restaurante e tem o potencial de melhorar significativamente a vida de um em cada dez americanos que trabalham em hospitalidade”, afirma Wade. O sucesso foi tanto que o código foi adotado pela Equal Employment Opportunity Commission e por diversos restaurantes ao redor do mundo. Em um setor em que a permanência média dos funcionários é inferior a 90 dias, a média da Homeroom era de 2,5 anos.
Após uma década de sucesso, Wade vendeu o Homeroom em um acordo multimilionário em 2021. O restaurante continuou a crescer, expandindo para três locais, e Wade permaneceu no conselho, além de atuar como consultora no setor de hospitalidade. Fora isso, diversos ex-funcionários da Homeroom seguiram seus próprios caminhos empreendedores, refletindo o impacto da cultura e do aprendizado adquiridos no restaurante.
“Descobri que a geração de riqueza é um subproduto natural da busca por criar algo significativo para o maior número possível de pessoas”, afirma Wade a Fortune.