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Ela criou uma consultoria focada na representatividade de pessoas com deficiências na publicidade

Fonte: Redação

Em 2011, a publicitária Ana Clara Schneider viu uma versão tátil da pintura A Última Ceia, de Leonardo da Vinci. “Eu nunca tinha entrado em contato com um recurso desse tipo e comecei a me questionar sobre como as pessoas com deficiência poderiam ter acesso a soluções assim”, diz a paulistana. “Naturalmente, fiz uma relação com a minha profissão, e pensei nas experiências de compra da pessoa com deficiência, tanto em lojas físicas quanto no e-commerce.”

Depois desse episódio, aumentar a representatividade de pessoas com deficiências na publicidade se tornou uma meta. Seis anos depois, a empreendedora fundou a consultoria Sondery. A empresa já participou de 100 projetos executados em 70 clientes, que incluem campanhas para marcas como Burger King, Lacta e Bradesco, e renderam um faturamento de R$ 2,5 milhões.

Schneider conta que o primeiro contato com pessoas com deficiência foi no âmbito familiar. “Tenho uma prima que tem Síndrome de Down, e hoje é uma mulher adulta. Quando ela nasceu, eu estava no início da adolescência, e acompanhei todo o seu crescimento”, diz em entrevista a PEGN.

Foi se especializar quando se interessou pelo assunto. “Passei a fazer cursos de libras, audiodescrição e a participar de eventos relacionados ao tema, inclusive de ativismo sobre a cultura da inclusão”, diz. Quando ainda trabalhava em uma agência de publicidade, tentou inserir iniciativas, como descrição de imagens nas redes sociais, mas encontrou resistência no mercado.

“Eu pensava em serviços e soluções para consumidores com deficiência, mas não conseguia colocar em prática. Entendi que deveria me dedicar a isso e pedi demissão em 2016”, afirma Schneider, que também passou a fazer capacitações técnicas de empreendedorismo.

Alguns fatores fizeram com que ela optasse por abrir uma consultoria e não uma agência. “A cultura da agência pode ser opressora, e eu queria ter algo diferente. Meu objetivo era ser uma fonte de informação, trazendo respostas e ferramentas para agências e empresas sobre como reconhecer um consumidor com deficiência”, diz.

Lançada em 2017, a consultoria começou com palestras e oficinas. “A falta de conhecimento técnico e contato com pessoas com deficiência é a primeira barreira que temos que quebrar”, afirma a empreendedora, que depois passou a oferecer serviços de libras, audiodescrição e legendas.

Segundo a empreendedora, um fator é fundamental para atrair os clientes: em cada projeto, a empresa contrata consultores que são profissionais com deficiência que fazem sentido para aquela experiência específica. Por exemplo, para um comercial que representa a comunidade surda de alguma forma, contratamos consultores que possuem essa deficiência. “A curadoria e a seleção de consultores por projetos faz com que a gente seja mais assertivo na nossa entrega.”

A primeira grande campanha veio em 2019, para uma ação do Burger King que teve audiodescrição na televisão aberta. “A locução estava disponível para todas as pessoas que estavam assistindo, sem a necessidade de alterar a função do aparelho. Grande parte do público com deficiência audiovisual descobriu naquele comercial que o personagem principal era uma coroa de cartolina”, diz a empreendedora.

O negócio estava começando a acelerar — até que veio a pandemia do coronavírus. “Tivemos que parar por alguns meses, mas consegui manter a remuneração das pessoas até retomar os projetos em setembro. Desde então, tivemos um ascendente muito legal”, diz. Em 2021, a consultoria trabalhou em uma campanha do Bradesco de Dia dos Pais, em que o pai é cadeirante. No ano seguinte, participou de um comercial da Lacta sobre a comunidade surda.

Apesar dos avanços, a empreendedora entende que ainda é necessário investir em conscientização. “Temos que fazer um trabalho de educação para que o mercado entenda a acessibilidade como uma questão estratégica. Deve ser feita como parte inicial do projeto, e não só pensar no final, porque gera retrabalho e fica mais caro”, diz. “As marcas devem entender que pessoas com deficiência também consomem e são exigentes para escolher de que empresa comprar. Portanto, elas precisam se enxergar também e existe uma urgência de mudança.”

A longo prazo, Schneider pretende ir além da comunicação. “Minha intenção é trabalhar também a acessibilidade em embalagens e pontos de venda, por exemplo.”

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