De Salvador (BA), Camila Loren, 44 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro ainda na infância. Hoje, ela se autodenomina “baiana-carioca”, uma fusão de influências que tem sido sua principal fonte de inspiração artística e cultural na criação das peças do próprio negócio. A empreendedora é proprietária do Atelier Camila Loren, que se dedica a criar moda sustentável, com um significado especial por trás de cada coleção de roupas. Os produtos são feitos em sua própria residência.
Loren se destaca pelo crochê, técnica que serve como base para suas criações. O negócio segue o conceito de slow fashion, produzindo peças sob demanda e em pequenas quantidades para revenda em uma loja parceira. Única responsável pela empresa, ela gerencia desde a produção e confecção até a logística de entregas e compras de mercadorias. Como apoio, ela conta com costureiras e crocheteiras parceiras.
Formada no Ensino Médio técnico integrado ao curso de Tecnologia da Informação, Loren acreditava que sua carreira seguiria os caminhos do processamento de dados. Naquela época, o crochê era apenas um hobby, sem a perspectiva de se tornar uma empreitada comercial.
Foi quando, em 2010, uma amiga questionou o motivo de Loren não considerar o crochê como uma profissão. Motivada pela sugestão, ela decidiu se inscrever em cursos livres de técnicas de moda e crochê naquele mesmo ano. Somando a experiência que tinha e as novas conexões que conseguiu no universo fashion, a empreendedora se matriculou, em 2011, em uma faculdade de moda na capital fluminense.
O Atelier Camila Lore nasceu como um projeto em uma disciplina na faculdade, com o apoio de professores. O negócio realmente ganhou vida em 2012. No início, Loren afirma ter investido apenas R$ 5 na empresa, quantia destinada à compra da primeira linha de crochê. Desde o começo, sua estratégia era simples: criar a peça e usar o valor da venda para adquirir mais matéria-prima, impulsionando assim o desenvolvimento do negócio.
Loren relata que, desde a criação do ateliê, seu objetivo era se profissionalizar e se integrar à categoria de Microempreendedor Individual (MEI). No entanto, enfrentou dificuldades na emissão do registro, pois o sistema não reconhecia seu endereço. A empreendedora reside em Santa Cruz, um bairro rural e periférico da zona oeste do Rio de Janeiro.
“Para nós que viemos da favela e da periferia, até para abrir o próprio negócio é uma dificuldade. Demorei para me registrar não por falta de esforço, mas pelos erros no sistema. O meu MEI só veio sair só em julho de 2013, após muitas tentativas”, afirma.
Nos primeiros anos, o ateliê prestava serviços para outras marcas de moda, onde as peças eram revendidas. No entanto, o negócio começou a alcançar novos patamares quando se integrou ao programa Sebrae Moda Sustentável entre 2019 e 2020. Nesse projeto, ela recebeu orientações e dicas sobre negócios e empreendedorismo de curadores especializados em pequenos empreendimentos.
Hoje, o negócio conta com um e-commerce e revenda na loja AfroCentrados Colabs, situada no Shopping Bela Vista, em Salvador (BA). O Atelier Camila Loren produz vestidos, saias, blusas, croppeds e camisas feitas de crochê. Os preços vão de R$ 179 a R$ 649, e o faturamento mensal do negócio varia entre R$ 5 mil e R$ 6 mil.
Uma das recentes coleções lançadas é a Axé, que tem como proposta apresentar ao público peças com designs que simbolizam a ancestralidade e a cultura das religiões de matrizes africanas. As saias dessa coleção, confeccionadas em linho, crochê e algodão, têm preços a partir de R$ 239.
“Eu ainda não sei se quero abrir uma loja física, porque os custos são bem altos. O negócio colaborativo acaba diminuindo o meu custo de operação. Então, neste momento, é o mais viável para mim”, reforça.
Da sala de casa à passarela
Em maio deste ano, o Atelier Camila Loren participou do Festival Feira Preta, realizado na capital paulista. O evento proporcionou que as peças de Loren pudessem ser exibidas em um desfile de moda realizado no local. A empreendedora conta que aproveitou a ocasião para expor sua técnica e seu conceito de “moda sustentável”.
“Eu digo que a minha marca é sustentável porque [o conceito] está impregnado com a nossa essência periférica, em procurar ter um comércio justo e solidário, que valoriza a mão de obra. O meu ateliê conta com o apoio de costureiras e crocheteiras da minha região, o que gera um impacto socioeconômico no entorno. Isso é trabalhar a sustentabilidade na moda, pois quando eu cresço, outras pessoas crescem junto”, conta.