Ela assina looks icônicos: a fantasia viral de Exu, usada por Paolla Oliveira, em 2022, os bodies cheios de brilhantes de Ivete Sangalo, os figurinos carnavalescos de Anitta e, neste carnaval, é a responsável pela vestimenta majestosa de Érika Januza, rainha de bateria da Viradouro, a terceira escola a desfilar no próximo domingo. Michelly X é a estilista que dá vida às ideias de carnavalescos e stylists de cada musa e rainha da Sapucaí. Em entrevista ao GLOBO, ela conta um pouco dos bastidores da produção da folia, e de como se tornou referência entre as famosas no carnaval.
A estilista é de São Paulo e caiu no gosto do mundo do samba depois que a Grande Rio fez o primeiro convite, em 2010, para vestir atrizes globais e destaques. Ela chegou a produzir em um único carnaval 32 fantasias no ateliê.
— Se precisar ir para máquina, eu vou. Se precisar fazer um ajuste de última hora, eu faço. Se precisar criar algo na hora, eu crio. Se precisar transformar um tecido em um look rápido, eu também consigo — conta Michelly.
Quem não lembra de fantasias icônicas do carnaval? O Exu vestido por Paolla em 2022 foi desenhado pela estilista, apenas com o tapa-sexo sustentado por um macacão transparente, de um material super tecnológico chamado de illusion tule, que dá a impressão de estar sem nada. No último domingo, a rainha usou outro look da estilista: um conjunto de mais de 10 mil pedrarias verdes, com adereços dos pés à cabeça, no último ensaio técnico da Grande Rio na Sapucaí.

Este ano, a grande esperada é a fantasia da rainha da Viradouro, Érika Januza. Michelly recusou qualquer spoiler, mas a própria majestade topou dar algumas dicas do que vai mostrar no Sambódromo.
— Com certeza podem esperar da minha fantasia muito brilho, porque isso não pode faltar no carnaval. Meu personagem tem uma simbologia muito importante para Malunguinho, e eu fico muito feliz quando o carnavalesco me presenteia com símbolos importantes dentro da história do enredo — conta Érika, que diz ser uma oportunidade para incorporar à experiência o ofício como atriz.
— Isso faz com que eu consiga também evoluir como atriz. Eu gosto de unir as duas coisas, as duas paixões no mesmo lugar. Mais spoilers eu não posso dar — conta Érika Januza.
A confecção
O processo de produção da fantasia é feito em conjunto com os stylists de cada rainha de bateria, e os carnavalescos, em reuniões de criação com Michelly, que acompanha todas as etapas. Depois de desenhar e aprovar o croqui, é linha, agulha e tudo que a majestade tem direito.
— Tudo tem um propósito e um tema que deve ser seguido à risca. Além disso, nas reuniões é pontuado tudo que é importante e o que não pode sair do enredo. Falo diariamente com todos os envolvidos no projeto e também dou dicas do que pode dar errado se usarmos um determinado material. Ou seja, seguimos um croqui aprovado e depois a mágica acontece. É um time grande que está por trás do que as pessoas veem na passarela do samba. Ali é o resultado final de um trabalho que teve início há meses — conta Michelly X.
O início
A trajetória na moda começou muito antes. Michelly X é mulher trans, e natural de São Paulo, onde foi nascida e criada. Convivia com a avó, que costurava em casa, e o avô, alfaiate. “Acho que herdei deles este dom”, diz. Aos 17 anos, ainda como Alexandre Pinheiro, assumiu a confecção das roupas de um grupo de dança. Aos 21 anos, começou a vestir a apresentadora infantil Mariane e, em seguida, Monique Evans. Já como Michelly X, foi convidada para fazer o figurino do musical de teatro Ele e Ela, de Clodovil Hernandes.
— Como tudo na minha vida, a oportunidade apareceu e agarrei. O samba, através da Grande Rio, abriu muitas portas, principalmente com as globais na época. Depois do meu primeiro desfile, atrizes e cantoras passaram a me procurar. Acredito que soube aproveitar. Também fiz amizades que cultivo até hoje — conta ela.
Uma dessas amizades é com a cantora Ivete Sangalo, que conhece desde 2016 e passou a estar presente em suas produções. Foi dela o look da cantora no réveillon de Copacabana, com estampa de “calçadão” em paetês brilhantes.
A ficha do sucesso caiu mesmo quando teve o tão sonhado encontro com a Xuxa, sua grande inspiração. Apaixonada pela artista desde a adolescência, Michelly decidiu homenagear a apresentadora do coração usando a letra símbolo no nome artístico.
— Quando conheci a Xuxa e fiquei sabendo que ela estava querendo encontrar comigo, pensei: meu Deus! Acho que aí caiu a fixa. Viramos amigas e ela sabe do carinho imenso que tenho por ela. Foi a minha inspiração para tudo acontecer. E, aí, algo me marcou ainda mais: fazer o vestido de noiva da Sasha. São histórias que marcam e vou carregar para sempre comigo — relembra a estilista.
No entretenimento
Ainda no teatro, ela assinou os figurinos de época do musical “Homem com H”, em homenagem a Ney Matogrosso, reproduzindo peças icônicas usadas pelo cantor ao longo da carreira, e do espetáculo “Raia 30 – o Musical”, de Claudia Raia. No entretenimento, ela teve ainda uma participação no reality “Queen Stars Brasil”, da HBO Max, e para vestir a apresentadora Fernanda Lima para o programa “Amor & Sexo”, da TV Globo.