Nascida em 2016, a Play For a Cause une a paixão de fãs ao compromisso com causas sociais. Fundada por André Georges, 30 anos, e Manuella Carvalho, 24, a empresa já arrecadou mais de R$ 2,5 milhões e doou para 105 ONGs em 18 estados brasileiros, impactando diretamente mais de 50 mil pessoas. Tudo isso transformando itens ligados a esporte e entretenimento e experiências exclusivas em projetos solidários.
A ideia nasceu quando Georges, então estudante de Engenharia Naval na França, assistiu a um jogo do Barcelona no Camp Nou, durante uma visita à Espanha. Naquele dia, os torcedores ofereciam valores entre 50 € e 100 € aos seguranças presentes no estádio por garrafas vazias usadas pelos atletas. O comportamento curioso trouxe o insight.
“Se estão prontos para pagar esse valor em uma garrafa de água, imagina então na camisa que foi utilizada por um jogador?”, questionou. Em solo francês, ele testou o conceito por meio de uma parceria com o clube Stade Brestois, conseguindo leiloar um uniforme de jogador reserva e financiar a construção de uma escola no Malawi.
O sucesso do primeiro leilão não só validou a ideia, como demonstrou o potencial de arrecadação para projetos sociais. Incentivado pelo resultado, ele decidiu expandir a ideia para o Brasil, com dois grandes objetivos: transformar a paixão dos brasileiros pelo futebol em ferramenta de impacto social e mostrar que é possível gerar resultados para a população e, ao mesmo tempo, ser uma empresa lucrativa.
Sociedade e empreendedorismo
Em 2018, de volta ao Brasil, o empreendedor fundou a Football For a Cause com a ajuda de Manuella Carvalho, ativista social que conheceu durante o ProLíder, programa do qual ambos participaram naquele ano. Juntos, estruturaram a empresa e, em 2020, mudaram seu nome para Play For a Cause, refletindo a ampliação das parcerias esportivas para além do futebol e vislumbrando possibilidades na área de entretenimento.
Através da plataforma, são disponibilizados dois modelos principais de leilões, que permitem flexibilidade e adaptação às necessidades de seus parceiros e clientes.
O primeiro é baseado em colaborações com clubes esportivos, atletas e eventos. Assim, a empresa destina de 70% a 80% dos valores arrecadados para ONGs beneficiadas. Os parceiros ajudam a definir quais instituições serão contempladas.
Já o segundo tipo é voltado para itens de colecionadores e atua com base no modelo de “revenue share”, ou seja, distribuição de renda. Neste caso, a empresa só obtém lucro se o item – que passa por averiguação de corpo técnico para atestar a autenticidade – for vendido.
A criação foi uma resposta à demanda de colecionadores, que buscavam uma plataforma para negociação que contribuísse com causas sociais. São eles, aliás, que definem o percentual de recurso que será destinado à instituição a ser beneficiada. As ONGs também procuram a plataforma para a realização de leilões quando recebem doações diretamente de clubes e atletas.
Parceiros constantes
A Play For a Cause também estabeleceu parcerias fixas com clubes, como Atlético Mineiro e Vasco da Gama, além de eventos como a Stock Car. Com o Atlético Mineiro, por exemplo, são dois leilões por mês, com itens usados em partidas do time. O dinheiro arrecadado é direcionado para o Instituto Galo, que é o braço social do clube, tendo recebido mais de R$ 500 mil.
Junto à Stock Car, foram destinados mais de R$ 200 mil ao Instituto Ingo Hoffmann. As ações são realizadas todos os meses, com a venda de experiências para cada etapa – mesmo não sendo leilões, mantêm o cunho social proposto.
Com o Vasco da Gama não há uma frequência definida, mas geralmente são promovidas dez campanhas por ano. “Entre janeiro e maio deste ano, foram repassados mais de R$ 130 mil para sete ONGs brasileiras, a partir dos leilões com o clube alvinegro”, diz Georges.
Não há uma regra, pois pode variar conforme situação, mas as ativações costumam durar entre oito e 14 dias. Todos os itens podem ir ao ar até três vezes. Caso não seja adquirido, é o parceiro quem define o que fazer com o produto.
Destaques e ações pontuais
Dentre os projetos que se destacam na Play For a Cause está o “Doe Gols”, uma iniciativa em parceria com o canal SporTV e a loja esportiva Centauro. Desde 2019, cada gol marcado na Série A do Campeonato Brasileiro se transforma em três pares de tênis doados a crianças em áreas sem acesso a redes de esgoto.
Além de promover a arrecadação de fundos, a iniciativa impacta na saúde das crianças. Até hoje, mais de 15 mil pares foram entregues. Há, ainda, leilões pontuais, em prol de causa comum. No recente episódio de enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul, a plataforma levantou em torno de R$ 200 mil a partir das ações com parceiros do futebol, surfe e automobilismo, por exemplo.
A Play For a Cause está trabalhando na expansão para a área do entretenimento. Atualmente, a empresa busca parcerias com festivais de música, buscando a promoção de experiências e itens únicos para os fãs, assim como ocorre com os parceiros de esportes.
O segmento já deu mostras do potencial. Em 2020, durante a pandemia, a Play For a Causa encabeçou a campanha “O Futebol se Importa”, envolvendo mais de cem jogadores, que convidavam outros atletas e famosos a doarem itens pessoais em prol de pessoas impactadas pela covid-19.
Até o cantor Daniel doou seu violão, cuja ação arrecadou R$ 150 mil e permitiu a compra de 30 toneladas de alimentos e apoio à construção de sede de uma das ONGs beneficiadas. Entretanto, a peça mais disputada até hoje foi uma réplica da camisa da seleção brasileira da Copa do Mundo de 1970, autografada por todos os craques da época, incluindo Pelé. O item foi arrematado por cerca de R$ 42 mil.