A rede de intermediação de compra e venda de veículos usados Carflix acaba de anunciar o recebimento de um aporte da SMZTO, private equity especializado em franquias. O valor não foi revelado, mas posiciona a empresa de José Carlos Semenzato como sócia “minoritária relevante” no negócio. Com o movimento, a startup oficializa sua entrada no sistema de franquias e planeja abrir 30 unidades no primeiro ano e 200 em até cinco anos. A notícia foi revelada em primeira mão a PEGN.
Fundada em 2017 por Alan Ladeia e Fábio Pinto, a Carflix vinha testando o modelo de lojas físicas há cerca de dois anos, e hoje tem 11 pontos licenciados, que juntos transacionam R$ 17 milhões por mês. Mais duas unidades estão em processo de abertura e todas serão convertidas em franquias. O faturamento da rede em 2024 foi de R$ 200 milhões e a projeção é fechar 2025 com cerca de R$ 450 milhões.
A Carflix já conta com sócios relevantes em seu quadro: a MSW Capital (via fundo BR Startups) realizou o primeiro aporte em 2019 com foco em inovação, e o Mercado Livre se tornou sócio estratégico em 2020, agregando capilaridade digital e tecnologia.
José Carlos Semenzato, fundador da SMZTO, conta que a aproximação com a Carflix ocorreu há cerca de quatro anos, mas que a startup ainda estava em um período de crescimento digital, e o fundo sempre foi focado em franquias — marcas como Espaçolaser, Oakberry e Petlove estão no portfólio. “Quando eles voltaram, no final do ano passado, já eram dez unidades. Entendi que passamos a falar a mesma língua”, diz. Após um período de diligência, as empresas fecharam negócio.
De acordo com Ladeia, a primeira negativa ajudou a moldar o modelo de negócio da Carflix. “Foi uma quebra de paradigma para nós, quem plantou a semente da franquia na nossa cabeça foi o Semenzato”, diz. Ele conta que o negócio digital já crescia e atraia investidores e clientes, mas que era necessário ter pontos físicos para se expandir.
“O carro usado é único. Ele tem detalhes que, por mais que você faça uma inspeção super criteriosa, não é capaz de visualizar. Tem o cheiro do veículo, tem a condição dele, tem aspectos que importam para uma pessoa e para outra não”, afirma Ladeia.
O modelo de franquia foi formatado pela própria SMZTO. O investimento inicial para abrir uma unidade da Carflix é entre R$ 100 mil e R$ 220 mil, com receita média mensal estimada entre R$ 80 mil e R$ 180 mil e margem de 25% a 30%.
Ladeia conta que a localização das lojas foi pensada de acordo com a dinâmica do negócio: a tolerância do vendedor de um carro usado para percorrer distâncias costuma ser menor do que a do comprador. Dessa forma, é preciso estar próximo de quem pretende vender um veículo. “Um cliente de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, não vai até a região do bairro de Pinheiros, na capital, para vender um carro, mas ele vai para comprar”, diz.
Assim, as primeiras unidades foram abertas em locais estratégicos de São Paulo, para que o vendedor não precisasse se deslocar mais do que 30 minutos para encontrá-las. Do lado do comprador, a Carflix funciona com um estoque compartilhado, onde é possível ter acesso a todos os carros disponíveis na rede para venda de forma virtual.

As lojas da Carflix não estocam carros — dessa forma, não é necessário dispor de um espaço amplo para a operação. Quando o vendedor vai até a loja para vender o veículo, o franqueado tem acesso a um aplicativo com lojistas previamente avaliados e cadastrados na Carflix que podem se interessar pelo modelo e comprá-lo em até 20 minutos.
Se não houver interesse, e a Carflix entender que há potencial no veículo, ela faz um anúncio no site e no Mercado Livre para venda. Não há acordo de exclusividade, e o vendedor pode vender o carro por outro canal — esse, inclusive, é um dos maiores desafios da Carflix, assume Ladeia. “Vencemos isso tentando ser mais ágeis e agregar mais valor para esse vendedor”, explica.
O tempo médio de comercialização de um carro pela plataforma da empresa é de 25 dias. A Carflix cobra uma comissão mínima de 8% para a venda, com valor máximo de R$ 7 mil.
De acordo com Semenzato, a primeira fase de expansão prevê 200 unidades em todo o país em até cinco anos, e ele aposta em uma demanda por conversão de pontos próprios locais em franquias. “Porque hoje esse vendedor fica limitado a 10 ou 12 que ele põe na vitrine e fica à mercê de achar o cliente que goste do que ele tem no estoque. Aqui nós estamos invertendo essa lógica”, afirma.