Na corrida à Prefeitura do Rio de Janeiro, o empreendedorismo aparece de forma acanhada entre as propostas dos principais candidatos ao Palácio da Cidade. O tema acaba sendo ofuscado em meio às promessas para segurança pública, saúde e educação. Ainda assim, medidas em prol da criação de “hubs” de inovação, concessão de créditos e capacitação profissional – mirando especialmente os pequenos e microempreendedores – aparecem nos programas de governo dos postulantes ao Executivo carioca.
Metade de todos os pequenos negócios do Estado concentra-se na capital. Isto é, de um total de 1,6 milhão de empreendedores de micro a pequeno porte que estão no território fluminense, 728,8 mil estão na cidade do Rio, segundo dados do Sebrae.
“É necessária uma agenda e um olhar dos candidatos às prefeituras para micro e pequena empresa”, defende a coordenadora de inovação em governos e articulação institucional do Sebrae Rio, Juliana Lohmann.
“Claro que grandes empresas são importantes, mas muitas vezes, na ausência delas, são as micro e pequenas empresas que vão suprir o mercado de trabalho e a geração de renda”, completa.
Entre os pequenos negócios da cidade, 452,2 mil são microempreendedores individuais (MEIs), 217,9 mil microempresas e 58,3 mil empresas de pequeno porte. Eles se distribuem, sobretudo, no setor de serviço (53,53%), mas também estão no comércio (20,32%), indústria (13,91%), economia criativa (7,80%), turismo (4,30%) e agropecuária (0,15%).
Tanto o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), quanto Alexandre Ramagem (PL) prometem criar centros de inovação para dar suporte ao empreendedorismo social.
O candidato à reeleição nomeou sua promessa de “Hub Favela Empreendedora”. Em seu plano de governo, Paes define a proposta como um programa de “apoio e suporte aos empreendedores de comunidades da cidade”.
O prefeito também propõe, nesta mesma seara, ampliar o programa de capacitação profissional voltado ao empreendedorismo feminino, parcela relevante dos pequenos negócios cariocas. Outra promessa é a qualificação da mão de obra na cidade, visando “empregos verdes, inovação, turismo e tecnologia”. Dessa forma, pretende aumentar a formalização do trabalho no Rio.
A ideia, segundo Paes, é desenvolver projetos de dois programas que já existem na prefeitura: a Casa da Mulher e a Casa da Juventude. No primeiro, 210 mulheres já foram capacitadas durante a gestão atual, de acordo com números da prefeitura. No segundo, 19 mil jovens foram beneficiados.
A proposta de Ramagem é fazer um hub de tecnologia e de inovação social no centro antigo do Rio, próximo à Carioca e adjacências. O local escolhido, segundo a campanha do bolsonarista, é para aproveitar a estrutura existente na região e revitalizar sobrados abandonados para se tornarem sede de incubadoras. Para atrair empresas, o candidato do PL quer a redução de IPTU e ISS, por prazo determinado.
Outra medida que o bolsonarista pretende implementar, se vencer a eleição, é a criação de microcréditos para pequenos negócios e empreendimentos sociais. Essa é a mesma proposta feita por Tarcísio Motta (Psol). O candidato de esquerda também visa alcançar, com a medida, cooperativas de trabalhadores autônomos.
O objetivo, diz o candidato, é fortalecer o pequeno e médio empresário e incentivar as cooperativas de trabalhadores, oferecendo crédito para financiar projetos e assessoria sobre boas práticas e estratégias de empreendedorismo. Para desenvolver os programas de apoio, Motta também pretende contar com o auxílio de sindicatos e movimentos populares.
O psolista, no seu programa de governo, também foca nos agricultores familiares do Rio. Ele promete incorporar “tecnologias permaculturais no processo de cultivo, armazenamento e distribuição, incentivando as atividades de empreendedorismo alternativo das comunidades”.
Na avaliação de Lohmann, a criação de hubs de tecnologia é importante para atrair universidades, empresas e startups, como govtechs (que trazem soluções para governos), que podem auxiliar os empreendedores a terem uma melhor performance no seu dia a dia. No entanto, sozinhos esses centros de inovação não são suficientes.
“Por si só, essas medidas não são suficientes, mas já começam a trazer luz e oxigênio para os empreendimentos que necessitam, dentre tantas coisas, também trabalhar a inovação. Existe uma complexidade de desenvolvimento da própria atividade empresarial. O empreendedor precisa trabalhar a sua inovação interna, conseguir um crédito melhor, trabalhar possibilidades de pagamento para o seu cliente de forma favorecida”, afirma a coordenadora do Sebrae.
Para esta eleição, a entidade desenvolveu um guia de propostas para os candidatos visando o empreendedorismo. Nas medidas sugeridas estão a simplificação de processos, editais de compras governamentais exclusivos para pequenos e médios negócios, acesso a créditos e ao mercado, entre outras.