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Brasileiros são os que mais abrem negócios por oportunidade entre afroempreendedores da América Latina, diz pesquisa

Fonte: Redação

Os afroempreendedores brasileiros são os que mais empreendem por enxergarem uma oportunidade de negócio entre os países da América Latina, segundo a pesquisa “Empreendedorismo Negro na América Latina”, realizada pelo Plano CDE, CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe) e Instituto Feira Preta. Os resultados foram apresentados em eventos relacionados ao G20, que aconteceu nessa semana no Rio de Janeiro.

O estudo ouviu 2.855 empreendedores negros, além de membros do ecossistema de apoio da Feira Preta, abrangendo países como Argentina, Brasil, Colômbia, Panamá e Peru. Entre os respondentes brasileiros, 28% apontaram a identificação de uma oportunidade de negócio como a principal motivação para ingressar no universo do empreendedorismo. Em seguida vem o Peru (20%), Colômbia (18%), Argentina (17%) e Panamá (15%).

Segundo Adriana Barbosa, fundadora do Instituto Feira Preta e diretora executiva do Preta Hub, o principal motivo que leva os afroempreendedores a ingressarem no mundo dos negócios é a percepção de uma oportunidade de criar um mercado racialmente engajado, com foco na valorização e no fortalecimento da comunidade negra.

De acordo com ela, a diferença salarial entre negros e brancos faz com o que empreendedorismo se apresente como uma oportunidade de melhorar as condições financeiras.

“Algumas das entrevistas qualitativas que realizamos revelaram que muitos empreendedores enfrentaram situações de racismo no ambiente corporativo. Em decorrência desse obstáculo, muitos decidiram criar seus próprios negócios. Ao analisar o mercado, buscaram identificar oportunidades e lacunas que pudessem ser exploradas para desenvolver empresas que atendam às necessidades de consumo da população negra”, afirma.

Esse é o caso da artesã Fernanda Isaac, de 28 anos, fundadora da marca de crochê Negra Maria. A empreendedora paulista tem formação em jornalismo e, por muito tempo, se viu dividida entre a comunicação e o seu hobby: o crochê e o tricô.

Fernanda Maria Isaac é a dona da marca de moda sustentável Negra Maria, a qual atua na produção de peças em crochê — Foto: Divulgação
Fernanda Maria Isaac é a dona da marca de moda sustentável Negra Maria, a qual atua na produção de peças em crochê — Foto: Divulgação

Durante as aulas vagas na universidade, ela costumava fazer peças sob demanda, até que, em uma dessas ocasiões, uma colega de curso pediu uma bolsa em formato de melancia feita em crochê. Foi nesse momento que Fernanda percebeu que estava diante de uma oportunidade de negócio e que o artesanato poderia se tornar um caminho profissional.

Para Barbosa, o fato de o Brasil estar no topo da lista de países com maior índice de empreendedorismo negro por oportunidade na América Latina, se deve ao movimento de valorização da cultura e da história negra, construído nas últimas duas décadas. Esse movimento tem como foco a busca por mais representatividade negra, especialmente nos campos do trabalho, da música e da arte.

“A valorização da identidade negra é refletida nos padrões de consumo e [ajuda] a impulsionar o empreendedorismo por oportunidade”, diz.

O estudo também mapeou que a maior parte dos negócios tocados por afroempreendedores na América Latina tem como sede a própria residência. No Brasil, o índice é de 41%. Ainda, 62% dos afroempreendedores brasileiros afirmam que trabalham sozinhos, sem funcionários.

É o caso do tatuador Ian Rick da Silva, de 35 anos, que inaugurou seu estúdio de tatuagem movido pela necessidade de gerar uma renda extra com uma atividade que praticava desde a infância: o desenho.

O estúdio foi inaugurado em meados de 2021, na residência de Silva, no município de Mauá, na Região Metropolitana de São Paulo. Nos primeiros anos, o estúdio funcionava como uma fonte de renda complementar, uma vez que o tatuador conciliava seu trabalho com o de motorista de aplicativo. A decisão de abrir o negócio em casa foi motivada pela necessidade de um orçamento mais enxuto no início da empreitada.

“Eu decidi abrir o estúdio em casa porque ainda estava começando na tatuagem, não tinha clientes e nem condições de alugar um espaço, o que seria um custo adicional significativo. Como eu já tinha um espaço disponível em casa, acabei adaptando e transformando-o no meu estúdio”, diz.

Antes, a tatuagem era considerada apenas um complemento, mas hoje o negócio se tornou a principal fonte de renda de Silva. “O principal desafio de empreender em casa é que você acaba trazendo pessoas desconhecidas para o seu espaço pessoal, o que gera uma certa insegurança. Além disso, por ser um negócio solo, não conto com uma rede de tatuadores para me apoiar, então preciso aprender tudo sozinho. Mas no futuro, quando eu estiver mais estabilizado, pretendo abrir meu estúdio em outro local”, conta.

Adriana Barbosa comenta que o perfil de afroempreendedores que atuam sozinhos “está em processo de desenvolvimento e de crescimento”, mas que reflete uma realidade de escassez de recursos financeiros. Um dos pontos da pesquisa mapeou a dificuldade de acesso ao crédito — entre os brasileiros, a principal opção (31%) para financiar o próprio negócio é o cartão de crédito.

“Por conta disso, muitos não têm condições de delegar tarefas ou formar equipes, precisando empreender de forma solitária. Essa situação também é um reflexo da exclusão histórica do mercado de trabalho formal. Grande parte dos empreendedores que operam de casa surgiram no contexto pós-pandemia. Esses empreendedores são, em sua maioria, microempreendedores individuais (MEI)”, afirma Barbosa.

A pesquisa revela que os negócios de afroempreendedores brasileiros estão distribuídos entre diversos setores, sendo os principais: restaurantes e estabelecimentos similares (11%), varejo de vestuário e acessórios (10%), serviços de tecnologia (9%), varejo alimentício (4%), consultoria (4%), transporte (4%) e serviços de cabeleireiros e tratamentos de beleza (7%).

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