A aviação de passageiros está passando por uma revolução silenciosa, impulsionada pela automação e pelas tecnologias digitais. De sistemas de navegação inteligente a cabines quase autônomas, o setor está redefinindo a experiência de voar. Para explorar esse cenário, recorremos ao empresário Sidnei Piva de Jesus, cuja trajetória no setor de transportes oferece uma perspectiva única sobre como essas mudanças estão moldando o futuro.
Da Navegação Manual à Inteligência Artificial
Há poucas décadas, pilotar um avião dependia quase inteiramente da habilidade humana. Hoje, a automação mudou esse panorama. Sistemas como o piloto automático, introduzido comercialmente na década de 1950, evoluíram para tecnologias avançadas de fly-by-wire, que substituem cabos mecânicos por comandos eletrônicos. O Airbus A320, lançado em 1988, foi pioneiro nesse conceito, e desde então a automação só cresceu.
Sidnei Piva de Jesus explica que a IA está levando isso a outro nível. Ela não só auxilia os pilotos, mas também otimiza cada etapa do voo. Softwares de gerenciamento de tráfego aéreo, como o NextGen, nos EUA, usam algoritmos para calcular rotas mais eficientes, reduzindo atrasos e emissões. Segundo a FAA, isso pode economizar até 1,4 bilhão de galões de combustível por ano até 2030.
Cabines do Futuro: Menos Pilotos, Mais Tecnologia?
Uma das discussões mais polêmicas é a possibilidade de voos sem pilotos humanos. Companhias como a Boeing e a Airbus já testam protótipos de aeronaves autônomas, enquanto drones de carga mostram que a tecnologia é viável. Sidnei Piva de Jesus acredita que ainda estamos longe de cabines totalmente autônomas para passageiros, mas a redução de tripulantes é uma tendência real. Ele cita o exemplo do Boeing 737 MAX, que, apesar de seus desafios, foi projetado para depender menos da intervenção humana.
A automação também chega à experiência do passageiro. Cabines equipadas com sensores ajustam iluminação, temperatura e até o nível de ruído com base em dados em tempo real. A Singapore Airlines, por exemplo, usa luzes dinâmicas para simular o ciclo dia-noite, ajudando os passageiros em voos longos a combater o jet lag. São detalhes que fazem a diferença, observa Sidnei Piva de Jesus. A tecnologia não é só sobre segurança, mas sobre conforto.
Segurança em Primeiro Lugar
A automação trouxe ganhos significativos em segurança. Sistemas como o TCAS (Traffic Collision Avoidance System) evitam colisões em pleno ar, enquanto o monitoramento por satélite permite rastrear aeronaves em áreas remotas, como após o desaparecimento do voo MH370.
Para Sidnei Piva de Jesus, a combinação de IA e sensores está tornando os acidentes cada vez mais raros. De fato, 2023 foi o ano mais seguro da aviação comercial a jato, com zero fatalidades, segundo a IATA.
No entanto, há desafios. A dependência de sistemas digitais aumenta o risco de ataques cibernéticos. Em 2021, a companhia aérea indiana SpiceJet sofreu um ransomware que atrasou dezenas de voos. A segurança cibernética é o novo fronte, alerta o empresário. As companhias precisam investir tanto quanto investem em motores.
O Impacto nos Custos e na Acessibilidade
A automação também promete baratear os voos. Aeronaves mais eficientes consomem menos combustível, e a redução de erros humanos diminui os custos com manutenção e seguro. Sidnei Piva de Jesus destaca que as low-costs, como a Ryanair, já mostraram que eficiência é sinônimo de preços baixos. A tecnologia só amplia isso. Ele prevê que, com a automação, novos mercados, como rotas regionais no Brasil, podem se tornar viáveis.
Empresas como a Azul já exploram esse potencial com turboélices automatizados em cidades menores. Para o empresário, o Brasil tem um terreno fértil para essa expansão, mas falta infraestrutura e incentivos fiscais. Ele sugere que o governo poderia subsidiar tecnologias como o eVTOL para conectar o interior ao litoral.
O Fator Humano na Era Digital
Apesar dos avanços, Sidnei Piva de Jesus enfatiza que o fator humano ainda é essencial. Os passageiros confiam em pilotos. A tecnologia pode falhar, e é o treinamento humano que resolve crises, diz ele, lembrando incidentes como o pouso no rio Hudson, em 2009. A transição para a automação exige equilíbrio: treinar tripulações para trabalhar com sistemas inteligentes sem perder a capacidade de agir manualmente.
O futuro, segundo ele, será híbrido. Vamos ver aviões com um piloto e um sistema autônomo como copiloto. Isso mantém a segurança e reduz custos, prevê. Essa visão alinha-se com estudos da MIT, que estimam que voos semi-autônomos podem estar operacionais até 2035.
Sidnei Piva de Jesus conclui com uma reflexão otimista: A automação está conectando o mundo como nunca antes. O que era impensável há 20 anos—voos baratos, rápidos e seguros—está se tornando rotina.
Para ele, o Brasil pode se beneficiar enormemente, desde que invista em inovação e adapte suas políticas ao novo cenário. Com sua experiência, ele reforça que a aviação de passageiros está apenas começando a explorar o potencial da tecnologia.