Diz o ditado que depois da tempestade vem a bonança. Após um 2022 turbulento, com fontes mais escassas para a captação de investimentos, as startups brasileiras voltaram a anunciar rodadas mais robustas no segundo semestre de 2023. Os números não se comparam ao boom dos aportes vivenciado em 2021, mas mostram estabilidade do ecossistema.
Segundo os números da plataforma Sling Hub até 10 de dezembro, as startups brasileiras receberam US$ 1,9 bilhão em investimentos em troca de equity em 2023, captado em 435 rodadas – 58% do total investido em startups na América Latina (US$ 3,3 bilhões). Para comparação, em 2022, o volume levantado por empresas brasileiras foi de US$ 3,3 bilhões. Durante o boom, em 2021, foram US$ 9,7 bilhões.
“A escassez de investimentos que vimos nos últimos 12 a 18 meses fazem parte de um ciclo de ajuste necessário após um momento de excesso de liquidez que gerou algumas distorções no mercado. Ao final deste ciclo, teremos empreendedores mais maduros e preparados e startups mais sólidas. E os investidores também aprenderam a ter mais moderação e cuidado na alocação de capital, o que é positivo para todo mercado. Ainda não é possível afirmar com segurança que superamos o inverno, mas os investimentos de VC no Brasil têm se recuperado gradualmente”, afirma Gustavo Gierun, CEO do Distrito.
Como metodologia, recuperamos os relatórios divulgados ao longo do ano pelas plataformas Distrito e Sling Hub e focamos nas captações por equity, ou seja, em troca de participação acionária, excluindo os investimentos por dívida, como emissão de debêntures e estruturação de Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDC). Relembre as 10 maiores rodadas de investimento captadas pelas startups em 2023:
10. Gringo
O app de gestão automotiva para motoristas anunciou em setembro que levantou uma rodada Série C de R$ 150 milhões, liderada por Valor Capital Group, com a participação de Kaszek, VEF, Piton, ONE VC, ICU Ventures e Actyus. Na época, a startup afirmou que destinaria o aporte para acelerar a base de clientes e fortalecer os produtos de crédito e seguro automotivo. Fundado em 2020 por Rodrigo Colmonero, Juliano Dutra e Caique Carvalho, o Gringo conquistou 50 mil usuários em um mês. Ao longo de quatro anos, a tese da startup atraiu R$ 400 milhões em aportes.
9. Tractian
A startup de monitoramento de máquinas industriais levantou uma Série B de R$ 230 milhões em agosto. Liderada pela General Catalyst, a rodada contou com o retorno de DGF e Next47, que já integravam o captable da empresa, e com monashees. Com este aporte, a Tractian foi avaliada em R$ 1 bilhão. Fundada em 2019, a startup fornece tecnologia para indústrias, com dispositivos que monitoram máquinas para antecipar falhas no funcionamento e garantir que elas estão funcionando da maneira correta. Entre os clientes estão Embraer, Fini e Minalba.
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8. Órigo Energia
Em janeiro, a energytech conquistou um aporte de R$ 250 milhões da gestora norte-americana Augment Infrastructure, que já havia investido R$ 460 milhões na startup em agosto de 2022. A empresa pretendia investir o capital para aumentar a capacidade de fornecimento de energia, a partir da construção de mais fazendas solares. Na época do anúncio, a startup afirmou que atendia mais de 60 mil clientes a partir da energia gerada em fazendas localizadas em Minas Gerais, Pernambuco, Ceará e São Paulo.
7. Mottu
A locadora de motos anunciou uma captação de R$ 250 milhões em setembro. A rodada Série C foi liderada pela norte-americana QED Investors e pela Bicycle, gestora criada neste ano por Marcelo Claure, ex-Softbank. Endeavor Catalyst e Caravela também participaram da captação. Com foco em profissionais que trabalham pilotando motos diariamente, a startup passou a atrair o público que busca alternativas de mobilidade. O aporte será destinado para eficiência operacional e expansão para novas geografias – além do Brasil, a Mottu também opera no México.
6. Daki
Em um caso digno de destaque, o aplicativo de entregas rápidas conseguiu duas captações de R$ 250 milhões cada uma em menos de um ano. A primeira aconteceu em fevereiro, quando levantou uma Série C com os fundos GGV, G-G-Squared e Tiger Global, com a participação da Pernod Ricard, segundo maior grupo de bebidas alcoólicas do mundo. Com o investimento, a startup atingiu o valor de mercado de US$ 1,3 bilhão. Em setembro, a Daki anunciou uma Série D, no mesmo valor, com o foco na expansão da oferta de produtos e na lucratividade – porém, nesta rodada, após o encerramento das operações em outros países da América Latina, foi avaliada em US$ 800 milhões, perdendo o título de unicórnio.
5. Digibee
O anúncio da Série B de R$ 300 milhões que a plataforma de integração como serviço captou com Goldman Sachs Asset Management, K Fund, Vivo Ventures, Kinea e G2D Investments foi em maio. A injeção de capital seria destinada para a expansão da startup na América Latina e para aumentar a participação no mercado norte-americano. A Digibee atende grandes clientes dos setores varejo e bancário, como Itaú, B3, Assaí, Carrefour, CIMED, Bauducco e IBM.
4. Nomad
A fintech que oferece a abertura de conta bancária nos Estados Unidos para brasileiros e um cartão de débito que pode ser utilizado em mais de 180 países anunciou uma Série B de R$ 304 milhões no fim de agosto. A rodada foi liderada pela Tiger Global Management e acompanhada pelos já investidores Stripes, monashees, Spark Capital, Propel, Globo Ventures e Abstract. Com a injeção de capital, a startup atingiu valuation de R$ 1,8 bilhão. Na época do anúncio, a Nomad afirmou que pretendia direcionar o aporte para acelerar o seu crescimento com o lançamento de produtos na área de crédito.
3. Creditas
A fintech captou uma segunda extensão da Série F em setembro deste ano, levantando cerca de R$ 350 milhões. Segundo a apuração do Pipeline, o valor veio da base de acionistas da startup, incluindo o fundador Sergio Furio. Esta rodada foi anunciada inicialmente em janeiro de 2022, quando a Creditas levantou R$ 1,3 bilhão. Seis meses depois, realizou a primeira extensão, captando R$ 250 milhões.
2. Gympass
A plataforma de bem-estar corporativo conquistou uma Série F de R$ 425 milhões em agosto. Liderada por EQT Growth e com a participação da Neuberger Berman, a rodada avaliou a empresa em US$ 2,4 bilhões. 2023 foi um ano de recordes para o Gympass, que expandiu sua base de clientes corporativos em 80%, para mais de 15 mil, e ultrapassou a marca de 2 milhões de usuários em sua rede de mais de 50 mil parceiros.
1. QI Tech
A maior rodada do ano foi captada pela fintech para explorar oportunidades de M&A. No fim de outubro, a QI Tech anunciou que havia recebido um aporte de R$ 1 bilhão, na quarta maior Série B já registrada na América Latina. A rodada foi liderada pela General Atlantic e contou com novo investimento da Across Capital, que já era acionista. Menos de um mês depois da divulgação do investimento, a fintech anunciou a aquisição da Singulare, corretora de valores mobiliários, sem abrir o valor da transação.
A QI Tech foi fundada em 2018 e atua no mercado de crédito para simplificar os processos de empréstimo. A partir de um conjunto de APIs que permitem que qualquer empresa possa oferecer serviços financeiros aos clientes, a startup quer descentralizar o crédito dos grandes bancos.