“Mais de 70 horas de trabalho, sete quilos de barbante e muito amor dedicado”. Foi assim que a empreendedora Andreza Dalcamim, de 36 anos, compartilhou a produção de uma colcha em macramê — técnica de tecelagem manual com uso de nós — na última segunda-feira (27/1), e alcançou mais de dois milhões de visualizações com sua publicação no X. Além do trabalho minucioso, o fato de a encomenda ser uma surpresa também chamou atenção dos internautas.
“Muito fofo… um cliente me procurou porque notou que a namorada estava sempre curtindo meu trabalho no Instagram e encomendou uma peça maravilhosa para ela de surpresa, durante o processo eu fui postando as etapas e ela curtindo tudo sem saber que é o próprio presente”, escreveu no post.
À frente do estúdio Arte das Pretas em Petrópolis, no Rio de Janeiro, a artesã conta que o pedido foi feito em dezembro do ano passado pelo cliente. Sem citar muitos detalhes da encomenda para não estragar a surpresa, a fluminense diz ter ficado chocada e muito feliz com toda a repercussão do post nos últimos dias.
“Foi uma extrema surpresa ter viralizado, porque eu não tinha tantos seguidores no X e tudo que eu posto lá é meio que eu falando sozinha”, afirma, explicando que costuma divulgar o trabalho no Instagram, onde soma mais de 5 mil seguidores.
Em meio ao sucesso da publicação, a artesã revela que conquistou quase 1.500 seguidores no Instagram. Quanto ao processo de produção da colcha — que mede 1,40 m de altura e 1,80 m de largura –, a artesã diz que as 70 horas foram divididas em quase 15 dias até a finalização da peça. Ela explica que, por se tratar de um trabalho manual com movimentos repetitivos, é preciso respeitar os limites do corpo e não dá para fazer tudo de vez.

“É muito cansativo. As pessoas podem pensar ’70 horas divididas em dias fica pouco’, mas não dá. E mesmo assim não tem como trabalhar todos os dias. Se eu trabalhar seis horas em um dia, no outro eu já não consigo ter o mesmo rendimento. Dá uma exaustão física bem grande”, afirma.
Mesmo com o esforço nas muitas horas de produção, a artesã destaca o quanto ama se envolver no processo de criação das peças. Para ajudar no trabalho, ela conta que aproveita para ouvir músicas e podcasts. “Eu amo fazer macramê. Mentalmente, para mim é maravilhoso. Meu filho fala que eu entro em modo avião”, diz aos risos.
No estúdio Arte das Pretas, a artesã conta que já produziu uma média de 1 mil peças desde a criação do negócio em 2018. O catálogo de produtos dispõe de roupas diversas, chaveiros, pendentes para plantas e luminárias, mantas, painéis, entre outros. A artesã destaca que as peças são exclusivas e podem ter preços variados, a exemplo da colcha que custou R$ 880. Contudo, ela reforça que sempre busca trabalhar com valores acessíveis para democratizar o acesso à decoração.
Atualmente, a empreendedora é formalizada como Microempreendedor Individual (MEI), e diz ter “investido pouco” no início do negócio, comprando dois rolos de barbante por cerca de R$ 20.

“Eu faço o orçamento dentro de um valor muito justo, sabe? Isso é uma coisa que eu sempre tive como principal objetivo. Eu sempre quis ter minha casa decorada, e isso para quem é classe C, sempre foi muito distante. Sempre quis que os meus valores fossem acessíveis para as pessoas que estavam ao meu redor”, afirma.
Além da produção das peças, a artesã tem investido na elaboração de projetos voltados para o ensino da técnica em instituições públicas e privadas. Por meio da aprovação em um edital da Lei Aldir Blanc, a carioca vai oferecer aulas gratuitas de macramê e de precificação na 3ª edição do Projeto Entrelaçando Gerações em Petrópolis, no Rio de Janeiro. A iniciativa acontecerá entre fevereiro e junho de 2025. Anteriormente, a artesã também realizou as aulas em uma localidade quilombola da mesma cidade.
“Sempre quis e tinha o foco de ensinar e proporcionar esse conhecimento para mães solteiras, mães atípicas. No ano passado, eu fui aprovada em dois editais e é uma realização muito grande para mim”, ressalta.
Com o olhar para o futuro do negócio, a artesã afirma que seguirá investindo nos projetos de ensino e capacitação, além de impulsionar a comunicação nas redes sociais e ampliar a oferta de produtos, a exemplo da produção de sandálias.
“Para este ano, tenho foco em divulgar os cursos e o ateliê. E quero também entrar no mercado de calçados e ir mais para o ramo de acessórios. Já estou fazendo uma sandália, mostrei parte do processo e a galera gostou bastante.”