O arquiteto Pedro Rubens, de 31 anos, encontrou na arquitetura uma ferramenta de representatividade e transformação social. Formado pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) em 2020, e com passagem pela Escola de Arquitetura e Design da UFMG, ele deu início, ainda na graduação, ao projeto Arquitetura D’ Preto, uma rede que busca dar visibilidade a profissionais negros no setor e na construção civil.
“O projeto começou em 2019, durante a minha passagem pela UFMG. Aprofundei os estudos e pesquisas focados na arquitetura afro-brasileira, o que me levou a idealizar essa rede. Ela foi concretizada em junho de 2020, por meio da página do Instagram @arquiteturadpreto”, conta Rubens.
A iniciativa surgiu para promover conexões entre clientes e profissionais negros, além de ser um espaço para aquilombamento e diálogo.
“Não é apenas um canal para identificar profissionais negros. A ideia é também contribuir para o desenvolvimento político, social, econômico, histórico e cultural, promovendo acessos, representatividade e empoderamento da comunidade negra, há muito tempo invisibilizada”, afirma o arquiteto, que também é sócio do escritório mineiro multidisciplinar Brasileiro.studio.
A motivação para criar a rede
Rubens lembra que sua trajetória pessoal, acadêmica e profissional foi marcada pela falta de representatividade negra. “Ao longo da minha vida escolar e também na graduação, fui um dos poucos discentes negros no curso de Arquitetura e Urbanismo. Não tive aulas com professores negros nem estágios onde houvesse profissionais parecidos comigo”, cita.
Esse cenário despertou reflexões que culminaram na criação da rede. Uma pergunta o deixava inquieto: onde estariam os arquitetos e urbanistas negros? Com o tempo, ele parou de buscar respostas e começou a pensar em como poderia mudar a realidade. Foi assim que surgiu a ideia de criar um espaço que promovesse a representatividade dentro do mercado.
Hoje, a Arquitetura D’ Preto conta com 13 regionais no país, abrangendo os estados de Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Pará, Distrito Federal, Alagoas e Goiás. A empresa também já está em Lisboa, em Portugal. A intenção é alcançar todos os estados brasileiros e outras cidades no exterior.
“A ideia é compreender as particularidades de cada região por meio dos profissionais que vivenciam aquele território. Isso também facilita a conexão de clientes com arquitetos locais”, explica o idealizador.
No momento em que clientes em potencial buscam por profissionais nessas regiões ou próximas, a ideia é priorizar aqueles que atuam e atendem naquela localidade. O grupo de coordenadores é plural e diverso, com profissionais de várias frentes da arquitetura, do urbanismo e do design.
Os encontros do grupo acontecem de forma virtual e, sempre que possível, presencialmente para estreitar laços, alinhar ideias e traçar novas metas. Os membros já se encontraram em São Paulo (SP), Tiradentes (MG) e Salvador (BA).
Conexão com clientes vem do ‘boca a boca’
A rede já identificou mais de 1 mil profissionais negros no país e segue cadastrando novos participantes. Atualmente, o Arquitetura D’ Preto conta com 100 perfis registrados e trabalha para ampliar esse número.
Já as conexões com clientes são feitas por indicações e encaminhamentos diretos aos coordenadores regionais, responsáveis pela viabilização na cidade e estado que gerenciam. “O boca a boca ainda é uma ferramenta muito eficaz. Estamos criando uma rede de profissionais que se apoiam e se fortalecem cada vez mais”, afirma Rubens.
Apesar das recomendações pessoais, o futuro é digital. Entre as novidades e planos para o futuro está o lançamento de uma plataforma digital, ainda em fase de testes, que deve ser disponibilizada ainda neste semestre. Com a ferramenta, os clientes poderão buscar diretamente por profissionais na região em que residem, algo que deve facilitar o acesso à rede e ampliar a visibilidade dos arquitetos cadastrados.
“Hoje, temos fundadores de escritórios, profissionais autônomos, professores, conselheiros estaduais, servidores públicos. Uma das premissas para essa expansão no território brasileiro e, também, fora dele é ocuparmos e levarmos a luta antirracista nas mais diversas áreas do ofício”, finaliza Rubens.
A rede não é monetizada. De acordo com o idealizador, até pode ser que, no futuro e com planejamento, haja viabilidade para que isso aconteça, mas não é prioridade no momento. “Compreendemos que já fazemos o capital circular entre a comunidade negra por meio das conexões entre profissionais e clientes, o que sempre foi o nosso foco”, finaliza.