Após enfrentar na pandemia um dos períodos mais desafiadores de sua história, o turismo interno brasileiro demonstra recuperação. No ano passado, o setor movimentou R$ 89,5 bilhões, um crescimento de 8,1% em relação a 2023, aponta o IPC Maps, ferramenta da IPC Marketing Editora que analisa o potencial de consumo dos municípios do país. O número de alojamentos instalados, como albergues, campings, hotéis e pousadas, ultrapassou 1,6 milhão, registrando um aumento de 2,7% em relação a 2023. Esse cenário evidencia a retomada de um segmento que, apesar de ter acumulado uma perda de R$ 531,8 bilhões entre 2020 e 2022, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), agora se fortalece com a abertura de novos negócios e a expansão de nichos promissores para empreender.
“Além da alta do dólar, o turismo regional é favorecido pela melhora na infraestrutura de estradas e aeroportos e pela maior personalização dos pacotes para atender pessoas que buscam experiências marcantes”, afirma Luiz Barbieri, coordenador do Centro de Empreendedorismo e Inovação do Ibmec do Rio de Janeiro.“ Isso tem feito o brasileiro optar por redescobrir seu próprio país.”
Dados de 2024 do Ministério do Turismo indicam que 96% da movimentação do setor no Brasil vem de viagens dentro do próprio país. Para atender a essa demanda, as empresas da área precisam contar cada vez mais com equipes de funcionários capacitados: o número de empregos formais chegou a 3,5 milhões no ano passado, um crescimento de 7,9% em relação ao período pré-pandemia (antes de 2020).
O comportamento do turista também mudou nos últimos anos. Embora as praias brasileiras continuem sendo o destino preferido, roteiros que envolvem aventura, ecoturismo e passeios rurais estão despertando maior interesse, assim como viagens que possibilitam experiências culturais, gastronômicas, espirituais ou religiosas. “As pessoas estão buscando mais personalização e alternativas para os eixos turísticos tradicionais e massificados”, diz Alan Guizi, professor dos cursos de turismo e hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi.
O Plano Nacional de Turismo 2024-2027, elaborado pelo governo federal, prevê para esse período um aumento de 312 para 400 do total de municípios que integram o Mapa do Turismo Brasileiro, uma alta de 28,2%. Fazer parte desse documento é importante porque permite maior acesso a recursos federais para o desenvolvimento de projetos de infraestrutura turística, mais facilidade para captar investimentos, ganho de visibilidade e participação nas ações promocionais do governo federal.
NICHOS
Hoje, no país, há 1,8 milhão de empresas no setor de turismo, segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Desse total, 97% são pequenos negócios, que competem entre si. Daí a necessidade de o empreendedor buscar alternativas para se destacar. “Uma das melhores estratégias é atuar de forma nichada e ser criativo”, aconselha Gustavo Inácio de Moraes, professor da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), e aproveitar esse momento de fortalecimento da conexão com a natureza, a cultura e a história do país.
Como as grandes operadoras costumam oferecer pacotes mais engessados e com poucas opções de personalização, o dono de pequeno negócio pode se destacar com propostas mais flexíveis. Oferta de roteiros combinados, parcelamentos acessíveis e tíquetes para refeições, passeios e transporte adquiridos separadamente são algumas alternativas, destaca Moraes. Essas medidas ampliam tanto as possibilidades para os viajantes quanto as chances de atraí-los e fidelizá-los.
Apostar em novas tecnologias, como inteligência artificial, também se torna essencial, permitindo uma compreensão mais detalhada do perfil e das preferências do público. Da mesma forma, a presença ativa nas redes sociais fortalece a conexão com os consumidores, amplia a visibilidade e potencializa as vendas.
Há boas notícias também vindas do exterior. Entre dezembro de 2024 e janeiro deste ano, desembarcaram no país 2,8 milhões de pessoas, 57% a mais em comparação ao mesmo período anterior, segundo o ministério. O governo federal, em seu Plano Nacional de Turismo, prevê uma alta dos atuais 5,9 milhões para 8,1 milhões no volume de turistas internacionais até 2027, um salto de 37,1%.
O PODER DA INFLUÊNCIA DIGITAL
As redes sociais se tornaram ferramentas indispensáveis para o turismo. Quando usadas de forma estratégica, permitem interação próxima com o público, personalização de conteúdos, realização de lives para divulgar promoções, além de facilitar vendas e direcionar para sites de reservas. Assim, influenciam diretamente as decisões de quem planeja viajar.
Um estudo do TikTok, feito pela empresa de pesquisas Offerwise em 2023, mostrou que um em cada três brasileiros buscou informações sobre turismo na plataforma. E 77% afirmaram sentir vontade de visitar um destino após saber mais sobre ele.
A opinião de influenciadores digitais tem ganhado força, já que trazem conteúdos autênticos e próximos da realidade. Além de mostrar paisagens e atrações, falam sobre desafios como infraestrutura precária, preços altos e mau atendimento. Essa transparência agrada a quem busca informações honestas antes de viajar.
“Os nanoinfluenciadores, em especial, criam uma conexão verdadeira e transparente com seu público-alvo, geram confiança e têm engajamento elevado”, diz Barbieri, do Ibmec. “Cada vez mais, as pessoas definem seu destino a partir do conteúdo que eles apresentam.”
VIAGENS PARA TODOS
O turismo nacional ainda enfrenta desafios para garantir um acolhimento adequado a pessoas com deficiência e idosos, evidenciando a necessidade de maior acessibilidade e inclusão. A falta de infraestrutura em muitas cidades é um dos principais entraves, afetando desde meios de transporte e calçadas até banheiros adaptados. Somam-se a isso a escassez de profissionais capacitados para atender esses públicos e a baixa conscientização das empresas sobre a importância de oferecer produtos e serviços compatíveis com suas demandas. “Temos dificuldade até para coisas básicas, como encontrar recepcionistas capazes de se comunicar em linguagem de sinais”, exemplifica Guizi. Por isso, empreendedores que investirem em atendimento especializado e roteiros adaptados podem conquistar um nicho promissor. Outro exemplo da necessidade de avanços está nos resultados do Programa Voa Brasil, criado em 2024 pelo governo federal para oferecer passagens aéreas a R$ 200 para aposentados e reduzir a ociosidade dos aviões. Em janeiro, foram vendidos 5.308 assentos, o que representa 1% da meta de 3 milhões assumida pelas companhias aéreas. Além de ser pouco divulgado, a burocracia é grande, diz Barbieri, do Ibmec. “A iniciativa é positiva, mas pouco acessível.”
A RETOMADA DO RS
Após as chuvas que, em 2024, devastaram 471 cidades e desalojaram mais de 600 mil pessoas no Rio Grande do Sul, o estado começa a se reerguer como destino. Um ano após a tragédia que também paralisou o Aeroporto Salgado Filho, a economia enfrenta desafios, mas o turismo dá sinais de retomada. “As atividades do segmento voltaram ao ritmo normal”, afirma João Augusto Machado, presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens do Rio Grande do Sul (ABAV-RS). Gramado e Canela estão prontas para a alta temporada. “O acesso foi recuperado e já no Natal Luz de 2024 tivemos bom movimento.” Para Moraes, da PUCRS, é urgente renovar o calendário de eventos: “Está esgotado. É preciso criar novos motivos para estar na Serra Gaúcha”.
ROTEIROS DE FÉ
O turismo religioso é responsável por cerca de 20 milhões de viagens por ano no Brasil e movimenta R$ 15 bilhões na economia, segundo o Ministério do Turismo. Entre os locais mais tradicionais estão o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida (SP), a Basílica de Nazaré (PA), o centro de peregrinação de Padre Cícero (CE) e o Santuário Basílica do Divino Pai Eterno (GO). Ouro Preto (MG), com suas igrejas barrocas, também se destaca. O país tem ainda 513 festas religiosas oficiais, contemplando várias religiões. Uma vantagem para o empreendedor é a estabilidade do segmento. “É uma clientela formada por peregrinos e muitas pessoas da terceira idade que precisam ter acompanhantes, o que eleva as vendas”, diz Guizi, da Anhembi Morumbi.
Turismo nacional em números
Como os brasileiros escolhem para onde ir e como gastar em passeios dentro do país


OS 10 DESTINOS NACIONAIS MAIS BUSCADOS EM 2024
1. São Paulo (SP)
2. Rio de Janeiro (RJ)
3. Recife (PE)
4. Salvador (BA)
5. Fortaleza (CE)
6. Curitiba (PR)
7. Florianópolis (SC)
8. Belém (PA)
9. Porto Alegre (RS)
10. Maceió (AL)






Em alta
– 21,5% dos turistas brasileiros viajaram em 2023 com o objetivo de conhecer a cultura e a gastronomia locais, um aumento de 34% em relação a 2021, segundo o IBGE
Os prazeres da boa mesa
Mais de 50% das pessoas consideram a comida e os festivais relacionados a ela parte essencial de suas viagens, aponta o Estudo sobre Tendências de Turismo Gastronômico – Brasil 2030, do Ministério do Turismo. A possibilidade de saborear pratos de alta qualidade a preços acessíveis influencia a escolha do destino e o planejamento do roteiro. “O brasileiro ficou mais crítico em relação à alimentação mais sofisticada”, diz Alexandre Sampaio, presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA). “Os restaurantes são ecléticos e, em muitos casos, têm cozinhas especializadas em etnias específicas.”
O interesse por experiências que unem cultura e gastronomia se reflete nas estatísticas: 21,5% das pessoas que viajaram a lazer em 2023 buscaram locais focados nesses aspectos, um aumento de 34% em relação aos 16% registrados em 2021, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em setembro de 2024.
Um exemplo é o afroturismo, que evidencia tradições, ingredientes e técnicas africanas, muitas delas ancestrais, nos destinos visitados. Entre os roteiros, estão Salvador (BA), com pratos como acarajé, vatapá e moqueca; Belém (PA), com os sabores da Amazônia, a exemplo do pato no tucupi, da maniçoba e do pirarucu; Porto Alegre (RS), que combina o autêntico churrasco com cantinas italianas na serra; e, no Pantanal (MS e MT), os protagonistas são os peixes regionais, com destaque para o pintado na brasa e o pacu frito.
Sabores do fogão a lenha

Roseli Alves Cordeiro, 50 anos, fisga turistas pelo estômago. Do fogão a lenha de sua cozinha no Haras Rancho Sertanejo, localizado em Juquiá (SP), saem pratos que aguçam o apetite. O carro-chefe é a moqueca de palmito-pupunha acompanhada de purê de inhame, mas, no bufê, que custa R$ 60 por pessoa, há outras opções que também fazem sucesso, como o ceviche de banana e o espaguete de palmito. “Sempre soube cozinhar bem, mas fiz vários cursos para me aperfeiçoar”, diz.
Antes de comprar o sítio, em 2016, e transformá-lo três anos mais tarde num espaço gastronômico, ela trabalhou como motorista de tratores, caminhões e empilhadeiras em uma empresa de logística. Devido a uma doença, resolveu mudar seu estilo de vida e abrir o próprio negócio. Fez um empréstimo de R$ 10 mil no Banco do Povo Paulista para equipar a cozinha e começou a trabalhar.
Na empresa, ela conta com o apoio do marido, Jacques Marques, 51 anos, e do filho, Kauê, 21. Recebe cerca de 200 pessoas por mês e aluga o espaço para empresas que desejam fazer seus eventos num lugar próximo à natureza.
Apesar de explorar atividades de lazer, Cordeiro gosta mesmo é de cozinhar para seus turistas, que podem se hospedar no local. “Se pescar um peixe e quiser prová-lo, preparo e sirvo para ele. É uma experiência marcante, além de saborosa.”
BLEISURE
Em alta
– US$ 730 milhões é quanto o bleisure deve movimentar no mundo até 2030, de acordo com a plataforma Paytrack
Negócios e lazer conectados
O turismo que alia trabalho e lazer está em alta no mundo. Conhecido como bleisure – combinação das palavras em inglês business (negócios) e leisure (lazer) –, ele deve movimentar US$ 730 milhões até 2030, segundo a Paytrack, plataforma especializada na gestão de despesas e viagens corporativas.
No Brasil, aponta a mesma pesquisa, 44% dos profissionais brasileiros já se recusaram a viajar a trabalho quando souberam que não seria possível ter nenhuma diversão nas horas vagas. Para 55% deles, esse formato possibilita melhor qualidade de vida, enquanto 78% garantem ter apresentado um aumento de performance.
“Há cidades que estão investindo em marketing para executivos com o apelo para que fiquem mais um dia ou dois para relaxar”, afirma Barbieri, do Ibmec. As empresas também estão enxergando vantagens no bleisure, como oferecer uma oportunidade a seus executivos para cuidarem da saúde mental, algo que se tornou prioridade para as áreas de recursos humanos depois da pandemia de covid.
Outros benefícios são a retenção de talentos, o aumento do nível de satisfação da equipe e a consolidação de uma imagem corporativa positiva para o mercado. Os destinos que favorecem viagens a negócios e lazer são, em sua maioria, grandes cidades que contam com espaços de feiras, eventos e convenções, como Belo Horizonte (MG), Florianópolis (SC), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e São Paulo (SP.)
De olho no tempo livre

Durante a maior parte de sua vida profissional, a jornalista Kaly Camargo, 46 anos, ganhou a vida fazendo assessoria de imprensa para eventos corporativos e feiras. Nessas ocasiões, era comum ser questionada por executivos e empreendedores se podia indicar atividades de lazer para fazerem no intervalo do trabalho.
Passou então a organizar passeios em Florianópolis (SC), onde mora, e com o tempo identificou uma oportunidade de negócio. Em agosto de 2023, fundou, com Marcos Buson, 37 anos, sócio-investidor, a TravelAnts, uma startup especializada em bleisure. “Organizo grupos corporativos para participar de canoagem, trilhas, aulas de surfe e cavalgadas na praia, além de levá-los para conhecer nossa gastronomia”, pontua.
Desde a fundação, a empresa alcançou uma receita de R$ 200 mil – e a empreendedora aposta em crescimento. Segundo ela, há dois nichos com maior demanda: oferecer serviços a empresas que buscam espaços com natureza rica para reuniões de negócios, proporcionando encontros mais agradáveis, e atender os familiares acompanhantes. “Com isso, devo chegar ao final deste ano com um faturamento de R$ 400 mil. Pretendo também levar a TravelAnts para outras regiões do Brasil, como a Chapada dos Veadeiros [GO] e o Pará.”
Experiência
Em alta
– 60% do faturamento dos pequenos negócios vem do turismo de experiência, de acordo com o Sebrae e o TRVL LAB
Vivências marcantes
O turismo de experiência representa 60% do faturamento dos pequenos negócios do setor, de acordo com um estudo do Sebrae em parceria com o TRVL Lab, laboratório de inteligência de mercado em viagens. Essas vivências imersivas, que permitem uma conexão mais profunda com a cultura, a história, a gastronomia e a natureza das comunidades locais, são apontadas como a principal motivação para viajar por nove em cada dez turistas, sendo que os momentos de relaxamento e o ecoturismo lideram as preferências, com 70% e 57%, respectivamente.
“Essa modalidade não apenas valoriza momentos ao ar livre, mas também impulsiona a conservação ambiental, o empreendedorismo local e o desenvolvimento regional”, afirma Samia Borges, consultora do Sebrae. “Entender a jornada de compra do viajante e se manter atrativo fará toda a diferença para o sucesso do negócio.”
A exploração a pé da cidade é a atividade preferida por 63%, ainda segundo a pesquisa, e 40% buscam compartilhar esses momentos com o cônjuge e os filhos. Outro segmento que vem ganhando espaço dentro dessa tendência é o turismo de saúde e bem-estar, impulsionado pela busca por equilíbrio e qualidade de vida. Spas, retiros e centros de tratamento se tornaram opções cada vez mais procuradas.
Caminhos da ancestralidade

A historiadora Solange Barbosa, 61 anos, transformou sua antiga luta pela valorização da cultura negra em um negócio lucrativo. Desde 2006, ela comanda a Sol Barbosa Turismo e Cultura, uma agência de afroturismo com sede em Taubaté (SP).
Seu diferencial é a Rota da Liberdade, que envolve experiências em dois quilombos, Cafundó e da Fazenda, e no Centro Cultural Zumbi dos Palmares, todos no estado de São Paulo. Ela já levou grupos também para Paraty, no Rio de Janeiro, cidade em grande parte construída com a força do trabalho dos escravizados.
A proposta é promover uma imersão na cultura afro, na arte da estamparia, por meio de oficinas, e nas caminhadas por locais que mostram a luta e a resistência dos negros na região do Vale do Paraíba. “Ofereço ainda a oportunidade de conhecer a gastronomia ancestral africana, fazer mergulhos em cachoeiras e participar de jogos e leituras de livros que tratam da temática afro”, diz.
A empreendedora tem notado um aumento na demanda por viagens voltadas para esse tipo de vivência desde 2018. Atualmente, o turismo corporativo tem ganhado relevância na agência, respondendo por 60% dos clientes. Os resultados atestam o crescimento: em 2024, o faturamento foi 25% maior do que em 2023, com um tíquete médio de R$ 350. Desde a fundação, a Sol Barbosa já atendeu mais de 10 mil turistas.
Hospedagem
Em alta
– 43.826 empresas de alojamento surgiram no Brasil em 2024, fechando o ano em 1.647.459, segundo O IPC Maps
Mais quartos à disposição
O setor de hospedagem teve um ano positivo em 2024. Um levantamento feito pelo Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil indica aumento de 1,2% na taxa de ocupação de hotéis entre janeiro e agosto, comparado ao mesmo período do ano anterior, com alta de 10,6% no preço médio.
O relatório Panorama da Hotelaria destaca a previsão de investimentos de R$ 8,4 bilhões até 2028, 26,9% superior à expectativa que havia em 2023. A previsão é de 137 novas assinaturas de contratos de construção de hotéis, com mais de 21 mil novos quartos.
“Com o dólar em alta, o mercado interno se abriu e se diversificou, e as condições de infraestrutura foram melhoradas, como no caso dos acessos para as praias paradisíacas do Nordeste, proporcionando um turismo de qualidade especialmente para a classe média”, afirma Sampaio, da FBHA.
O setor de empresas de alojamento, que é composto, além de hotéis, por empreendimentos como apart-hotéis, hostels, pousadas e resorts, cresceu 2,7% em 2024 em comparação a 2023, passando de 1.603.633 para 1.647.459 unidades, segundo o IPC Maps. Não entram nesse cálculo a locação temporária de apartamentos, casas e chalés, que são disponibilizados em plataformas como Airbnb e Booking.com.
Pets são os verdadeiros hóspedes

O Brasil tem o terceiro maior mercado pet do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Em 2024, o setor movimentou R$ 77 bilhões, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação. Atenta a esse crescimento e ao vínculo cada vez mais forte entre tutores e seus cachorros e gatos, Ana Luiza Russo, 48 anos, transformou, em 2020, a Villa Ayê – fundada por ela em 2015, em Socorro (SP) – em uma pousada boutique 100% pet friendly.
Tudo foi pensado para o conforto deles. Entre os serviços oferecidos, estão café da manhã, dieta especial para alérgicos, massagens relaxantes, piscina exclusiva com tratamento de ozônio, área para banhos e um espaço zen com bangalôs e ofurô aquecido. “Somos uma pousada para pets que aceita a presença de humanos”, brinca. “Toda a nossa equipe tem treinamento básico em comportamento animal.”
No primeiro ano da mudança de estratégia, o negócio registrou um crescimento imediato de 149%. De 2015 até 2023, o aumento foi de 930%. O faturamento em 2024 fechou em R$ 1,8 milhão, e a previsão para 2025 é de uma receita de R$ 2,3 milhões. O setor de reservas tem fila de espera. A pousada fica numa área de 1,5 mil metros quadrados e conta com oito quartos. Em abril do ano passado, a empreendedora lançou a franquia da Villa Ayê. A primeira unidade será inaugurada em Campos do Jordão (SP).
Plataforma
Estável
– 3,5% foi a queda de acessos a plataformas em 2024, comparada a 2023, com retomada nos últimos meses do ano, segundo a Similarweb
Conexão total
Elas possibilitam acesso rápido e preciso a informações para planejar viagens de maneira mais eficiente, comparar preços, consultar avaliações de outros viajantes, fazer reservas e definir quais experiências serão vivenciadas nos destinos. As cem principais plataformas que atuam no Brasil registraram um total de 3,4 bilhões de acessos, queda de 3,5% em relação ao ano anterior, segundo levantamento da Similarweb, especializada em inteligência de mercado digital.
Os líderes em tráfego desse setor são Booking, com 36 milhões de visitas (12,7% do total); Uber, 21,4 milhões (7,5%); Latam Airlines, 19,6 milhões (6,9%); e Airbnb, 15,5 milhões (5,9%). “Cada vez mais, elas precisarão investir em novas tecnologias, pois vão transformar a experiência da pessoa e otimizar a gestão do negócio”, afirma Guizi, da Anhembi Morumbi.
Do ponto de vista do empreendedor, o uso da inteligência artificial permite criar e personalizar conteúdos, automatizar publicações, segmentar o público a partir da análise de dados demográficos e comportamentais e avaliar o desempenho de campanhas, entre outras vantagens. Para o usuário, isso se traduz em recomendações customizadas, interações mais ágeis, conteúdos relevantes, acesso a ofertas e promoções sob medida e maior facilidade de planejamento, combinando roteiros, tempo de viagem e custos.
Intermediando facilidades

A startup carioca iFriend atua como um marketplace conectando e intermediando guias de turismo, agências de viagens e clientes. Fundada pelos sócios Leonardo Brito, 52 anos; Glauber Portella, 41; e os irmãos gêmeos Diogo e Bruno Leão, 44, seu faturamento quase dobra todos os anos: passou de R$ 6,8 milhões, em 2023, para R$ 10,5 milhões, em 2024, e a previsão é fechar este ano com R$ 20 milhões.
A plataforma recebe cerca de 50 mil acessos por mês. Até agora, o principal foco era o turismo internacional, que responde por 90% das transações, mas o mercado nacional aquecido deve se refletir nas próximas estatísticas. “Fechamos mais parcerias com operadoras que atuam no Brasil para termos uma estratégia local mais agressiva”, conta Brito. “Esperamos crescer cerca de 20% nesse segmento.”
Para garantir um serviço de qualidade, os mais de 10 mil guias cadastrados passam por treinamentos. O empreendedor explica que o comportamento do turista brasileiro mudou bastante após a pandemia: os destinos mais tradicionais, como as praias do Nordeste, estão perdendo espaço para pacotes diferenciados e menos populares e que possibilitam experiências mais imersivas. Ganham mais espaço, diz ele, “alternativas como ecoturismo e viagens que promovem bem-estar, conexão com a religiosidade e contato com comunidades”.
TRANSPORTE
Em alta
– 16% foi o aumento no transporte de passageiros em novembro de 2024, comparado ao mesmo período de 2023, o terceiro mês de crescimento consecutivo, segundo o IBGE
Por ar, terra e água
Seis em cada dez brasileiros realizam pelo menos uma viagem de lazer por ano. Desses, 33% embarcam mais de uma vez, e 22%, três vezes. Os dados são da pesquisa Tendências de Turismo Verão 2025 – Comportamento da População Brasileira, realizada pela Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados, em parceria com o Ministério do Turismo. Chegar até todos esses destinos seria impossível sem a atividade essencial do setor de transporte, que também vem crescendo na esteira do turismo brasileiro.
Um estudo feito pelo Google em parceria com a Offerwise revela que 74% das pessoas que viajaram em 2024 optaram pelo ônibus como meio de transporte, seguido pelo carro próprio, avião, carro alugado, moto, navio ou barco. “Estamos voltando a valorizar o ônibus como meio de transporte para nossas viagens”, diz Machado, da ABAV-RS. Segundo ele, há opções de leitos “mais confortáveis do que a classe executiva dos aviões e com preços mais vantajosos”. Essa preferência é reflexo também da melhoria da qualidade das frotas e das estradas brasileiras.
Para 2025, estima-se que mais de 72 mil voos do exterior desembarquem no Brasil, um aumento de 12,4% em relação a 2024, segundo a ForwardKeys, empresa de análise de dados do setor turístico. No total, serão quase 17 milhões de assentos disponíveis, um crescimento de 11,6%. Apenas em janeiro, cerca de 1,5 milhão de visitantes internacionais entraram no país, no melhor início de ano desde 1970.
Brisa do mar no rosto

A Baía da Traição, no litoral norte da Paraíba, atrai visitantes com suas belezas naturais, a rica história local e a forte presença da cultura indígena. Cerca de 90% do município está situado em território potiguara, tornando a experiência ainda mais autêntica para quem busca conhecer de perto suas tradições.
Para uma imersão mais profunda, contar com um guia especializado faz toda a diferença. É o caso de Wenison Bezerra de Medeiros, 36 anos, mais conhecido como Índio. Em 2021, ele fundou a Índio Viagens e Turismo, empresa que oferece transporte e passeios em buggys e carros particulares, proporcionando aos visitantes uma vivência mais completa na região.
Os passeios custam em média R$ 450 para quatro pessoas. “Além de contar nossa história e levar os turistas a aldeias indígenas, mostro as falésias, os nossos rios e como o artesanato local é feito”, diz ele, que é filho de mãe indígena e pai sertanejo.
A maioria dos seus clientes contrata passeios de buggy, que dão um certo ar de aventura. Há famílias, no entanto, que preferem os carros: “São mais exigentes, não querem tomar tanto sol e preferem o ar-condicionado em vez de sentir a brisa no rosto”, diz. Por esse motivo, ele diz ter investido R$ 160 mil nas duas opções de veículos. Para atrair turistas, Índio faz parcerias com hotéis e pousadas. Desde o início, já atendeu 4 mil pessoas. Em 2024, registrou um crescimento de 30% na demanda pelos seus serviços.