Um ambiente psicologicamente seguro é o que pode assegurar altos níveis de felicidade no trabalho, de acordo com Sergio Sampaio, vice-presidente de operações no Grupo Boticário. O executivo compartilhou as estratégias da empresa durante o Gramado Summit, evento de empreendedorismo que aconteceu em Gramado (RS) até esta sexta-feira (12/4).
De acordo com ele, um ambiente psicologicamente seguro é o que permite que as pessoas sejam elas mesmas, expressem suas opiniões, compartilhem ideias sem medo de serem julgadas ou retaliadas e tenham suas atitudes valorizadas. Tudo isso começa pela construção de confiança na própria empresa.
“A base para a felicidade é confiar onde se está. Com isso, abre-se espaço para a vulnerabilidade: poder expor o que não se sabe, pedir ajuda, expor erros e fraquezas. Precisamos ter esse ambiente dentro das empresas”, afirma.
Sampaio defende que investir na felicidade no trabalho é algo tangível, que traz resultados práticos para a empresa, como redução de turnover e absenteísmo, e aumento no engajamento. “Empresa e pessoas é um equilíbrio entre razão e emoção. Entre o 0 e o 100 existem muitos números, incluindo o 50”, diz.
O Grupo Boticário tem cerca de 20 mil funcionários, que trabalham em 12 grandes marcas, como O Boticário, Eudora, Quem Disse, Berenice?, Truss e Vult, entre outras. De acordo com Sampaio, o nível de engajamento atingido no último ano foi de 90%, um crescimento de 17% em relação à última edição. Os resultados financeiros também foram acima da média em 2023: a empresa cresceu 30,5%, faturando R$ 30,8 bilhões em vendas.
Sampaio enumera os quatro principais elementos para iniciar a construição de um ambiente saudável:
- Lado luz e sombra: todos buscam acertar a maior parte das decisões tomadas na vida, mas nem todas são perfeitas.
- Ampliar o olhar: “É preciso tirar a visão individual do que é felicidade, discutir com o time e perguntar o que cada um considera um ambiente de trabalho feliz”.
- Sempre terá alguém contra: Sampaio comenta que nenhuma estratégia agradará a todos os funcionários, alguém sempre não ficará totalmente satisfeito, ou tentará matar o processo antes de começar.
- Erros e acertos: a construção de um ambiente psicologicamente seguro precisa estar em constante modificação. O processo se transforma com o tempo, assim como as pessoas.
No Grupo Boticário, a iniciativa foi aplicada da seguinte forma:
- Conscientização: educação de líderes e equipes sobre o que é segurança psicológica no trabalho;
- Avaliação com liderança: após colher informações e anseios das equipes, foram traçados planos de ação com os líderes;
- Acompanhamento: O Grupo Boticário se reúne a cada 15 dias para analisar como está o nível de satisfação dos funcionários com a companhia. Todos os colaboradores são convidados a responder pesquisas semanais;
- Capacitação: os funcionários passam por treinamentos sobre o processo e são convidados a fazer parte do movimento;
- Benefícios: políticas de benefícios corporativos foram adaptados ao processo;
- Medição: foram implementados mecanismos para identificar se o processo está dando certo ou se precisa se ajustes.
8 atitudes para tornar o ambiente de trabalho mais feliz
- Escolha consciente: A felicidade no trabalho, assim como na vida pessoal, é uma construção, não é um ocorrido.
- Jornada sem fim: a empresa vai errar e acertar, mas o importante é nunca parar de evoluir.
- Celebre cada etapa do processo: não guarde as comemorações apenas para o sucesso ou atingimento de resultado. Isso vale também para as conquistas da empresa, como um todo.
- Micrometas: todos esses passos precisam ser inseridos aos poucos. “Estabelecer metas de felicidade na empresa é uma melhora contínua. É melhor ser 1% por dia, que daqui a 100 dias melhorou 100%, do que tentar fazer tudo ao mesmo tempo de forma artificial”, diz Sampaio.
- Contenção cognitiva: quando o líder estiver prestes a estourar, deve respirar e buscar mecanismos para controlar os impulsos. Se necessário, peça que alguém o ajude.
- Represente: não finja estar feliz para agradar outras pessoas na empresa, mostre quando estiver, de fato, feliz
- Complacência: seja complacente consigo mesmo. “Não busque constantemente aprovação de todos. Valorize as próprias realizações e se autoparabenize. A gente procura a toda a hora alguém nos dizendo se estamos bem ou mal. É lógico que isso dá um guia, mas o mais importante é se autovalorizar e saber quando errou ou acertou”, afirma.
- Faça micropausas: a cada 50 minutos de trabalho, pare por dez minutos. Isso ajuda a se manter mais saudável mentalmente e a tomar decisões melhores.
Sampaio ressalta que a felicidade no trabalho, assim como na vida pessoal, é uma construção. “Se eu não acreditar, fizer ‘só para inglês ver’, não adianta. É um tema emocional, e tudo que é emocional exige uma genuinidade nas pessoas”. Também é importante que o trabalho não seja a única fonte de satisfação na vida de uma pessoa. “Sua principal empresa é você próprio.”
* O jornalista viajou a convite do Gramado Summit