Abrir o próprio negócio, começar a fazer exercícios, iniciar um novo curso. Estas e outras metas costumam estar listadas nas tradicionais promessas pessoais de fim de ano, a cada Réveillon. O período, que envolve sentimentos de esperança e de desejo por dias melhores, costuma motivar a maior parte desses objetivos. Porém, é comum que parte deles acabe se perdendo com o passar dos meses, sem se tornar algo concreto.
Mas, por qual motivo os planos do Ano Novo acabam sendo abandonados no meio do caminho? A resposta pode estar na neurociência. De acordo com a neurocientista Thaís Gameiro, doutora em neurociência pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e sócia da consultoria de neurociência organizacional Nêmesis, os objetivos pessoais ou profissionais normalmente envolvem a adoção de novos comportamentos e de esforços no presente para resultados que só serão alcançados no longo prazo. Como a capacidade do ser humano em enxergar os benefícios futuros é mais limitada, é difícil que ele mantenha a persistência.
Gestão de pessoas:
O fenômeno, segundo a especialista, é conhecido como viés do presente. “Somos mais sensíveis a recompensas e respostas imediatas, mais tangíveis e fáceis de serem percebidas pelo cérebro como algo concreto”, explica Gameiro. “Quando precisamos enxergar benefícios que só ocorrem no futuro, ficamos vulneráveis a perder o foco por conta de distrações que oferecem recompensas imediatas, mas que muitas vezes nos afastam da meta desejada.”
Enfrentar o viés do presente parece difícil, mas é totalmente possível, aponta a neurocientista. Se utilizado de forma adequada, o mecanismo pode ser revertido em uma metodologia positiva para favorecer o cumprimento das metas para 2024. O primeiro passo para isto é acertar no planejamento desses objetivos nos próximos dias, dividindo grandes desejos em resoluções de curto prazo, para que possam ser concretizados de forma mais rápida.
Metas curtas, objetivas e mensuráveis ajudam a dar ao cérebro um senso de progresso, afirma Gameiro. “Precisamos de feedback imediato para ajustar nosso comportamento e tomada de decisão. Sem feedback, o cérebro fica perdido e acaba tomando atitudes mais impulsivas. Por isso, quando definimos metas mais simples, temos a sensação de que estamos conseguindo e que o esforço está sendo recompensado”.
Além de redefinir o formato das metas, outras atitudes podem ajudar a tornar concretos os planos para o fim de ano. Confira as cinco orientações da especialista:
1. Entenda qual mudança você realmente deseja
De acordo com Gameiro, estabelecer uma conexão com motivações reais é um grande passo para criar metas com maiores chances de sucesso. Não adianta elaborar uma lista padrão com diversos objetivos e esquecer o que realmente motiva o ser humano a mudar, diz.
2. Perceba que ‘menos é mais’
Criar uma lista muito diversa e com muitos itens pode distrair o foco e tornar mais difícil a tomada de decisão. Por isso, é aconselhável a escolha de uma a três metas prioritárias para investir a energia.
3. Comece pelo simples
A resolução de qualquer objetivo depende da constância. Ações simples são mais fáceis de serem colocadas em prática, pois facilitam a adoção de novos comportamentos e a continuidade deles, aponta a neurocientista. Iniciar pelas metas mais fáceis evita a sensação de paralisia diante de objetivos muito complexos e ajuda a iniciar as mudanças desejadas para o novo ano.
4. Diminua o intervalo entre a intenção e a ação
Para alcançar as metas traçadas, é necessário bem mais do que força de vontade, diz Gameiro. É preciso criar um plano de ação objetivo e definir estratégias com data e metodologia definidas. “Nossos hábitos e gatilhos automáticos são processados de forma rápida por circuitos neurais distintos daqueles onde residem nossas intenções racionais. Sendo assim, para fugir do piloto automático e [não] repetir velhos comportamentos que nos afastam de nossas metas, é importante definir estratégias objetivas”, acrescenta.
5. Reconheça e celebre suas conquistas
Persistir nas resolução de metas envolve também manter a motivação diante delas. E um dos modos de se sentir motivado é celebrar os resultados que foram obtidos após cada tomada de decisão. De acordo com a especialista, esse feedback estimula o sistema cerebral de recompensa e favorece a criação de novos hábitos. Por isso, ela aconselha o reconhecimento de pequenas conquistas, a análise periódica do progresso pessoal e a celebração de cada avanço para reforçar as atitudes que estão contribuindo para o alcance das metas planejadas.