O final de 2024 trouxe movimentações significativas no cenário econômico, criando um ambiente de desafios e oportunidades para os empreendedores. A taxa básica de juros encerrou o ano em 12,25%, gerando um impacto direto no custo do crédito e nos investimentos. O dólar, por sua vez, atingiu patamares acima de R$ 6, pressionando os custos de importação e beneficiando setores exportadores. A regulamentação da reforma tributária foi aprovada, prometendo mudanças importantes na estrutura fiscal que afetarão empresas.
Outro destaque foi o anúncio de que, após cerca de 25 anos de negociações, o acordo entre os líderes do Mercosul e da União Europeia será assinado, criando expectativas de ampliação do comércio e de novas oportunidades de mercado para empresas da região.
Esses temas permanecem relevantes em 2025, exigindo atenção redobrada dos empreendedores. Confira:
Selic
Na última reunião de 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) aumentou a Selic em 1 ponto percentual, com o indicador encerrando o ano em 12,25%. A ata do encontro sinalizou a alta de 1 ponto percentual para as duas primeiras reuniões deste ano, que ocorrerão sob o comando do novo presidente do BC, Gabriel Galípolo. A taxa básica de juros é o parâmetro que os bancos comerciais utilizam para oferecer crédito
“Um ponto percentual de aumento na Selic significa muitos pontos percentuais na ponta, de cerca de 3% a 4% para pessoas jurídicas, e ainda mais para pessoas físicas”, diz Cristina Helena de Mello, professora de economia da PUC-SP, que sugere que os empreendedores façam uma busca no mercado para encontrar melhores condições — mesmo que de bancos de que ele não seja cliente. “Muitas fintechs estão oferecendo produtos novos e interessantes, com recursos mais baratos do que ele está utilizando hoje.”
Outros especialistas consultados por PEGN também recomendam mais conservadorismo para tomar empréstimos. Porém, a expectativa é de que a taxa básica de juros comece a cair. Segundo o Boletim Focus, a previsão da Selic é de 13,5% para 2025, e de 11% para 2026.
Acordo Mercosul-UE
O acordo entre os líderes do Mercosul e da União Europeia, no dia 6 de dezembro, encerrou um processo de negociação de cerca de 25 anos. “Ocorrerá uma grande mudança nas taxações entre os dois blocos, e já fala-se que em torno de 90% dos produtos não terão mais barreiras tarifárias. Ou seja, tudo que exportamos ficará mais barato para eles e tudo que importamos será mais barato para nós”, diz Diego Marconatto, professor de empresas de alto crescimento da Fundação Dom Cabral (FDC). Apesar de os detalhes terem que ser definidos, os negócios podem começar a se planejar.
Para o professor, os setores que tendem a se beneficiar são os que já têm uma atividade exportadora mais extensiva, e que agora terão um ganho maior. Ele cita bens de consumo, como vestuário, calçados, alimentação e bebidas. “Marcas de moda e empresas que vendem produtos típicos brasileiros, como açaí e cachaça, têm uma grande oportunidade em suas mãos. Ao mesmo tempo, os negócios terão que lidar com o aumento da concorrência em solo brasileiro. “Os produtos europeus vendidos aqui serão mais competitivos do que hoje. Mas, em via de regra, a mão de obra lá é mais cara e o câmbio é alto, então os produtos brasileiros continuam tendo uma vantagem”, diz Marconatto.
Uma das sugestões do professor é buscar certificações internacionais que sejam atrativas para o mercado europeu, assim como programas de apoio e capacitação para empresas que querem se preparar para exportar. “O idioma ainda é uma barreira, e o comércio exterior tem seus jargões e particularidades. É preciso ter pessoas capacitadas para entenderem isso. O número de pessoas que falam inglês no Brasil ainda é muito baixo. Então aprender essa língua é um ponto importante”, diz.
Dólar
O dólar disparou no final de 2024 e chegou a patamares acima de R$ 6. A variação do dólar é um tema importante para os empreendedores em 2025, pois impacta diretamente o custo de importações. “Boa parte da tecnologia utilizada, como softwares, licenças e componentes de equipamentos, depende de importação. Com o dólar mais caro, os custos sobem, impactando desde a produção até os combustíveis, cuja conta é dolarizada”, diz Gilberto Braga, professor de Economia do Ibmec-RJ.
O mercado estima que a moeda americana se estabilize em torno de R$ 6,00 em 2025, embora fatores como conflitos internacionais, políticas protecionistas nos Estados Unidos e o cenário fiscal brasileiro tornem as previsões mais incertas. No final de novembro, o Itaú revisou sua projeção para o dólar em 2025, aumentando de R$ 5,20 para R$ 5,70. Seguindo a mesma tendência, o Santander ajustou sua estimativa para R$ 5,80, enquanto o BTG Pactual elevou sua previsão para R$ 6,25.
Políticas protecionistas, como as propostas pelo presidente eleito nos Estados Unidos Donald Trump, podem gerar impactos adicionais no cenário internacional. “Se os Estados Unidos elevarem tarifas de importação, haverá aumento de custos para produtos estrangeiros, inclusive brasileiros. Isso pode dificultar exportações de PMEs brasileiras para o mercado norte-americano”, explica Fábio Pasavento, doutor em economia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e professor da ESPM.
Reforma Tributária
Aprovada em 2023, a reforma tributária passou por intensas discussões de regulamentação durante 2024 até ter a proposta de regulamentação aprovada pela Câmara dos Deputados, no dia 17 de dezembro. A mudança no sistema de impostos começa a valer em 2026 em fase de testes e será aplicada gradativamente em 2027 até 2033.
A Reforma Tributária tem o objetivo de simplificar a maneira como os impostos são cobrados, unificando os impostos federais, estaduais e municipais sobre bens e serviços. O Imposto sobre Valor Agregado (IVA) dual une dois tributos: o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), que entra no lugar do ICMS dos Estados e do ISS dos municípios; e a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), que substitui PIS, Cofins e IPI, que são federais.
Pequenas empresas enquadradas no regime do Simples Nacional, com faturamento anual de até R$ 4,8 milhões, não são obrigadas a migrar para o sistema do IVA. Contudo, elas também não poderão acessar o novo sistema de créditos tributários ao realizar transações de compra ou venda com empresas que adotarem o IVA.
“Como se fala em cobrança apenas no destino e no fim da cumulatividade, a carga tributária aumentaria, caso não haja uma compensação para as empresas optantes do Simples Nacional”, diz José Carlos de Souza Filho, professor da Fia Business School, acrescentando que detalhes da reforma ainda estão sendo discutidos e carecem de regulamentação complementar. Em princípio, o que se tem é a ideia de se fazer um ajuste dos antigos tributos para os atuais, sem alteração no ônus tributário. Mas as alterações começariam em 2027, sendo concluída em 2033. Portanto, ainda é um pouco cedo para alguma medida preventiva.”
A reforma também criou a figura dos “nanoempreendedores”, que têm renda anual inferior a R$ 40,5 mil por ano. Entre os benefícios estão: não ser necessário nenhum tipo de cadastro ou inscrição, isenção da cobrança de IBS e CBS, e ausência de qualquer outra contribuição obrigatória.